sexta-feira, 28 de maio de 2010

"O LIVRO DE ELI"


O Livro de Eli conta a história de um homem que vaga por 30 anos pela Terra devastada por algum tipo de holocausto nuclear. Ele é responsável por guardar um livro sagrado capaz de redimir os pobres de espírito, confortar os desesperados e inspirar as pessoas. Ao longo de sua viagem, ele encontra um déspota líder de uma cidade no meio do deserto, que é obcecado em encontrar este livro e dominar os sobreviventes de um mundo sem esperança. O que o viajante não esperava, era encontrar a jovem Solara, que passa a o seguir para aprender o que ele faz e mais sobre o livro misterioso.

Os imãos Albert e Allen Hughes não tem culpa das falhas de roteiro. Com uma fotografia espetacular, efeitos especiais sutis e de ótimo gosto, além de uma trilha sonora que exprime todo o desespero e desolação de um holocausto nuclear, eles fizeram bem a tarefa a frente. O conceito de Gary Whitta também não é dos piores, mas quando você pensa que a história vai engatar, ela se perde um pouco, custando valiosos pontos ao filme. Ao contrário de algumas outras super produções, a história visual não conta tudo nesse filme, é preciso um bom roteiro, não só várias frases de efeito e citações bíblicas.

O elenco de atores é um dos melhores de Hollywood em filmes desse gênero. Denzel Washington fez um trabalho bem melhor que Will Smith, mostrando como um sobrevivente de um mundo desolado deve se portar em cena. Os irmãos Hughes se abismaram com as modificações de Denzel em questão de diálogo, preferindo uma atuação sutil, com menos falas, mais mistério e perfeita atuação. Antes de mais nada, não sei se vocês tem noção da dificuldade de atuar com poucas falas. O seu antagonista e contra-ponto não tem defeitos também. Gary Oldman é o típico homem obcecado em sua busca. Sua atuação, pelo contrário, nada de típica. Violento, obstinado e amedrontador do tipo que só “homens comuns” conseguem ser. Destaque para atuação de Mila Kunis, que finalmente consegue um papel de peso dramático em destaque em um filme. E a menção honrosa e grande surpresa do filme fica na verdade para a veterana Jennifer Beals, que até pouco tempo só era a dançarina de Flashdance em passado distante, agora intepreta a mãe cega de Solara. Bela e solene, além de ótima atriz. Totalmente diferente do seu visual em flashdance e alguns aninhos a mais também rs.

O filme não é evangelizador. O foco do filme é fé. As dicas ficam nas falas de Eli,que apesar de ter presenciado o “fim do mundo”, comenta que o próprio livro que carrega ou algum livro parecido podem ter causado a guerra. O foco não é o livro específico em questão, uma Bíblia, edição editada pelo Rei James em versão limitada. O zelo excessivo e os “possíveis” furos do plot ficam mais esclarecidos no final e você ganha todo um novo filme com as revelações que temos. Mas também não é o final surpreendente e sutil que determina o teor do filme, é a fé. Os milagres que ela pode ou não ser capaz também não é o foco do filme. A película tem caráter humano, o que um único homem é capaz de fazer, quando armado com nada além da fé e um pouco de esperança e experiência. Sobrevivência sem a fé em algo, seja Deus, outra pessoa ou até si mesmo, se torna quase impossível. Sem fé, estamos entregues a própria sorte, seria a grande mensagem do filme.

O lado negro da fé também é abordado. A fé não é para os mocinhos ou para os bandidos. A frase de Gary Oldman diz tudo. “Não é um livro, é uma arma”. O livro é tratado como uma arma, usada pelos justos ou pelos vilões, dependendendo da mão que maneja. Por isso o filme não tem tanto um caráter religioso, quanto tem crítico, mesmo assim o roteiro é pouco explorado. A coisa fica massante depois de se repetir o mesmo ciclo de relacionamento pela terceira vez. Os clichês “Clint Eastwood” de faroeste também enjoam rápido. O saldo final do filme é que mais uma vez podemos notar que uma grande história foi desperdiçada no cinema , um filme correto , mas que poderia ser muito mais.

NOTA 3 BOM