domingo, 23 de maio de 2010

"ROBIN HOOD"


Parece-me um pouco equivocada a escolha para o filme Robin Hood de Ridley Scott , ter sido escolhido para abrir o festival de Cannes na França. Não porque eu tenha achado o filme ruim ou monótono, como a maioria da crítica especializada tem falado, mas sim porque narra uma grande e vergonhosa derrota da França, sendo tratada como vilã e déspota o filme inteiro, logo o país que patrocina o Festival. No mínimo foi de mau gosto, mas enfim, vamos ao filme.

Depois de considerável hype e comparações pela clássica dobradinha vista pela última vez em Gladiador. Chega aos cinemas de todo o mundo uma das figuras da mitologia pop mais famosas das últimas décadas. Robin Hood ganha uma repaginada, seja por motivos de melhor acuidade histórica ou só para tentar fugir do clichê, não tem como fazer algumas comparações com a outra obra histórica que ator e diretor criaram juntos com outra equipe “épica”, e assim o filme cai em alguns clichês, mas ainda assim um dos melhores filmes, senão o melhor, do personagem até hoje.

Robin Hood conta a história de Robin Longstride, arqueiro a serviço do Rei Ricardo Coração de Leão na volta das tropas inglesas das cruzadas a Jerusalém. Quando o rei morre e ele se vê em condição de ter que se virar para sobreviver com um pequeno grupo de companheiros, tem no seu caminho o destino de entregar uma espada nas terras de Nottingham para cumprir o último desejo de um moribundo, Robert Loxley. Ao retornar para a Inglaterra, encontra um reino dividido, um sucessor tirano no trono, que prejudica os seus súditos com taxações absurdas e uma parte desse reino que precisa de ajuda para lutar contra as injustiças. Com a ajuda de importantes aliados e se envolvendo cada vez mais pela bela Lady Marion, ele vai descobrindo sobre seu passado e sua vocação para ensinar sobre tirar dos ricos para dar aos pobres.

Ridley Scott ataca novamente. Com capricho talvez ainda maior e efeitos especiais ainda mais discretos e fenomenais, ele privilegia a atuação e a história sempre. Como discutir com tamanho detalhismo na reconstrução de época e toque artístico de superprodução que vai da abertura aos fenomenais créditos finais do filme, que são um show a parte? Nos transportando para meados do milênio passado, nos mostra como era dura a vida na Europa e deixa bem claro visualmente que as coisas mudam, mas continuam as mesmas.

No elenco, o novo Robin Hood é um guerreiro no melhor estilo Russell Crowe de ser. Mais bruto e menos sutil do que nunca, ele está aqui para rachar crânios não como um ex-nobre-ladrão mas como um soldado “aposentado” que volta para o campo de batalha por uma causa nobre. Quase um Rambo. Mas isso tudo foge do clichê Rambo só por conta do elenco de apoio que se sobressai a ele. Um “Coração de Leão” realista interpretado por Danny Huston, um sucessor nojentinho interpretado por Oscar Isaac – muito bem, por sinal – o sempre mentor Max Von Sydow, seus bons colegas que são muitos para listar, o eterno general veterano William Hurt e a melhor e maior atuação de todas, Cate Blanchett como Lady Marion, roubando a cena. Personagem difícil de interpretar, superou todas as expectativas. Mark Strong fez um vilão um pouco inexpressivo, sua repetitividade interpretando seus vilões começa a enjoar, fazendo a mesma cara de mau que fez em Sherlock Holmes.

Em uma bela repaginada, o roteirista Brian Helgeland consegue criar uma história centrada tanto nos personagens e suas histórias quanto na ação. Apenas cai em alguns clichês básicos de filmes de ação, mas que também não podem faltar em uma trama do estilo “Begins”. É o surgimento de um herói e uma lenda, que nos leva a acreditar no que pode provavelmente ser feito para um próximo filme. Aproveitando nomes e fatos que criaram o personagem histórico que até hoje não se pode comprovar se foi fato ou ficção, a narrativa não é tão cansativa de se seguir para um filme de 2 horas e 20, assim como a direção de Scott, que ajuda a construir tudo isso e não ficar uma total chatice.

O filme traça um perfil bem diferente do personagem que estamos acostumados a adorar: Robin continua destemido e valente, mas longe de ser o ladrão famoso que o cinema sempre retratou. E se a ideia era essa - mostrar quem foi Robin antes de se tornar Hood - Scott atingiu seu objetivo perfeitamente.

Abandonando o tradicionalismo, o Sherife interpretado por Matthew MacFadyen é colocado de lado e serve apenas para as tiradas cômicas em momentos do filme. Quem sabe guardado para ser o próximo Coringa? Os clichês e a narrativa aproveitada de Gladiador acaba prejudicando um pouco o filme, mas com certeza não o suficiente para que não recomendemos. Está recomendadíssimo e lembrem-se que a violência no filme pode ser bem gráfica, apesar de bem comedida e nada gratuita.

Robin Hood pode não ser brilhante, mas é entretenimento da melhor qualidade. Parece uma história à moda antiga, grandiosa, bem ao estilo aventura épica. É cinemão puro para agradar a toda família, que traz de quebra o bom e (não tão) velho Russell Crowe em boa forma.


NOTA 4 ÓTIMO