segunda-feira, 23 de agosto de 2010

" O AMOR EM BEVERLY HILLS"


O Amor em Beverly Hills começa como uma comédia romântica padrão, mas não leva muito tempo para que percebamos que o filme se transforma em algo diferente e interessante. Sim , o filme contém a sua quota de envolvimentos românticos e o amor é o motivador de ações para vários personagens na história, mas a estréia dos co-diretores David Ren e Kern Konwiser aspira a ser mais profunda do que a do conto menino-move-o-possível-e-impossível-para-ficar-com-a-garota. Amor em Beverly Hills é sobre a conexão com as pessoas, a cultura e principalmente o entendimento do seu “eu” interior. Antes do personagem principal amar outra pessoa, ele precisa compreender a si mesmo antes de tudo.

Essa pessoa é Liam Liu (Ken Leung), um aspirante a ator sem a sua identidade cultural resolvida, que passa seus dias em Los Angeles de teste em teste para conseguir um papel na espera para a tão esperada realização profissional. Ele é afastado do seu pai(James Wong), mas depende da mesada que o pai deposita para ele todo mês.

Seu melhor amigo(a) é Adelaide(Hayden Panettiere), uma linda e alegre adolescente que ele por acaso encontra num dia no ônibus, ela rapidamente passa a se convencer que os dois são um casal, mas ele já não tem lá tanta certeza disso. A diferença de idade entre os dois que é de 12 anos assusta Liam, mas não tanto quanto o pensamento de tornar-se emocionalmente íntimo de outra pessoa. Para Liam, o sexo é uma coisa muito solitária, ele nunca se sente mais sozinho quando está deitado com uma mulher.

Sua vida muda de rumo quando ele inesperadamente herda uma casa em Xangai deixada pela sua avó que nem ao menos ele tinha conhecido. Ele viaja para a China para vender a casa, mas quando o acordo para a venda da casa entra em colapso, ele percebe que precisa fazer algo de diferente na sua vida.

É quando ele conhece e se apaixona por Micki ( Kelly Hu), uma bela e sofisticada mulher chinesa, a qual o impacto é tão grande, que ele decide jogar tudo para o alto e começar uma nova vida em Xangai. Mas ele logo descobre que a verdadeira natureza de sua identidade não é tão fácil de ser descoberta. Nos Estados Unidos, sua aparência asiática é a sua característica essencial. Na China, a sua atitude e jeito americano define ele. Para encontrar a si mesmo, ele deve fazer as pazes com ambos aspectos de quem ele é.

Para David Ren, isto é obviamente uma história pessoal, enfatizando a regra de que os cineastas de primeira viagem estão em sua melhor forma quando fazem algo que vem do coração. O roteiro é bem escrito e evita erros comuns , não há complicações românticas artificiais e sem cenas constrangedoras em que as pessoas saem do personagem apenas para fazer rir. O filme tem algumas cenas cuidadosamente observadas: amigo de Liam (Joel Moore), ficando abatido depois de ter a coragem de abordar uma mulher, Liam escondendo as lágrimas após o sexo, e sua rejeição sutil de tentativas de Adelaide em contato íntimo ( não permitindo que ela beije-o na boca). Xangai é belamente fotografada, capturando não apenas o seu brilho, mas a sua energia incansável. Nova York não é a única cidade que nunca dorme.

Ken Leung é um ator veterano , já tendo participado em diversas produções , incluindo participação em X-Men 3, mas nunca teve um papel de destaque como esse, no qual ele é protagonista, sua atuação é muito boa, ora fazendo o personagem rabujento , ora fazendo o simpático de bom coração, mostrando também ter um ótimo timing para a comédia.

Eu não estou por dentro dos orçamentos dos filmes, mas Amor em Beverly Hills, que por sinal tem um péssimo título traduzido do original “Shanghai Kiss”, tem um olhar profissional que não se encontra nos filmes independentes que são lançados direto para vídeo. Ele também tem muito mais coração e cérebro do que várias grandes produções que saem no cinema. Amor em beverly Hills , é uma exceção e com certeza vale a conferida.

NOTA 4 ÓTIMO

domingo, 22 de agosto de 2010

" SALT"


Angelina Jolie tentou estabelecer sua imagem de heroína de ação com fitas como os dois “Lara Croft – Tomb Raider” e o filme de assalto “60 Segundos”, mas, a despeito de seu carisma, tais produções simplesmente não empolgavam muito. Daí veio romântica de ação “Sr. e Sra. Smith” e o eficiente “O Procurado” que finalmente cimentaram Jolie neste mundo tão masculino.

Depois das desastrosas adaptações de “Tomb Raider” para as telas, este “Salt” é a primeira vez que a atriz assume a posição de protagonista absoluta de uma fita de ação.


Dirigido pelo australiano Phillip Noyce,Salt é um filme de espionagem à moda antiga, contando até com uma boa e velha ameaça soviética, bem no viés dos filmes de Jack Ryan comandados pelo cineasta nos anos 1990.


Escrito por Kurt Wimmer (que cometeu os pavorosos “Código de Conduta” e “Ultravioleta”), o longa acompanha a agente da CIA Evelyn Salt (Jolie), uma espiã americana, casada e prestes a passar para o serviço burocrático que é acusada de ser uma agente infiltrada em uma conspiração soviética para matar o presidente russo em solo americano e desencadear a guerra para acabar com todas as guerras, sendo caçada por seus pares, incluindo seu melhor amigo, o agente Ted Winter (Liev Schreiber) e do implacável agente de contra-inteligência Peabody (Chiwetel Ejiofor).


E é só isso que pode ser dito sobre o filme sem entregar suas diversas viradas, que deixam o espectador interessado na trama. Aliás, um dos grandes méritos do filme é nos manter no escuro quanto aos pensamentos e intenções de sua protagonista.

Desde o início, quando o longa exibe seu letreiro inicial, o título nos é mostrado em duas fontes, uma mais comum e outra que nos remete diretamente ao construtivismo soviético. O roteiro de Wimmer tem essa interessante ideia de não jogar na cara do espectador quais são as verdadeiras intenções de Salt, nos colocando na posição de torcer por uma protagonista que pode, de fato, ser a vilã do filme.

É nisso que esta fita se diferencia de outras como “O Fugitivo”, uma de suas inspirações mais óbvias, na qual sabemos desde logo da inocência de seu protagonista. Além disso, o fato de contar com atores de calibre como Liev Schreiber e Chiwetel Ejiofor como antagonistas da personagem de Jolie contribui para que fiquemos antenados nos dois lados da caçada.


As cenas de ação são retratadas pelas câmeras da produção de maneira bastante compreensível, qualidade rara hoje em dia. Na maioria das sequências, não há um emprego absurdo de computação gráfica, algo também espantoso. A única exceção é uma perseguição que ocorre no fosso de um elevador, na qual os efeitos digitais surgem tão óbvios que chegam a doer nos olhos, se tratando (ainda bem) de uma exceção.

Angelina Jolie está bela e dúbia na fita, sendo uma perfeita heroína do gênero. Se o filme consegue convencer em suas diversas ambiguidades é justamente por conta de Jolie, que nos deixa atordoados com suas declarações desesperadas de inocência, ao mesmo tempo em que seus atos apontam para uma direção completamente oposta.

Vale ressaltar que, como todo filme de ação estrelado por mulheres, temos um certo apelo fetichista, algo escancarado pela cena em que Salt usa uma calcinha para cobrir uma câmera e pelo subsequente close nas pernas da protagonista quando esta se esconde dentro de um táxi. Não estou reclamando de um filme que explora a beleza de Angelina Jolie, mas meramente fazendo uma observação.

“Salt” pode não ser o mais original dos filmes, possuindo elementos do já citado “O Fugitivo”, muito da franquia “Bourne” e mais um bom bocado dos livros de Tom Clancy, mas é bastante divertido e pode dar margem para uma série razoável.


NOTA 3 BOM

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

" THE RUNAWAYS"


Com as ótimas performances de Kristen Stewart, Dakota Fanning e Michael Shannon, Filme baseado no livro Neon Angel.The Runaways conta sobre a história de uma banda de rock feita por adolescentes por volta de 1970. Kristen Stewart estrela como Joan Jett e Dakota Fanning é Cherie Currie, Michael Shannon como o excêntrico Kim Fowley, o homem que juntou The Runaways.


Embora com muita discussão The Runaways conta o que realmente aconteceu por volta dos anos 70, como uso de drogas e mostra o que aconteceu com a banda, o que sentiram, será um documentário da época. Stewart e Fanning realmente cantam no filme, e ambas se entregaram na performance.


O filme é de 1975 em Los Angeles, mostrando o que Joan Jett e Cherie Currie passaram em suas vidas.

Jett era uma solitária que tentava descobrir uma maneira de tocar guitarra, quando as mulheres não eram consideradas para serem membros de uma banda de rock. Ao mesmo tempo, Cherie Currie era uma aluna que idolatrava David Bowie e freqüentava os mesmos locais que Jett. Quando Joan Jett sai para um lugar, ela tem a idéia de montar uma banda de rock apenas com garotas e depois de alguns ensaios improvisados e audições, a banda The Runaways nasce.


Quando o grupo está se formando temos algumas cenas impressionantes de Michael Shannon como Kim Fowley. Para ajudar o grupo pronto e seguir caminho de ser uma estrela do rock, Fowley faz as meninas irem a um acampamento onde ensina-lhes notas. Lembre-se na época uma banda de rock só com garotas nunca tinha sido feita e Fowley percebe que ele tem um poder enorme de sucesso em suas mãos. Finalmente a banda sai para a estrada e vemos The Runaways se tornar o grande hit do momento.


A medida que a viagem se desenrola, as adolescentes começam a experimentar drogas, a sexualidade, e como sobreviver como uma banda, Cherie Currie vai longe demais em todos os sentidos.

Novamente, as performances são fantásticas, Kristen Stewart e Dakota Fanning realmente impressionam com seus retratos vivendo como astros do rock, apesar até mesmo da minha ligeira desconfiança.


O que eu realmente gostei no filme é que ele não toma o lado da história de The Runaways. A escritora e diretora Floria Sigismondi pinta um retrato realista de Los Angeles na época de 1975 e o que realmente aconteceu com Joan Jett e Cherie Currie em suas vidas. Veremos como cada um deles viveram e o que os reuniu. E depois que ficou famoso o que fez com que a indústria fonográfica, não fizesse um retrato de julgamento ou condenação. A história tem altos e baixos o suficiente para não precisar forçar a história como alguns cineastas poderiam ter feito.


Outra coisa sobre o filme é que o filme tem um grande elenco de apoio com Scout Taylor – Compton (Lita Ford), Alia Skawkat (Robin) e Stella Maeve (Sandy West), eles estão no segundo plano com apenas algumas cenas. Sigismondi centraliza na relação de Jett, Currie e Fowley.

É claro que Kristen Stewart e Dakota Fanning teriam que reviver a cena que geraram muitos rumores


Sim, o filme tem uma cena dessas, mas é feita com bom gosto. Sigismondi acha necessário mostrar que as duas tiveram uma noite juntas. Mas vai ser muito interessante ver o que os fãs de Crepúsculo vão pensar nesta cena, principalmente os fãs adolescentes de Stewart.

Minha grande questão é o que os pais vão fazer com os filhos que querem ver Kristen Stewart como Joan Jett? Mesmo que o filme não glorifique ou tolera qualquer ação questionável no filme, você vê Kristen Stewart e Dakota Fanning usando drogas, se beijando e andando com roupas nada tradicionais. The Runaways explora uma época diferente.


Em certo ponto o filme declina um pouco de ritmo, mas nada que chegue a estragar totalmente o filme, não é um filme ótimo , muito menos excelente , mas pode ser considerado um filme com um resultado satisfatório.

Vale a conferida, muito mais pela atuação das atrizes principais e quem sabe até mesmo reviver um pouco da época.


NOTA 3 BOM

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

" 2 DIAS EM PARIS"


Há muitos anos vemos Julie Delpy na tela do cinema, uma atriz européia que já participou de várias produções norte-americanas, e dizendo isso não quero parecer redundante já que essa é uma informação muito conhecida sobre a carreira dela, mas apenas mostrar que essa experiência lhe deu segurança suficiente para escrever e dirigir uma história como a de 2 Dias em Paris. Para quem não sabe essa é a primeira vez que Julie dirige um filme, mas ela já escreveu o roteiro de Antes do pôr-do-sol em parceria com Ethan Hawke e Richard Linklater. E falando nessa parceria, esse foi um filme que me agradou muito, tanto pelo ritmo dado à história quanto pelas interpretações, mas também pelos diálogos que fluíam como boas conversas em que o papo vai de problemas globais a historinhas da vida cotidiana.

Em 2007 tivemos também a estréia de Hawke na direção com Um Amor Jovem, e após assistir 2 Dias em Paris a impressão que tive foi a de que Antes do pôr-do-sol foi realmente construído numa mistura entre essas três sensibilidades, Linklater, Delpy e Hawke, já que as primeiras produções individuais dos dois atores trouxeram em si, cada uma a sua maneira, algumas características encontradas nesse projeto conjunto, que na época me passou a impressão de ser um teste de laboratório a respeito de uma idéia ainda em construção, e quem sabe mesmo não foi um aquecimento para Julie e Ethan?

A estrutura da narrativa é simples: todos os conflitos acabam surgindo devido ao choque de posturas entre Marion (Julie Delpy) uma fotógrafa francesa que vive em Nova Iorque, e seu namorado Jack (Adam Goldberg), um americano que é designer de interiores. E o filme é tão "sério" nesse embate travado entre os dois personagens, que logo na primeira aparição do casal isso sutilmente se evidencia através da composição da cena, quando vemos ambos deitados e vestindo camisetas pretas, sendo que a dela traz o desenho de um revólver amarelo apontado na direção do namorado, uma metáfora para o que veremos depois: uma disputa velada, menos para que eles se entendam do que para que um consiga trazer o outro para dentro de seu mundo.

Marion é a narradora e dessa vez eles estão no terreno dela, já que os dois moram juntos em Nova Iorque, o terreno de Jack. É a cidade de Paris, onde moram seus pais e amigos e onde ela conhece a língua, as comidas e as ruas, ou seja, um lugar onde ela entende como as coisas funcionam, os processos, os valores, o humor. E onde Jack está sensivelmente deslocado e inseguro e por não saber falar francês acaba desconfiado que algo possa ser falado a seu respeito, mas não tem a capacidade de compreender o que seria.

A metáfora que Delpy utiliza para evidenciar as diferentes maneiras como cada pessoa reconhece e estabelece suas relações com o mundo vem do fato da personagem ter um problema na retina, como pequenos buracos, que modificam a forma como ela enxerga as coisas. Um problema que foi detectado quando ela ainda era uma criança, sendo confundido por muitos com um tipo de retardamento ou autismo, e ao que sua mãe Anna (Marie Pillet) tratou lhe dando de presente uma câmera Polaroid. Assim ela poderia continuar perdida na observação de coisas pequenas sem necessariamente ficar parada durante horas em frente àquilo, podendo levar consigo uma imagem e observá-la sempre que quisesse. E quando ela nos conta sobre esse problema, termina a narração dizendo: “Sim, todo mundo vê o mundo literalmente diferente”. E ao redor disso que a história gira.

O casal faz um tour pela Europa, incluindo todos os programas clássicos que ela como européia já sabia de cor e conhecia muito bem, mas que para Jack era uma novidade, e de certa forma, inconveniente já que nada parecia de acordo com seus padrões. E antes da volta para os EUA, eles passariam dois dias em Paris. E a história faz da relação dos dois um estereótipo da convivência entre duas pessoas com sensibilidades diferentes. E mesmo tendo como foco um relacionamento amoroso, traz à tona as confusões possíveis numa situação de choque entre culturas, ou seja, utiliza um casal para tratar de várias discussões maiores: política, costumes, manias e vícios presentes em todas as sociedades sem que se saiba necessariamente se há alguém mais certo ou mais errado, mas ainda admitindo que cada um tem suas razões para ser como é, e que mesmo sendo diferentes as pessoas podem encontrar formas de se entender.

O filme é cheio de "coisinhas interessantes", como as piadinhas que Delpy inclui sobre o que há de ruim em ser um francês, os imigrantes em Paris, o machismo e a liberação sexual que vem de muitas décadas atrás. Tem a história de que a mãe de Marion já tenha dormido com Jim Morrison e do seu pai (Albert Delpy, pai da atriz/diretora) servindo coelho com cenouras para Jack.

Adam Goldberg parece tão bem nessa interpretação que não consegue passar desapercebido. Assim como o senhor Delpy rouba a cena em vários momentos e é sinceramente difícil saber se ele estava interpretando ou sendo apenas ele mesmo. Assim como Daniel Brühl (de Bastardos Inglórios) faz uma pontinha na pele de um personagem enigmático que dá conselhos a Jack sobre fast-foods e sobre amor.

Assim como disse de seu amigo Ethan Hawke, Julie Delpy não produziu o melhor filme de todos os tempos, mas foi muito competente na condução de sua história, merecendo uns créditos bônus pelo roteiro e os diálogos espertos e rápidos, estruturando a narrativa no momento presente já que fazia várias referências a discussões atuais, aproveitando para mostrar sua cultura até naquilo que ela menos gosta. O único escorregão foi o de inverter o papel e colocar o americano no papel de bobo, deixando para transformá-lo num personagem mais complexo só no final da trama.

Mas isso seguramente não desmerece o trabalho e graça do filme. Enfim, 2 Dias em Paris tem um ritmo muito agradável e é esperto e sensível, como Julie Delpy parece ser.

NOTA 3 BOM

terça-feira, 17 de agosto de 2010

" A ÚLTIMA MÚSICA"


Nicholas Sparks está ficando acostumado com as adaptações de seus romances para as telonas do cinema. Depois dos sucessos de Um Amor para Recordar (2002), Diário de uma Paixão (2004) e Querido John (2010), agora é a vez deste A Última Música, filme estilo sessão da tarde com aquelas batidas doses de lição de moral (prepare seu lenço, pois algumas lágrimas furtivas poderão vir a rolar) e com uma personagem principal chata como sua intérprete (a musa teen Miley Hannah Montana Cyrus), mas que é salvo pelas brilhantes atuações do pequeno Bobby Coleman e do sempre competente e eterno coadjuvante Greg Kinnear, de Melhor é Impossível (1997) e Pequena Miss Sunshine (2006).

Alguns atores, quando em início de carreira, tomam decisões artisticamente erradas. Uma atitude comum, já que no princípio o essencial é ganhar alguma visibilidade para, assim, ter o direito de optar por bons papéis. Miley Cyrus não está em início de carreira. Seu rosto e sua voz já estão mundialmente conhecidos entre o público teen e a indústria do entretenimento por conta do seriado Hannah Montana. Se formos considerar A Última Música sua primeira passagem real pelo cinema (este “se” é para lembrarmos que um dia houve o filme da telessérie que a tornou famosa), de mau gosto por personagens a atriz também não pode ser acusada. O que não significa, no entanto, que Cyrus esteja pronta; algo que, por sua vez, não queira dizer que o filme seja uma má ideia.


Na história, Miley Cyrus é Ronnie, uma adolescente com alguns problemas que, junto de seu irmão, vai passar o verão com o pai (Greg Kinnear – confortável em cena); este, divorciado da mãe dos garotos. Lá, ela precisa redescobrir os seus valores e “aturar” o amor de um pai que se arrepende amargamente de tê-los deixado. Uma narrativa cuja sinopse não poderia sugerir um sabor diferente do popular água-com-açúcar.


Escrito sob a fórmula básica de um drama fresco e leve (do tipo que até pode ser exibido naSessão da Tarde), A Última Música mescla acontecimentos típicos de roteiros pensados para gerar na tela um conflito familiar entre pais e filhos com as idas e vindas de um romance adolescente com final premeditado. Um ato considerável falho no trabalho com o roteiro, uma vez que compromete parte do desenvolvimento da história por toda a primeira metade do filme. Por vezes, um ou outro acontecimento se insere abruptamente para dar mais energia à trama, mas as conclusões rápidas destes percalços lhes dão ar de minoridades, se elegendo como subtramas que não tiveram fôlego nem para passar do primeiro estágio. Ao menos, poderiam servir como bons nós para fortalecer as ligações entre os personagens envolvidos, caso não fossem sempre direcionados para o casal formado por Miley e Liam Hemsworth que, à certa altura do campeonato, já estavam mais do que solidificados para a plateia.


Com toda uma proposta que indica total indisposição para mudar no futuro, A Última Música evolui e, se atentarmos para os seus motivos, até consegue um álibi para justificar o fraco – ou inexistente – desenvolvimento da primeira metade de projeção (ainda que não seja arrastada ou cansativa). Oras, Miley Cyrus não teria qualquer motivo para protagonizar um drama que não fosse chamar para os cinemas suas fãs adolescentes, cuja faixa etária geralmente não decola dos 13 anos. E, sendo fato consumado que este não é o gênero preferido por esta parcela do público, o mais adequado seria ganhá-lo, fazendo o possível para ele se sentir familiarizado nos primeiros passos da história. O que é devidamente posto em prática. Entram as birras com o pai, o galã descamisado pronto para se apaixonar pela garota novata e esquisita e um andar sempre cabisbaixo e autoprotetor. Conseguiu fazer a relação? As jovens sentadas diante da tela também. Nisto, estão prontas para absorver o que vem em seguida.


Mesmo com as escolhas da direção de Julie Anne Robinson para aliviar a carga emocional em momentos mais duros – para preservar o público a que se destina o filme –, que para os olhares mais exigentes podem significar verdadeiros escorregões, a trama ganha certa densidade. Pequena, mas ainda assim presente. Uma tropeçada apenas para Miley, que se destaca do restante do elenco por sua atuação oscilante. Firme em cenas leves ou em que precisa transmitir a frieza da personagem, a jovem não consegue atingir o grau de emoção necessário para fazer de suas lágrimas menos artificiais, demonstrando uma insegurança que não deve existir (a atriz já declarou estar ciente disto, o que é um ótimo começo). Aliás, a veia mais pulsante neste quesito é bombada pelo pequeno Bobby Coleman, o irmão caçula de Ronnie, muito mais desenvolto e preciso do que o casal principal, se somadas as suas capacidades.


Se A Última Música tem algum grande mérito – e realmente tem – ele não se ilustra em seu roteiro ou na maneira como ele é guiado e interpretado, mas sim no tema sugerido e nos valores plantados ao longo da história, que espelham aquilo que está presente (ou ao menos deveria) fora das telas. É insosso? É. Carente de apuro artístico? A julgar pelos atrativos comerciais em destaque, sem dúvida. Mas é um excelente exemplo de amor saudável, do tipo que não exige provações esdrúxulas e tampouco sustenta sacrifícios de estima e personalidade para concretizar uma relação. O filme consegue equilibrar bem momentos cômicos, românticos e dramáticos. Uma gama variada de emoções passará pelos corações da plateia, mas é bom ter em mente que A Última Música é mais uma adaptação da obra do escritor Nicholas Sparks (Querido John). Essa é a primeira vez que o Manuel Carlos dos best-sellers estadunidenses se envolve ativamente na adapatação de um de seus livros para o cinema. Como é de se esperar, o final dramático e lacrimoso está lá para que seus fãs apreciarem.

NOTA 3 BOM

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

" OS MERCENÁRIOS"


Quem nasceu nos anos 1980 sabe muito bem como um (típico) filme de ação daquela época era feito: sangue, suor, humor macho, frases de efeito e só. Roteiro? Qual seria a utilidade disso, se o negócio é diversão rápida e escapista, de um modo bruto e macho! E é isso que as audiências encontrarão em “Os Mercenários”, fita escrita, produzida, dirigida e protagonizada por um dos ícones máximos do cinema de ação, Sylvester Stallone.

O bom e velho garanhão italiano pode ter feito suas mancadas com relação aos brasileiros após ter filmado parte da fita por aqui, falado algumas barbaridades na Comic-Con sobre o país e (dizem por aí) dado um calote nos profissionais nacionais envolvidos na produção, mas sabe executar seu ofício como ninguém. Stallone reuniu um elenco de sonhos para este canto dos cisnes oitentista e criou um roteiro mínimo para amarrar a porradaria, filmada com maestria.

As sequências de ação, aliás, são recheadas de efeitos práticos e muitas explosões reais. Quando Stallone disse que tinha explodido o país durante as filmagens, ele não estava brincando. É interessante notar que o CG é tão pouco utilizado que, quando surge, causa estranheza, principalmente quando usado para simular sangue. Bom, teria sido melhor usar suco de groselha. As cenas de luta são bastante brutais, explorando bem o background marcial de cada membro do elenco.

Dentre tiroteios e pancadaria, destaco uma perseguição nas selvas que culmina em uma sequência envolvendo um avião e o realmente explosivo clímax da história, em uma batalha que quase parece uma versão idiota e divertida dos primeiros 12 minutos de “O Resgate do Soldado Ryan” na qual deve ter morrido mais soldados anônimos do que em “Comando Para Matar” e“Rambo II – A Missão” juntos.


Ah, ia esquecendo de falar da trama, que mostra um grupo de mercenários, liderado pelo sempre profissional Barney Ross (Stallone) que recebe a incumbência de derrubar um ditador esquerdista de uma ilha do golfo (David Zayas), que está sendo apoiado por um misterioso patrocinador americano (Eric Roberts). Mas, como não poderia deixar de ser, Barney acaba sendo tocado pela bela Sandra (Giselle Itié), o contato local dos mercenários e que guarda uma relação misteriosa para com o mandatário local.

Sly reuniu mestres da ação em todos os níveis. Da “nova geração” temos Jason Statham, astro da franquia “Carga Explosiva” e co-protagonista do filme ao lado do antigo Rocky, sendo o proverbial melhor amigo. Jet Li representa os artistas marciais orientais e recebe muitas piadas sobre seu tamanho, principalmente em sua luta contra o grandalhão sueco Dolph Lundgren, o eterno Ivan Drago, que aqui interpreta um mercenário com problemas psicológicos e de substância de abuso (parece profundo, mas não é).


Em participações menores, temos o grandalhão Terry Crews, cujo maior feito no filme é fazer graça com Jet Li e segurar uma arma do tamanho de uma pessoa e os lutadores profissionais Randy Couture, como um mercenário com “orelha de couve-flor”, e “Stone Cold” Steve Austin, que vive um capanga de vilão silencioso e destruidor chamado apropriadamente de Paine, que protagoniza uma luta brutal ao lado do diretor, devendo ter realizado o sonho de muitos atores por aí que adorariam chutar o traseiro do cara que fica gritando “ação” nos sets.

Mickey Rourke e Eric Roberts completam o elenco masculino sem protagonizar grandes cenas de ação. Enquanto Rourke faz o típico soldado aposentado e tem o que mais se aproxima de um momento dramático na fita, Roberts eleva sua canastrice ao máximo como o típico vilão engravatado e engomadinho. Ainda há de se falar das pontas de dois ícones hollywoodianos, Arnold Schwarzenegger e Bruce Willis, em uma aparição que fará muito marmanjo por aí pular da cadeira feito moleque.

Na ala feminina, a brasileira/mexicana Giselle Itié tem o seu destaque, aparecendo bastante em cena e com um sotaque atroz, e Charisma Carpenter, a eterna Cordelia dos seriados “Buffy – A Caça-Vampiros” e “Angel” pouco tem a fazer como o interesse amoroso de Statham.

Se me perguntarem se este longa funciona como cinema, eu teria de dizer que não. Mas é um espetáculo tão empolgante e divertido que fica difícil ligar para isso. Ação quase que ininterrupta, boas tiradas, uma trilha sonora calcada no rock e uma cena memorável que reúne, no mesmo quadro, os eternos Rambo, Exterminador do Futuro e John McClane fazem de “Os Mercenários” uma fita imperdível para a geração da década perdida e uma das produções mais divertidas do ano.

NOTA 3 BOM

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

" O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA"



Eu gostaria de ter participado dos testes para a escolha do elenco desta refilmagem de O Massacre da Serra Elétrica. Não como candidato, claro, mas como observador. Explico: considerando-se as “habilidades” exibidas pela protagonista, o processo de seleção deve ter avaliado apenas três características: o fôlego da atriz (já que esta passa a maior parte da projeção correndo); seu alcance vocal (os gritos são ainda mais freqüentes que as corridas); e o mais importante – seu corpo. Afinal, a partir de certo momento, o filme parece se converter em uma espécie de concurso “Garota Molhada”, já que Jessica Biel, com uma blusinha branca e justa, é submetida a “banhos” constantes, em determinada cena, o vilão chega a ativar vários extintores de incêndio sem qualquer motivo aparente, a não ser, é claro, o de encharcar a moça, cuja roupa já estava quase seca.

Neste aspecto, O Massacre da Serra Elétrica é um filme brilhante: o corpo de Biel é realmente arrebatador. Pena que, do ponto de vista narrativo, esta refilmagem seja um fracasso retumbante, já que, além não gerar tensão alguma no espectador, ainda torna-se enfadonha a partir de sua metade, limitando-se a acompanhar a perseguição chatíssima protagonizada pelo sádico Leatherface e sua atraente vítima. Contribuindo para a monotonia do longa vem o fato de que seus personagens se resumem aos tipos habituais do gênero: a mocinha ajuizada que não curte drogas e bebidas (ao menos, não tanto quanto os companheiros); o sujeito que não abre mão do baseado; o engraçadinho que insiste em fazer piadinhas sem a menor graça; a garota que só pensa em sexo; e assim por diante. Durante uma viagem, o grupo quase atropela uma jovem que, abalada por algum motivo, entra no veículo apenas para se matar minutos depois. Enquanto tentam relatar o episódio às autoridades locais, os heróis vão parar num casarão assustador e passam a ser perseguidos por uma figura deformada que usa, como arma, uma ameaçadora... (um doce para quem adivinhar).

Assim como ocorria no original, dirigido por Tobe Hooper em 1974, esta nova versão conta com uma narração inicial, que explica tratar-se de uma história “baseada em fatos reais” (o ideal seria levemente – muito levemente – inspirada). Porém, enquanto o filme de Hooper investia numa exposição gradual da situação assustadora vivida pelos protagonistas (e a relação entre estes), aqui o estreante Marcus Nispel parte direto para a ação, investindo pouquíssimo no desenvolvimento dos personagens (a não ser que você considere um anel de casamento como sendo um elemento dramático, e não um clichê preguiçoso). Concentrando-se na mocinha cuja blusa permanece sempre amarrada na altura do umbigo (que nó resistente, aquele!), Nispel não tem a menor paciência para executar uma tarefa fundamental: apresentar a doentia família Hewitt (Sawyer, na primeira versão) ao público.

Encarando Leatherface e seus parentes como uma mera desculpa para dirigir cenas violentas, o diretor parece ignorar que um dos pontos fortes do original residia justamente na revelação assustadora do grau de insanidade dos Hewitt. Até mesmo a direção de arte desta refilmagem abandona a inventividade e, assim, no lugar dos móveis feitos de ossos humanos temos apenas uma casa invadida por porcos e pela sujeira. Já a inesquecível (e incômoda) cena do jantar cede espaço a uma explicação rasa sobre o passado de Leatherface feita por duas mulheres que residem em um trailer.

O resultado é óbvio: quando vemos Leatherface correndo atrás da mocinha com sua barulhenta serra elétrica, não sabemos o bastante sobre o vilão para realmente temê-lo; percebemos apenas que se trata de um sujeito grandalhão e desajeitado cuja família é claramente problemática. Assim, é quase impossível, para o público, deixar de rir com a longa perseguição, que soa excessivamente absurda. Da mesma forma, por mais bela que seja, Jessica Biel jamais consegue transmitir o pânico exibido pela ótima Marilyn Burns no longa de 74.

Marcus Nispel, por sua vez, comete o erro básico de todo diretor estreante e procura exibir sua invencionice por trás das câmeras, chegando a incluir um plano no qual a câmera passa por um buraco de bala na cabeça de um personagem – um movimento que, além de não apresentar justificativa narrativa, ainda diminui o impacto da cena ao escancarar a artificialidade do boneco utilizado para substituir a vítima em questão. E, afinal de contas, por que o diretor utiliza uma iconografia obviamente religiosa ao compor o quadro em que um rapaz aparece pendurado de braços abertos, como num crucifixo, enquanto uma garota ajoelha-se aos seus pés molhados de sangue? Sem possuir significado espiritual algum, este plano soa como uma tentativa barata (e mal-sucedida) de conferir profundidade a um filme raso como um pires.

Empregando uma montagem que se torna frenética e confusa sempre que o vilão se aproxima de suas vítimas, este novo O Massacre da Serra Elétrica é uma triste sombra da versão original.

NOTA 2 REGULAR

" UMA CANÇÃO DE AMOR PARA BOBBY LONG"


Apesar de ter no elenco o astro John Travolta e a estrela em ascensão rápida como um cometa Scarlett Johansson, este Uma Canção de Amor para Bobby Long não é um filme do cinemão americano.

É uma produção independente, que até, parece, teve problemas de falta de grana no meio da produção. O diretor Shainee Gabel, é um jovem da Filadélfia, que tinha só 35 anos e apenas um documentário no currículo, quando fez o filme.

Acho que essas características explicam e justificam as vantagens e as desvantagens do filme.

Uma das vantagens (que, é claro, alguns podem considerar desvantagem) é que, ao contrário de boa parte do que produz o cinemão americano, este filme aqui não focaliza nem a saga de criminosos nem a vida de gente rica, fina, chique, morando em elegantes subúrbios ou belos apartamentos em Manhattan.

Nada disso. Não há charme nem opulência. Aqui o que se vê são desajustados, bêbados, malucos, os drop outs do sonho americano ou que simplesmente não quiseram saber dele.

Uma garota jovem, um tanto perdida na vida, Pursy (o personagem de Scarlett Johansson), vai para Nova Orleans quando a mãe, Lorraine, morre, para tomar posse da casa deixada por ela. A casa, meio em ruínas, num bairro distante, está ocupada por dois vagabundos bêbados decadentes: Bobby Long, um ex-professor de literatura (John Travolta), e Lawson (Gabriel Macht), um de seus ex-alunos preferidos. Os dois dizem a Pursy que Lorraine deixou a casa para os três.

A garota se espanta com esse fato, com a imundície da casa, o desleixo com que tudo ali é tratado, com a quantidade de cachaça que se ingere ali, mas não tendo outra opção na vida, nem dinheiro, nem educação formal que permita encontrar algum bom emprego, vai ficando por ali com aquela dupla de metidos a literatos, tentando limpar um pouco a sujeira e botar um pouco de ordem na bagunça sem fim. A princípio, ela sente uma certa repulsa por aqueles dois, enquanto Bobby Long a vê como uma intrusa desagradável de quem gostaria de se ver livre; como seria de esperar, com o tempo, é claro, vão criando laços afetivos, vão se aproximando.

OK. O personagem de Travolta é mesmo meio clichê do tipo intelectual decadente do Sul, como diz a crítica do AllMovie. Mas Travolta é um belo ator, está ótimo, mesmo falando muita literatice (ou por isso mesmo), e Scarlett Johansson é aquela delícia total de se ver.

O final trará para o espectador algo que àquela altura, já está cansado de saber o que vai ser, embora ao longo do filme um mistério e alguns segredos são mantidos até o final, como exemplo o por que da relação de cumplicidade entre os personagens Bobby e Lawson.

Então, temos um filme que não é memorável, mas que tem alguns encantos, e deixa-se ver agradavelmente.

O diretor e roteirista Shainee Gabel se baseou num romance, Off Magazine Street, que ainda não tinha sido publicado. Interessante é que o filho desse escritor, Grayson Capps, um cantor e compositor, aparece no filme, e a trilha sonora usou várias de suas canções. O som dele é absolutamente perfeito para a atmosfera do filme: são músicas rústicas, rascantes, sujas, lânguidas, irônicas, gostosas mas ao mesmo tempo amargas.

NOTA 2 REGULAR

" ANNA E O REI"


Depois de ter sido proibido na Tailândia, Anna e o Rei apresenta a nova versão para a história de Anna Leonowens (interpretada por Jodie Foster), uma inglesa viúva que chega a Bangkok, capital do Sião, em 1862, com seu filho, Louis (Tom Felton), para trabalhar como professora dos vários filhos do Rei Mongkut(Chow Yun Fat).

Baseado em fatos reais, Anna e oRei traz uma produção de grandiosos sets de filmagem, com belas locações e ricos cenários. Numa atmosfera verdadeira e realista, a história explora as diferenças entre as duas culturas, enaltecendo o feminismo de Anna pouco convencional para a época frente ao grande soberano do reino asiático.

A história já teve duas adaptações para o cinema. A primeira, de 1946, foi Ana e o Rei do Sião, com Irene Dunne e Rex Harrison. A outra é a clássica O Rei e Eu (1956), de Walter Lang. Esta última é um musical com partituras de Rodgers & Hammerstein (A Noviça Rebelde), e atuações de Deboral Kerr e Yul Brynner (Oscar de melhor ator).

Esta versão mais recente da obra, tomou rumos mais sérios e históricos que as anteriores, como no caso do musical O Rei e Eu, um dos clássicos do cinema hollywoodiano dos anos 50. O conto de fadas transformou-se num drama mais realista e convencional.

Foster, que aparece com sotaque britânico, é uma mulher forte, decidida, e teimosa. Suas qualidades e defeitos causam certo fascínio em Mongkut. Este, por sua vez, também consegue arrancar admiração de Foster por seu comportamento carismático e compreensivo. Os dois mantêm os sentimentos contidos durante toda a trama, ressaltando o respeito e impossibilidade de envolvimento numa atmosfera tão contraditória.

O que no início apresentava certo preconceito cultural e ideológico, transforma-se, com o passar do tempo, numa relação de amizade e amor.

O governo Tailandês não permitiu que o filme fosse realizado no país. Segundo Prasit Damrongchai, Presidente da Comissão de Cinema do GovernoTailandês, havia a intenção de aceitar a produção em função do benefício financeiro que esta traria para o país, mas como a Monarquia tem papel fundamental no filme, decidiram que não valeria a pena.

A solução encontrada foi buscar uma nova locação que acabou sendo a Malásia. A criação dos cenários foi intensa e minusciosa para construir um palácio que desse a sensação de um local rico e exótico. Este foi o maior cenário já construído para um filme desde Cleópatra.

A atriz chinesa Bai Ling (Justiça Vermelha) interpreta Tuptim, uma concubina do rei que abdica de sua posição real para lutar por seu verdadeiro amor, resultando em trágicas consequências.

A força das mulheres é bem marcada e realça grandes personalidades. Uma das causas do governo tailandês não ter aceito a versão da história sobre o soberano é o fato de Anna aparecer com a mesma importância que o Rei Mongkut, enfrentando-o de igual para igual.

NOTA 4 ÓTIMO

" O DIÁRIO DE UMA BABÁ"


O Diário de uma Babá critica, de forma divertida, a questão do tratamento impessoal que os pais modernos super ocupados ou simplesmente irresponsáveis dão a seus filhos: quem cuida deles é a babá, a professora da creche ou a vizinha. Embora o filme foque na classe alta de Nova York, a mesma moral da história vale para qualquer um desses grupos de pais que têm filhos mas não sabem exatamente o que fazer com eles. A mensagem é bastante óbvia, e se ela não for boa o suficiente para você considerar assistir ao filme, este ainda funciona como um romance ligeiro. Bem, mesmo aí as coisas não são exatamente brilhantes, mas esta nova versão para a conhecida história de Mary Poppins é bonitinha e serve como passatempo despretensioso.

É um filme sobre auto-descoberta também, sobre definir o que fazer da vida, escolher entre a paixão ou a razão. Nesse sentido e nos outros já apresentados acima, o conjunto de lições apresentados pelo roteiro escrito pelos dois diretores a partir de um romance é bastante completo e abrangente, mas o maior pecado do filme é o de ser, em todos os aspectos que aborda, bastante superficial. Sua maior virtude, portanto (a de ser um filme despretensioso) é seu maior problema: tentando agradar a muitos públicos e tentando ofender o menos possível, O Diário de uma Babá merece lugar tímido nas prateleiras, ao lado de tantas outras comédias do seu estilo.

Scarlett Johansson faz aqui um papel mais normal, sem apelar em nada para sua sensualidade (já que a garota é uma das preferidas pelo público masculino atualmente). Faz aqui mais o tipo moça atrapalhada e de bom coração, tão bom que é difícil alguém não simpatizar com ela. O filme também tem Paul Giamatti como o pai de família que não se importa com sua família (a velha história) e a mãe (Laura Linney), perua, que acha que deve se virar para deixar a família de pé, mas que talvez seja a principal culpada pela crise familiar, por ser medíocre como pessoa, ao aceitar os fatos como eles são. O casal, de tão genérico e artificial, é chamado de “X” pelo roteiro. Acredito que esse seja o ponto mais inteligente do roteiro todo. No final, claro, todos (ou pelo menos alguns) ganharão nomes próprios por terem encontrado “o caminho certo” em suas vidas. Típico!

A favor do filme é o fato dele ser bastante divertido. Recheado de momentos pequenos e simples (a maioria deles já estava no trailer), a atuação de Johansson é bastante meiga e seu par amoroso interpretado por Chris Evans está lá para enfeitar a tela para as garotas que assistem ao filme, mas seu papel é fácil e o ator não tem chances de estragar nada. O garoto mimado e quase totalmente ignorado pelos pais (o nome do ator é Nicholas Art) também consegue promover simpatia, pois logo percebemos que sua arrogância não tem origem em si mesmo, e sim é proveniente da falta de atenção da mãe, que pouco se importa com o menino além da parte material. No final das contas, já nos minutos iniciais, é possível perceber onde tudo vai terminar, mas o filme é bem amarrado e consegue prender os espectadores que ainda não estiverem cheios de comédias românticas urbanas provindas dos Estados Unidos. Essa aqui é uma delas, bem típica.

O Diário de uma Babá é limitado desde seu roteiro até seu estilo, dirigido por pessoas inexperientes mas com nomes fortes no elenco que compensam pelo menos um pouquinho esse detalhe. A tentativa de abordar diversos temas educação infantil, diferença entre classes, descoberta do mundo adulto é válida e até certo ponto satisfatória se não esperarmos respostas definitivas do filme. Trate esses temas como um pano de fundo de uma história divertida dentro de um filme despretensioso e creio que não haverá motivos para reclamar de muita coisa. Sinceramente, escrever sobre um filme assim é bastante complicado, sinto como se estivesse indo e vindo dentro do texto e nunca, de fato, avançasse para algum ponto relevante, pois o filme simplesmente não é bom o suficiente para isso. Divertido, mas bastante ordinário.

NOTA 2 REGULAR