quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"WALL STREET O DINHEIRO NUNCA DORME"


A ganância é uma coisa boa? A questão é relevante, pois afinal é ela (a ganância) que faz o governo de um país procurar melhorias para seu povo, que faz o homem comum evoluir como ser humano, que incentiva você a não ficar parado no mesmo lugar. O maior problema é a linha tênue entre a ganância e a falta de ética e moral, duas virtudes que parecem não existir na cartilha dos investidores milionários.

Quem já assistiu a “Wall Street: Poder e Cobiça”, viu uma das melhores atuações de Michael Douglas, que na época levou o Oscar para casa. O personagem Gordon Gekko é ironicamente cativante, com sua índole desprezível e sua lábia sociopata. Mas ele pagou o preço por suas fraudes e lavagens de dinheiro, e acabou preso, servindo de exemplo para os capitalistas selvagens que transitam em seus helicópteros por Nova York. Apenas em 2001 ele foi solto, sem muito dinheiro no bolso, barba por fazer e um celular último modelo de 1987, pesando dois quilos no mínimo.

Avançando no tempo, mais precisamente em 2008, somos apresentados a Jake Moore (Shia Labeouf), jovem estereótipo de Wall Street que, apesar de sua vontade de fazer fortuna, é um idealista dos investimentos em energia limpa e sustentável, atitude que talvez seja o único motivo plausível do envolvimento com Winnie (Carey Mulligan), filha de Gekko, que despreza o pai e tudo que o rodeia. Ela, também uma idealista, trabalha fortemente com seu site ativista, divulgando verdades inconvenientes mundo afora.

Jake trabalha apostando em mercados financeiros na renomada Keller Zabel, que aparentemente passa por uma crise. Como o mercado não aposta em investimentos ”aparentemente” confiáveis, o preço das ações da empresa despenca e Lois Zabel (Frank Langella), que comanda toda a bagunça, se reúne com o Banco Central Americano para tentar manter-se em pé. Dentro de um meio movido por interesses e rinchas antigas, Zabel é praticamente apunhalado na reunião, tendo sua empresa comprada por seu inimigo Bretton James (Josh Brolin), do banco de investimentos Churcill Schwartz, a preço de banana.

Gekko sabe tudo que se passa por trás da economia, entre problemas e falcatruas, apunhaladas e chantagens, e Jake, como pupilo de Zabel, quer ir a fundo no assunto e descobrir o que aconteceu realmente. Ele então se aproxima do sogro em busca de “consultoria” e em troca promete tentar aproximar Gekko de sua filha. Uma troca “aparentemente” segura.

Entre muitas informações que estouram como “bolhas”, “Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” é um bom filme. Usando como pano de fundo toda a agressividade velada de Wall Street, o roteiro conta a história de um homem que busca sua redenção, tentando voltar aos negócios e se aproximar de sua única filha, que o odeia e o culpa pela morte do irmão, viciado em drogas. É claro que Gekko mudou, mas não o suficiente, para nosso alívio.

Oliver Stone dirige esta sequência com muita atenção aos detalhes, fazendo ligações diretas ao seu primeiro filme, fato que pode ser observado já na abertura dos créditos. O destaque vai com certeza para a edição contemporânea e criativa, que traz os colossais prédios de Nova York formando gráficos financeiros, e por aí vai.

Utilizando do humor de forma inteligente, a obra também é recheada de referências, como a participação de Bud Fox, interpretado por Charlie Sheen. Só de aparecer o público já cai na gargalhada, pois o ator mais parece estar a caminho de filmar algum episódio de “Two and a Half Man”, com um sorriso sacana no rosto, acompanhado de duas lindas garotas.

Um dos pontos que deixa a desejar é o drama entre o pai Gekko e a filha Winnie. Carey Mulligan, que já provou ser uma excelente atriz com sua interpretação em “Educação”, parece meio desconfortável no papel da ressentida filha, que odeia, mas se rende facilmente aos argumentos do pai, sendo que no final sua personalidade parece forçada e seu texto também não ajuda. O resto do elenco se sai bem melhor. Shia Labeouf, que ainda paga o preço de ter vendido sua alma ao Michael Bay, é um bom ator, que trabalha com humildade seu Jake Moore, não entregando um rapaz sabe-tudo e arrogante, inteligente sim, mais ainda com muito a apreender.

Michael Douglas não consegue repetir o êxito total de seu primeiro Gekko, mas com um personagem desses fica difícil errar. Talvez Douglas tenha ficado menos inescrupuloso com o passar dos anos, assim como seu personagem, mas no geral, suas tramóias continuam dignas de mestre. Temos ainda Josh Brolin como Bretton James. O ator, que já trabalhou com Stone em“W.” (obra que ainda não deu as caras no Brasil), está muito bem e mostra confiança como um perfeito cretino engravatado. Destaque para Frank Langella com sua pequena e excelente participação como Lois Zabel. Susan Sarandon também aparece como a mãe de Jake, mas a personagem acaba sendo pouquíssimo explorada.

“Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme” não supera seu antecessor, mas funciona. Com uma trama elaborada, que traz a bolha financeira como personagem importante, o filme derrapa no drama, mas convence na dinâmica e fluidez do enredo geral. Com boas interpretações, uma direção segura e edição competente, a obra agrada , e é um prato cheio aos interessados pelo tema. A ganância é uma coisa boa? Assista e tire suas conclusões.

NOTA 3 BOM

"HOMENS EM FÚRIA"


Em seu trabalho anterior com Edward Norton, o diretor John Curran entregou o romance chamado “O Despertar de Uma Paixão”. Repetindo a parceria com o ator, Curran apresenta ao público este “Homens em Fúria”, fita que tenciona ser uma parábola sobre o direito que temos de julgar os outros, mas acaba sendo engolido por suas próprias pretensões.

O personagem principal é Jack (Robert De Niro), agente penitenciário cuja função é avaliar o comportamento dos presos e recomendá-los ou não para condicional. O público já é levado a sentir asco do protagonista pelo fato do longa mostrá-lo, em sua primeira cena, cometendo um dos piores atos de chantagem que posso conceber. Anos mais tarde, Jack e sua esposa Madelyn (Frances Conroy) vivem uma vida miserável, pontuada pelo tédio e pelo desespero silencioso.

Prestes a se aposentar, Jack é designado para avaliar o caso de Stone (Norton), detento acusado de cumplicidade no assassinato dos próprios avós. Desesperado para sair dali, Stone pede para que sua esposa Lucetta (Milla Jovovich) o ajude a convencer Jack a lhe dar um parecer favorável. A partir daí, começa um jogo perigoso entre os três, que começam a revelar suas verdadeiras faces.

Jack talvez seja o personagem mais detestável da carreira de Robert De Niro. Ao longo de décadas, vimos o veterano ator encarnar figuras complexas e de moral mais do que duvidosa, como psicopatas, ladrões, assassinos… Mas Jack é um homem extremamente mesquinho e egoísta, que esconde tudo isso por trás de uma fachada de religiosidade, algo que é extremamente corriqueiro, o que o torna, paradoxalmente, ainda mais assustador. Sem dúvida este é o melhor trabalho de Robert De Niro como ator desde sua participação no fantasioso Stardust.

Ao invés de investir nas características palpáveis dos personagens, o roteiro de Angus MacLachlan se perde em psicologia de botequim e retóricas religiosas que simplesmente não chegam a lugar nenhum, retratadas por sequências longas e morosas pelo cineasta John Curran, com o diretor simplesmente não conseguindo imprimir ritmo algum à trama.

Em contrapartida, o elenco está ótimo, com o quarteto de atores entregando performances competentes. Embora o filme pertença a De Niro, Edward Norton também não fica atrás do colega, criando uma persona completa em Stone. Os trejeitos e dicção criados pelo ator para o preso, que se modificam com o passar do tempo, combinam perfeitamente com o personagem, em um soberbo trabalho de caracterização realizado pelo ator. Interpretações de tal calibre, aliás, já são rotina para Norton.

Milla Jovovich surge sedutora e enigmática como nunca, sendo surpreendente o seu trabalho aqui, considerando suas já conhecidas limitações como atriz. Após anos vivendo apenas heroínas de ação, chega a ser incrível ver a bela ucraniana se arriscando em uma figura tão complicada quanto Lucetta que, graças à atriz, possui um ar que lembra as antigas femme fatales.

Frances Conroy tem a tarefa mais complicada da empreitada, conseguindo exprimir todo o desespero de sua personagem mesmo com pouquíssimos diálogos. Em meros momentos, o olhar de sua Madelyn nos revela uma mulher à beira de um precipício, algo que não só é comovente para o público como também nos ajuda a perceber quão nocivo Jack é para aquela pobre pessoa.

É o elenco que consegue fazer com que o longa se sustente. O texto pretensioso de MacLachlan aliado a uma direção pouco inspirada de Curran simplesmente impede que nos aprofundemos naquele mundo e naqueles personagens. Existem alguns momentos fortes, como o assassinato na prisão, mas não há uma coesão entre eles, algo que prenda o espectador na cadeira entre os diálogos tensos entre aqueles personagens.

Curran flerta com o cinema noir em várias sequências, nos poucos momentos em que o filme dá um passo a mais rumo ao espectador, principalmente nas cenas envolvendo Jack e Lucetta. Sem a imersão do público naquele universo, temos apenas atores talentosos em cena representando personagens, que pouco reconhecemos como seres humanos. Um maior investimento na pergunta feita por Stone à Jack (“quem é você para me julgar?”) talvez conseguisse trazer mais humanidade ao filme.

Infelizmente, “Homens em Fúria” desperdiça o ótimo trabalho feito por Norton, De Niro, Jovovich e Conroy em um longa apenas mediano.

NOTA 3 BOM

terça-feira, 26 de outubro de 2010

"MARIA ANTONIETA"


Na trama, Maria Antonieta deixa seu palácio aos quatorze anos para casar-se com o delfim Luís XVI, herdeiro do trono francês. Inexperiente e resguardando a inocência de uma jovem cheia de aspirações para sua vida, Antonieta vê-se em um ambiente de intrigas e chacotas em Versalhes e a não aceitação de uma vida sacal acaba transformando-a em uma vilã para o povo francês, por não saber como lidar com as problemáticas políticas e por ter seus anseios de liberdade e de uma juventude que não se diferencia quase em nada do mundo contemporâneo. Em Versalhes, Antonieta viverá momentos de crise pessoal e mundial, sendo tachada desde frígida a impiedosa. Tendo que aprender a viver em um mundo de reverências e inveja, a jovem passa a conviver com companhias que não agradaram a linhagem real do palácio, desfrutando da luxúria consumista e dos desejos hormonais, já que seu casamento era uma preocupação, pois, quanto mais era forçada a seduzir o rei e gerar um filho, menos Antonieta conseguia colaboração de seu parceiro.

A essência feminista de Coppola está cada vez mais amadurecida. Suas pretensões estão se tornando grandes desafios em sua carreira e certamente a construção de "Maria Antonieta" é uma das mais problemáticas. Depois de seus filmes anteriores como roteirista e diretora, é impossível não perceber que a cineasta tem um feeling muito forte ao ambientar sua história e determinar o que será trabalhado em cena. Coppola ousa de uma forma que muitos cineastas veteranos não se atreveriam a ousar e isso se dá pela segurança e na crença em seu talento. De uma sensibilidade incrível, Coppola traz em "Maria Antonieta" elementos que o transformam em mais um grande filme.

O primeiro ato do longa é um tanto sacal, visto sua evolução posterior. Sempre cheio de reverências e de um estranhamento da protagonista com o novo mundo que teria que enfrentar, poucos seriam capazes de ridicularizar Versalhes e Coppola, além de fazê-lo, retira toda a beleza e encantamento do palácio como um todo. Parece que ali dentro só servem os móveis e as pessoas são meras transeuntes fofoqueiras. Todo o processo de aceitação de Maria Antonieta em sua nova vida e as dificuldades vividas aos quatorze anos, onde as cobranças eram maiores do que uma menina ingênua poderia suportar, são perfeitamente registrados e humanizam a rainha. Vale ressaltar que em nenhum momento Coppola pretende defender a polêmica figura de Antonieta, mas faz um estudo psicológico e comportamental do que é uma adolescente ser forçada a receber o mundo em suas mãos e não saber administrar. É aí que se encontra todo o contexto do longa.

Para muitos, a soberba e a vida que Antonieta resolve viver para não endoidar dentro de um ambiente medíocre, pode até pintá-la como a vilã da história da França. Fato ou mito, a Maria Antonieta de Coppola é apenas uma demonstração do despreparo dos jovens em sua visão de mundo. Na realidade, a rainha não sabia em que contexto estava vivendo, muito menos conhecia as possíveis repercussões mundiais de seus atos nada agradáveis. Regado de uma trilha sonora contemporânea que foi bastante criticada por não se enquadrar no ambiente da época, um pouco de bom senso justifica a escolha. Maria Antonieta é nada menos do que um paralelo ao que os adolescentes são hoje em dia e isso condiz não só pelas aspirações, mas sim pelas cobranças que o sistema impõe e todo o rigor familiar. Esta relação é tão clara que é impossível não deixar de compactuar com as fugas que a personagem estabelece para tentar viver um pouco de sua meninice, como se buscasse uma liberdade retirada de si.

Coppola fez questão de deixar em segundo plano as discussões políticas da época, não por não serem importantes, mas seriam uma forma de desvirtuar a intenção principal de seu roteiro. Daí ela decide inserir a política em poucas passagens no decorrer da vida de Antonieta e principalmente no seu final, que acaba se revelando o melhor momento para fazê-lo. Isso também justifica a escolha de parar a vida da rainha muito antes de ser guilhotinada, como conta a história, pois este fato final não teria relevância, pois não condiz com a essência da história montada por Coppola. A diretora consegue realizar mais um trabalho de destaque, que talvez não agrade a todos pela falta de verossimilhança com os verdadeiros acontecimentos (e boatos) sobre a vida de Antonieta, porém dá um caráter bastante autoral para a personagem.

É preciso um pouco de senso para que a admiração do longa não fique somente na direção de arte, figurino e aspectos técnicos que, realmente estão impecáveis, mas não se limitam a isso. Tudo na trama é bem fundamentado e seria impossível que Coppola não soubesse com clareza o que estava fazendo. Por mais que não seja sua melhor obra (particularmente, acredito que “As Virgens Suicidas” seja sua melhor contribuição ao cinema), “Maria Antonieta” mostra um mundo controverso que gera controvérsia a quem assiste. Se você procura um registro histórico cheio de maneirismos de filmes de época, passe longe. A Maria Antonieta de Coppola mostra seu lado cool, ao som de rock, aspirações, guloseimas e luxo. É um retrato de uma menina que não é tão diferente à nossa juventude atual e tais semelhanças levantam interessantes debates sobre isso.

NOTA 4 ÓTIMO

"A HORA DO PESADELO"


Nos atuais filmes de terror, temos um grau de realismo realmente incrível. Uma garganta cortada com perfeição, sangue verossímil aos montes, um rosto queimado deformado e grotesco. Ao lembrarmos esses mesmos efeitos no passado é impossível não rir, pois eles foram tão ultrapassados, que acabaram envelhecendo muito mal. Apesar disso tudo, “A Hora do Pesadelo” de 1984 é um bom filme. Dirigido por Wes Craven, o longa trazia inovações para o cinema de terror, com elementos pop saltando a tela. Foi um grande sucesso.

As grandes mentes de Hollywood tiveram então a brilhante ideia de refazer a obra. Com certeza uma tarefa ingrata. Tudo que há de brega e ruim no cinema atual de terror foi herdado desses típicos filmes dos anos 80. Na época, nada soava ruim, pois não havia um passado vergonhoso tão contundente para compará-los como nos temos hoje. Não me entendam mal, aqueles filmes são clássicos do terror de sua geração e têm o direito de serem chamados assim, mas não podemos negar que tudo mudou tão drasticamente que eles se tornaram obsoletos como a groselha que tomávamos naqueles tempos. Todos esses elementos bregas que citei, no caso da franquia do cruel Freddy Krueger, eram atenuados por um simples motivo: tudo era um sonho. Coisas absurdas como sair as 3 horas da madrugada para procurar o cachorro eram perdoáveis.

Esta nova versão do longa tenta se utilizar desta “desculpa do sonho” para criar seus momentos de tensão, mas falha. O exagero é tão grande na hora de apresentar o clima de terror que acaba sendo cansativo. Até para acender uma luz qualquer a trilha executa suas notas aterrorizantes. A verdade é que o filme infelizmente passa longe de ser adaptado de forma original.

A história começa nos apresentando um grupo de jovens que andam sonhando com um terrível personagem. Ele é desfigurado e possui facas no lugar dos dedos. Compartilhando estranhamente o mesmo sonho, os garotos percebem que existe uma ligação entre eles, que envolve um antigo acerto de contas entre o estranho Freddy e seus pais.

O filme de Samuel Bayer se utiliza inteligentemente de muitos elementos da obra original, o que mostra certa atenção e respeito para com sua fonte. Outro ponto positivo é a agonia criada mediante a privação de sono. Muito bem trabalhados, estes momentos de exaustão realmente são contundentes. As cenas de violência e mortes também são satisfatórias, mas não se destacam como deveriam.

Apesar do link com o filme original, o roteiro é fraco e trabalha pouco seu personagem principal, que fica fadado a solta frases mixurucas de efeito amoral. Apesar de Jackie Earle Haley ser um ótimo ator e se sair bem com máscaras, aqui ele não tinha Alan Moore escrevendo seu texto. Já o time de atores jovens é todo ruim, sem profundidade, sem relevância nenhuma. O trabalho de câmera tem seus momentos interessantes, algumas cenas bem planejadas, ângulos corretos, mas quase nada que cative a plateia a ponto de levar algo daquilo para casa. Tirando uma cena na banheira e mais uma ou duas mortes, o filme não apresenta nada de novo.

Produzido pelo caçador de tesouros Michael Bay, “A Hora do Pesadelo” consegue se sair melhor do que outro assassino da mesma época, Jason da “Sexta Feira 13” (também produzido por Bay). Enquanto o de Krueger é apenas sem graça, o de Voorhees é tão ruim que chega a dar raiva. Mas tudo que Bay toca vira ouro, uma triste realidade. Se preparem para muitos “Transformers”.

NOTA 2 REGULAR

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

"A EXPERIÊNCIA"


the Experiment é um remake hollywoodiano do longa alemão Das Experiment, dirigido por Paul Scheuring. O filme mostra a história de 26 homens que são recrutados para viverem uma experiência em uma prisão. Alguns serão prisioneiros e outros serão os guardas, o objetivo é examinar como o poder influência as pessoas.

Um grupo de pesquisadores resolve selecionar cobaias humanas para uma mórbida experiência: simular o ambiente de uma penitenciária dividindo os homens em dois grupos, os presos e os carcereiros. Prevendo algumas reações básicas do instinto humano, como as de sobrevivência e de rebelião, os pesquisadores acreditam ter toda a situação sob controle. No entanto, medidas tomadas pelos carcereiros para conquistar a obediência, como humilhações e agressões físicas, tornam a prisão simulada numa bomba-relógio.

é um filme que prende o espectador na cadeira até o último instante. A progressão que parte do controle total ao caos irremediável faz parte daquela curiosidade última das pessoas em ver o circo pegar fogo.

"A Experiência" traz à tona aquele instinto mais primitivo e animalesco do ser humano e a vontade de potência que caracteriza qualquer agrupamento social. Nesta luta pelo poder, poucos são aqueles que podem dizer que lucraram algo e a experiência certamente se converte num fracasso, tanto de uma ciência inescrupulosa como daquilo que se convenciona como moral.

O elo fraco do roteiro é o romance entre o protagonista, personagem de Adrien Brody, e uma mulher que ele conhece numa briga pouco antes de ser encarcerado. As digressões psicológicas do personagem de Adrien Brody destoam completamente naquele ambiente opressor e é possível que a intenção do roteirista fosse a de quebrar a tensão constante da trama. Mesmo assim, o inverossímil romance permanece como um corpo estranho no interior do filme, mas nada que interfira fatalmente no desenrolar da história.

Seguindo uma linha de cinema que transmite até as últimas consequências uma angústia visceral, A Experiência é um filme bem interessante que merece ser conferido.

NOTA 3 BOM

"VOLTANDO A VIVER"


Criado com a mesma intensidade vista em seus melhores trabalhos como ator, a estréia de Denzel Washington como diretor em Voltando a Viver conta uma história verídica e emocionalmente carregada sobre a tenacidade e a redenção de um homem.

A sábia decisão de enxugar a autobiografia Finding Fish, transformando-a numa narrativa empolgante, fez com que o roteiro de Antwone Fisher pudesse ser filmado com mão firme e segura por Denzel Washington, que arranca performances marcantes de dois atores principais novatos. A história focaliza o amadurecimento cheio de tropeços de um jovem recruta na Marinha e a busca por sua verdadeira família.

Dono de um temperamento volátil e um jeito soturno, que o levam a indispor-se com seu oficial comandante (numa cena única com o ator James Brolin, cujo nome não figura nos créditos), o marinheiro Antwone Fisher (Derek Luke) é enviado à base de San Diego para ser avaliado pelo psiquiatra Jerome Davenport (Denzel Washington).

Homem inteligente que estuda japonês e desenha, Fisher é possuído por uma raiva que fervilha constantemente. Em tom de desafio, ele diz a Davenport: "Não tenho problemas", e responde a perguntas sobre sua infância com frases evasivas.

Depois de semanas, a história de Fisher começa a emergir em flashbacks que pontilham a ação principal. Nascido de uma mãe detenta, dois meses depois de seu pai ter sido morto a tiros, o garoto sofreu abusos mentais e físicos horrendos às mãos de sua mãe adotiva temporária, sra. Tate (Novella Nelson), em Cleveland.

Após isso, foi colocado num orfanato e, mais tarde, transferido para um abrigo para sem-tetos, de onde saiu diretamente para alistar-se na Marinha.

De repente, as sessões de terapia que a Marinha impusera ao rapaz chegam ao fim, mas Davenport se vê incapaz de deixar de pensar em seu paciente, brilhante mas sofrido. Ao mesmo tempo, Antwone, que nunca pediu ajuda a ninguém na vida, descobre que a idéia de ver mais uma figura de autoridade o abandonando lhe é insuportável.

Pouco a pouco ele começa a controlar seus demônios internos e, atendendo à recomendação de Davenport e com o apoio de sua namorada, Cheryl (Joy Bryant), parte em busca de sua mãe verdadeira, no Ohio.

O psiquiatra começa a receber Antwone em sua própria família, que também tem problemas, e descobre que a influência dele é benéfica.
Denzel Washington se revela um diretor dotado de estilo narrativo limpo e direto. Um material de carga emocional e inspiradora como este poderia facilmente se degenerar em sentimentalismo, mas a abordagem decididamente sóbria do diretor impede que isso aconteça.

O risco de recorrer a extensas sequências de diálogo se justifica, na medida em que Luke e Bryant (Antwone e sua namorada) atuam com tranquilidade e segurança e o grande elenco de apoio se mostra perfeito.

O próprio Denzel Washington imbui seu personagem, o psiquiatra, do misto ótimo de autoritarismo e modéstia, sabendo ser duro quando Fisher o enfrenta, mas suave e gentil quando necessário.

NOTA 4 ÓTIMO

terça-feira, 19 de outubro de 2010

"PREDADORES"


Nascida no final da década de 80, Predador se tornou uma das franquias mais icônicas do período, em especial por reunir fãs de ficção cientifica, terror e suspense sob uma premissa criativa e, até então, não muito utilizada nos cinemas. Estrelada por nomes como Arnold Schwarzenegger e Danny Glover, mesmo longe das telas o alienígena manteve um grupo fiel de fãs, ampliados por games, quadrinhos e outros produtos.

Trazer o Predador de volta às telas em 2010, portanto, não deixava de ser uma aposta temerosa. Coube a Robert Rodriguez planejar e produzir o retorno dos predadores ao cinema e, felizmente, é possível afirmar ao assistir a produção que, se está longe da qualidade dos seus antecessores, ao menos devolve a dignidade à franquia, resgatando alguns valores que haviam se perdido por completo e abrindo possibilidades para novos projetos.

Dirigido por Ninród Antal - dos poucos significativos Temos Vagas e Assalto ao Carro Blindado – o filme aposta em duas vertentes distintas ao longo da projeção e, em ambas, se comporta de maneira satisfatória. Na primeira metade o foco reside no suspense. Sem muita explicação Royce (Adrien Brody) surge em queda livre no céu. Logo, outros aparecem na mesma situação e, reunidos em uma selva, buscam entender o motivo de terem sido levados para aquele lugar bem como uma maneira de voltar para onde vieram.

Com sequências de caminhadas em meio à mata, discussões e pequenos mistérios, os trinta minutos iniciais de filme chegam a lembrar alguns episódios da primeira temporada de Lost, em que o foco era apresentar mistérios em meio à ilha muito mais do que resolvê-los. Nesse momento o roteiro aproveita não só para despertar a atenção por meio do mistério como também para aos poucos revelar características dos caçados e dos caçadores, inclusive remetendo a fatos do primeiro filme - como na sequência em que Isabelle (Alice Braga) cita os acontecimentos de 1987.

Já a segunda parte abandona o mistério e parte para o embate mais brutal, servindo-se de cenas de luta, tiroteios e violência emblemática para justificar a caçada organizada pelos predadores. Nesse ponto o filme, de certa forma, destoa por soar menos sério - ou por não se levar tão a sério - do que na primeira parte. A linha que o separa do trash, em certos pontos, é tênue demais, mas de forma alguma isso compromete o desenrolar da história.

Se há muito mais pontos positivos do que negativos na estruturação da narrativa, infelizmente é impossível deixar de notar alguns clichês e falhas de edição que prejudicam sensivelmente o filme em alguns momentos. A ideia de se ter em cena um “representante” de cada raça ou gênero - temos um negro, um latino, um russo, uma mulher, um americano, um oriental, entre outros - recai no velho clichê politicamente correto, de agradar a todos os tipos de espectadores.

No caso específico de Predadores a justificativa é válida - reunir os combatentes mais fortes do mundo, dentro de suas características -, porém não deixa de ser repetitiva e pouco criativa.

Já em relação à edição o problema é incômodo e prejudica o desempenho da história. Alguns cortes são abruptos demais, dando a sensação de uma montagem pouco cuidadosa e fluída. Em alguns pontos a trama passa de uma sequência para outra aos solavancos, tirando o espectador do filme em determinados momentos para que ele possa tornar inteligível a estrutura de ideias que acabou de ver. Um exemplo claro disso é uma sequência de fuga do grupo, já na metade do filme, em que Edwin (Topher Grace) se perde do grupo. De uma hora para outra ele some do grupo e surge dentro de uma outra sala pedindo ajuda. Não há fluidez alguma na transição e a sensação que fica é que um pedaço do filme foi suprimido, um erro simples demais para uma produção de grande porte.

Adrien Brody no papel do líder do grupo se sai muito bem. Contido em muitos momentos, o ator consegue impor uma espécie de liderança e estabelecer uma empatia (ou antipatia) com o espectador muito mais por meio da ação do que pela força física, algo que não é comum em filmes do gênero. A brasileira Alice Braga também se mostra eficiente, servindo como um contraponto ao perfil de Brody sem precisar para isso ser submissa ao personagem principal. Um dos pontos altos fica por conta da participação de Nolan (Laurence Fishburne). São pouco mais de dez minutos em cena, mas suficientes para mostrar um personagem tão perturbado quanto aterrorizador, capaz de ir de um extremo a outro em questão de segundos. É pena que sua saída de cena seja tão simplória e mal elaborada, não condizendo com o perfil construído pelo ator.

Longe de se tornar uma unanimidade ou ser capaz de reascender a franquia aos níveis em que já esteve, Predadores em resumo se apresenta como um filme eficiente dentro do que se propõe, se afastando um pouco mais da ficção científica para apostar no suspense e no terror. Se por um lado a produção tem seus méritos por retirar da UTI o personagem, por outro deixa no ar a sensação de que os predadores, ao menos no cinema, se encaminham para um outro patamar, longe dos blockbusters de alto orçamento e muito mais perto das produções alternativas para públicos cativos como Sexta-Feira 13, Halloween ou A Hora do Pesadelo.

NOTA 3 BOM

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"SPLICE"


Sabe quando algo te causa tanta repugnância que você não consegue parar de ver? É justamente o caso de Splice. Normalmente não sou grande fã de ficção científica, porque geralmente são meras desculpas para mostrar o que há de mais moderno em efeitos especiais (assim como quase todos os blockbusters de ação e odisséias épicas), fogem demais da realidade, ou são meio infantis. Por infantis eu digo no sentido dos temas abordados serem bobos ou não trazerem discussões interessantes. Mas evidente que há sempre Gattaca, Matrix (só o primeiro), Intelgência Artificial, Eu, Robô, Minority Report, entre outros exemplos de ficções interessantes.

Enfim... Splice é o novo filme do Vincenzo Natali, que escreveu e dirigiu O Cubo, aquele “clássico” pré-Jogos Mortais que todo adolescente e jovem adulto deve conhecer, e tem no elenco o Adrien Brody, aquele que ganhou o Oscar por O Pianista (o mais jovem a ganhar na categoria principal até hoje), fez aquele super discurso, mas meio que sumiu do mapa depois. Lembro que ele fez King Kong e A Vila depois. E também da Sarah Polley, que nunca foi muito famosa do grande público, mas fez uma comédia que eu adoro chamada Vamos Nessa, e recusou o papel de Penny Lane em Quase Famosos, que deu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar a Kate Hudson.

Bom, a história é sobre uma empresa farmacêutica que financia uma equipe de cientistas, liderados pela Sarah e pelo Adrien, que são um casal. Eles criam criaturas que são mutações feitas a partir das genéticas de diversos animais. São asquerosos. Parecem chiclete mascado. E aparentemente a partir desses seres podem-se estudar curas para diversas doenças.

O próximo passo deles é incluir genes humanos nas criaturas. Aí é que entram as questões éticas e morais da ciência e tal, e a empresa patrocinadora breca o casal 20. Mas, sorrateiramente, eles decidem levar o plano à diante, e fazer a tal experiência por debaixo dos panos. Aí nasce a tal criatura hedionda.

Eles fazem um rápido estudo e percebem que esse bicho envelhece mais rapidamente que o normal (incrível como tudo que envolve clonagem ou experiências genéticas coloca essa desculpa no meio), e provavelmente viverá pouquíssimo. E como tem doido pra tudo nessa vida, eles decidem criar essa coisa, que ninguém sabe no que vai dar. É aí que todo mundo já sabe que nada de bom pode vir por aí. A gente só não sabe como exatamente. E isso é o que nos prende.

O roteiro, apesar de ter sua cota extrapolada de bizarrices, é instigante e mantém a platéia fisgada do começo ao fim. Tem um bom ritmo, flui rapidamente, e mal percebemos o tempo passar. Assim como O Cubo. Mostra que provavelmente poderemos esperar coisas melhores vindas de Natali num futuro próximo. O elenco é afiado, em especial a atriz que faz a fase adulta do ser de espécie inominada, a francesa Delphine Chanéac, que é aparentemente muito boa (não vi outros trabalhos para dar um veredito mais preciso) e me lembrou muito a Samantha Morton em Minority Report.

E claro, como todo filme que aborda esse tema, as discussões sobre as conseqüências de clonagens e práticas afins são levantadas. O famoso “brincar de Deus”, que as religiões, em quase suas totalidades, gostam de recriminar e censurar. Eu interpretei que o filme é abertamente contra a esse tipo de experimento, o próprio enredo em si já mostra isso, mas eu não sou totalmente contra ou a favor, porque pode haver benefícios, mas também há outros seres vivos envolvidos. Mas como quase tudo que é ou foi tabu na sociedade, como bebê de proveta, por exemplo, acredito que um dia vai passar a ser banal.

NOTA 4 ÓTIMO

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

"JONAH HEX"


O sucesso de “Batman Begins” (2005) e “The Dark Knight” (2008) levou a Warner Bros. a tentar obter um sucesso comercial semelhante com outra conhecida personagem da DC Comics, Jonah Hex, um dos poucos cowboys do universo das histórias em quadrinhos, no entanto, esta aposta não surtiu o efeito desejado porque foi um verdadeiro desastre comercial e cinematográfico tanto nos Estados Unidos da América como no resto do Planeta. A sua história é centrada em Jonah Hex (Brolin), um soldado e caçador de recompensas com o rosto deformado que se isola do mundo por causa da morte da sua família assassinada pelo poderoso Coronel Quentin Turnbull em um acerto de contas . Jonah é contratado pelo Governo dos Estados Unidos da América para deter o homem que massacrou a sua família, Quentin Turnbull (John Malkovich), um empresário corrupto que planeja recuperar o poder econômico que perdeu durante a Guerra Civil Americana e que culpa Jonah pela morte do seu filho. A história é relativamente batida, um cara que sai atrás de vingança pela morte de sua família...temos filmes aos milhares contando essa mesma história.

Então, o que pode diferenciar Jonah Hex dos demais filmes com o mesmo tema? Primeiramente, o fato de se passar em uma época do tipo “velho oeste”.
Mas o mais interessante é o próprio Jonah. Após ver sua família sendo assassinada, Quentin Turnbull marca o rosto do personagem com ferro de marcar cavalos para que ele ande pela terra sem esquecer quem tirou sua família.
Depois disso, ele é deixado para morrer e alguns dias depois é resgatado por alguns índios de uma tribo que tentam fazer com que ele sobreviva.A "magia" dos índios funciona mas deixa Jonah com um dom/maldição. Ele pode falar com os mortos. Basta tocá-los para trazê-los de volta a vida parcialmente até que os solte.

Os apreciadores de westerns não deverão ficar desiludidos com “Jonah Hex”, um filme que nos oferece muitos tiroteios e muitas explosões, ou seja, muitas cenas onde a ação e a violência explícita são predominantes, no entanto, esta predominância acaba por afetar o seu argumento que obviamente sofre com estes exageros de violência e de adrenalina porque acaba por não ter tempo suficiente para conseguir desenvolver coerentemente e corretamente a sua história e as próprias personagens que protagonizam este western alternativo.

O cineasta Jimmy Hayward trabalhou como animador em “Finding Nemo” (2003), “Monsters, Inc.” (2001) e “Toy Story” (1995) e até realizou “Horton Hears a Who!” (2008), um filme animado relativamente interessante, no entanto, “Jonah Hex” marca a sua estreia em filmes live-action, uma estreia que infelizmente não foi muito positiva porque este cineasta sucumbiu aos clichés e aos exageros cinematográficos como comprovam as inúmeras sequências cinematográficas com muitas explosões e confrontos físicos, sequências que até não são mal feitas, mas também não são grande coisa. Dois pontos positivos do longa são em relação a duração da película com curtíssimos 73 minutos que não da pra estragar ou não gostar tanto do filme assim e a sua trilha sonora, composta por uma banda de metal progressivo chamada “Mastodon” que funciona muito bem para a sombriedade da estória.

O seu elenco é composto por várias estrelas de Hollywood como Josh Brolin, John Malkovich, Michael Fassbender, Megan Fox, Aidan Quinn, com participações de Wes Bentley e Michael Shannon. No entanto, nenhum destes atores consegue nos oferecer uma performance minimamente convincente ou atrativa. Josh Brolin interpreta Jonah Hex, um típico anti-herói com algumas características sobrenaturais e com um passado marcado por vários acontecimentos violentos e sinistros. A performance de Brolin não é muito positiva mas também é verdade que a caracterização extravagante da sua personagem não o deixou transmitir qualquer emoção ou qualquer expressão facial. John Malkovich e Michael Fassbender interpretam respectivamente Quentin Turnbull e Burke, dois vilões e rivais de Jonah Hex que resultam de uma construção extremamente estereotipada. John Malkovich até não está muito mal como Quentin Turnbull, no entanto, esta sua personagem é muito pouco credível e interessante. A maior figura feminina do elenco é Megan Fox, uma atriz que interpreta, sem muito caráter ou carisma, uma prostituta que também sabe usar uma arma e que até participa em alguns tiroteios mas que, em ultima análise, acaba por ter muito pouca significância para o filme.

“Jonah Hex” é um produto comercial que falhou redondamente em quase todos os aspectos, no entanto, ainda poderá ser encarado como uma boa aposta por todos aqueles que apreciem filmes com muito ação e filmes de western que cada vez mais está se tornando raridade.

NOTA 2 REGULAR

"O PIOR TRABALHO DO MUNDO"


O extrovertido Aldous Snow nos foi apresentados em “Ressaca de amor” (2008), uma comédia romântica muito razoável que até obteve bons resultados comerciais nas bilheteiras mundiais, assim sendo, não é de estranhar que os seus criadores tenham tentado lucrar ainda mais com o seu sucesso, assim sendo, decidiram avançar com “Get Him To The Greek” na tradução tupiniquim “O pior trabalho do mundo”, uma “sequência” que é então protagonizada por Aldous Snow, uma das personagens mais carismáticas dessa comédia romântica. “O pior trabalho do mundo” acompanha as cômicas aventuras de Aaron Greenberg (Jonah Hill, em um papel completamente diferente do filme anterior), um recém-licenciado que se torna o assistente/babysitter de Aldous Snow (Russell Brand), uma estrela musical muito talentosa, mas extremamente problemática que o vai obrigar a enfrentar inúmeras situações adversas e vexatórias durante a sua atribulada viagem entre Londres e Los Angeles onde Aldous deverá fazer um grande show no mítico Greek Theater.

“O pior trabalho do mundo”, não é em nada semelhante a “Ressaca de amor”, este último é uma comédia romântica sem muitos momentos cativantes ou memoráveis e com uma narrativa essencialmente centrada numa vertente romântica relativamente comum, “O pior trabalho do mundo” também é uma comédia mas não é tão romântica como o seu antecessor, muito embora existam vários momentos secundários onde o romance está no centro de várias decisões/atitudes de Aldous Snow, no entanto, este filme tem o seu lado humorístico, como o seu maior e mais relevante elemento, assim sendo, somos confrontados com inúmeras cenas onde os personagens desta história se vêm metidos em situações excêntricas e incômodas, cenas onde a excentricidade e a sexualidade são temáticas recorrentes, no entanto, “O pior trabalho do mundo” não é um filme descartável ou excessivamente absurdo/ridículo, é sim um filme onde os extremos e os excessos da comédia foram convenientemente e criativamente utilizados pelos seus criadores, assim sendo, estes conseguiram rentabilizar temas humorísticos que não resultam em outras comédias e que são universalmente tidos como imaturos ou levianos.

A primeira metade do filme, é onde realmente o filme se destaca e decola, com os personagens de Russell Brand e Jonah Hill sendo confrontados com situações realmente hilariantes, há também de se lembrar a grande participação de Sean combs o rapper “Puffy Daddy”, extremamente sarcástico e bem à vontade no papel de um produtor musical , ambiente do qual ele conhece muito bem.

No entanto, a segunda metade do filme, o ritmo cai bastante, quando os personagens chegam em Los Angeles, a estória perde um pouco o fio da meada e se arrasta ainda por mais meia hora sem ter um destino certo, o filme tenta alcançar uma resolução emocional que infelizmente nunca ganha: podemos também perceber, que os dois primeiros atos do filme, são capazes de esconder muito bem, que Hill e Brand não tem lá uma química tão boa juntos comicamente, individualmente, os dois são fantásticos, ótimos comediantes, porém nunca dá a sensação ao longo do filme que eles estão construindo uma amizade.

Para os seus dois primeiros atos “O pior trabalho do mundo”, é um dos filmes mais engraçados do ano, com dois dos melhores comediantes da nova geração, Puff daddy muito bem, roubando praticamente todas cenas em que está, com uma premissa sólida, e alguns momentos bem inspirados parodiando sobre o rock moderno e a cultura da celebridade, no entanto o filme só consegue terminar até razoavelmente bem o ato final graças ao talento dos seus dois protagonistas.

NOTA 3 BOM

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

" O ÚLTIMO MESTRE DO AR"


M. Night Shyamalan é um caso estranho. O cineasta indiano, que estourou em 1999 com “O Sexto Sentido” e fez em seguida o magnífico “Corpo Fechado”, começou uma espiral descendente com o mediano “Sinais” e o mal compreendido “A Vila”, que culminou nos fracassos retumbantes “A dama na água” e“Fim dos Tempos”. Escolhido pela Paramount e pela Nickelodeon Pictures para adaptar a popular série animada “Avatar – A Lenda de Aang” para o cinema, o projeto era visto por todos como a esperança de redenção do realizador, que trabalharia pela primeira vez em um projeto não original. Não foi o que aconteceu.

A empreitada era ambiciosa. A trama do seriado, dividido em três temporadas (ou “livros”) de 20 episódios cada, demandaria muito cuidado para ser transposta para a telona. A intenção de realizar uma trilogia, com cada filme englobando uma das temporadas, fora estabelecida logo de início. A história se passa em um mundo fantástico, dividido por quatro povos: a Nação do Fogo, a Tribo da Água, o Reino da Terra e os Nômades do Ar. Dentro dessas culturas, nascem pessoas com a habilidade de dobrar os respectivos elementos à sua vontade.

A cada geração surge alguém capaz de controlar todos os elementos, cuja responsabilidade é manter o equilíbrio entre todos esses povos e ser a ponte entre o mundo físico e o mundo espiritual, este alguém é o Avatar. O pequeno Aang (Noah Ringer), dos nômades do Ar, é a encarnação atual dessa figura. Assombrado por suas responsabilidades, o jovem sofre um acidente e passa cem anos congelado. Nesse meio tempo, sem a presença do Avatar, a Nação do Fogo conquista boa parte do planeta.

Até que Aang é despertado pelos irmãos Katara (Nicola Peltz) e Sokka (Jackson Rathbone), da Tribo da Água. Ao descobrir o que sua ausência acarretou, Aang se junta aos seus dois novos amigos e parte para iniciar uma rebelião, aprender a dominar os demais elementos e cumprir seu destino. Mas o garoto está sendo caçado de maneira implacável por dois membros da Nação do Fogo, o príncipe Zuko (Dev Patel), que busca recuperar sua honra levando o Avatar para seu pai (Cliff Curtis), e o ambicioso Comandante Zhao (Aasif Mandvi), que quer consolidar uma posição forte junto ao Senhor do Fogo Ozai.

Se você acha que esta sinopse é longa, imagine compactar isso tudo em um filme de 90 minutos. Pois foi exatamente isso que Shyamalan tentou fazer. O resultado é que praticamente TODOS os diálogos do filme são basicamente expositivos, com a trama sendo contada para o espectador e não mostrada pelo longa, quebrando uma das regras principais da produção cinematográfica.

Ainda temos algumas das piores passagens de tempo que já pude ver, com várias semanas se passando sem que o público sinta o impacto. Shyamalan parece que resolveu apenas copiar e colar algumas situações aleatórias da animação, sem se dar ao trabalho de desenvolver os personagens ou aquelas situações, com o filme tendo o mesmo impacto dramático de um resumo da primeira temporada exibido em alta velocidade.

Com isso, simplesmente não conseguimos nos identificar com nenhum dos personagens, pois estes não passam empatia junto ao público, já que são apenas figuras estereotipadas cuja única função é dar prosseguimento à história. Não ajuda em nada o elenco principal do filme não apresentar um pingo de carisma ou vivacidade.

Durante boa parte do longa, o pequeno Noah Ringer não dá nenhum sinal de vida. Apático como um boneco de cera, o menino faz parecer que fora escolhido para o papel apenas por convencer nas lutas. A situação é tão grave que, durante muitos momentos, mais parecia que Shyamalan tinha vergonha de enquadrar o garoto que é o astro de uma possível franquia.

Nicola Peltz e Jackson Rathbone estão lá somente para explicar o que Aang deve fazer neste temível mundo novo. A moça não passa na tela o quanto ela se importa com o Avatar, precisando de uma linha de diálogo (surpreendentemente expositiva) para transmitir seus sentimentos para com Aang.

Rathbone passa o filme inteiro mais morto do que o seu Jasper da série “Crepúsculo”, já que o roteiro oferece um interesse amoroso para o rapaz nos últimos 25 minutos de projeção. Como o público vai se importar com o destino de um casal que acaba de ser apresentado e de uma maneira extremamente forçada?!

Dev Patel, que ficou responsável pelo personagem mais complexo da série, não transparece a profundidade de seu príncipe Zuko. A raiva interior do personagem é mostrada apenas por gritos quase histéricos do ator e todos os conflitos do personagem são transmitidos por, adivinhem só, diálogos expositivos! No elenco adulto, Shaun Toub é o único a entregar uma atuação decente e serena com o seu General Iroh. O mesmo não pode ser dito por Aasif Mandvi, patético como o vilão Zhao e Cliff Curtis, que praticamente entra mudo e sai calado como o Senhor do Fogo.

Com relação aos efeitos visuais estes são praticamente impecáveis, com a dominação de cada elemento apresentada de maneira soberba, em mais um trabalho irretocável da ILM, que só falha em uma tomada em tela azul fraquíssima, logo no começo do filme, quando Katara e Sokka encontram Aang. A recriação dos fantásticos animais Appa e Momo está perfeita, mesmo que a fita simplesmente esqueça de usá-los. Os cenários são amplos e majestosos, além de fiéis aos da série animada, com a direção de arte do filme se mostrando deveras competente.

Fica claro que Shyamalan não sabe filmar cenas de ação, que são em sua quase totalidade chatas e desinteressantes. Há um plano longo em específico, no qual dominadores do fogo e da terra se enfrentam, que mostra falta de entrosamento entre o diretor, o diretor de fotografia, atores e dublês, com estes últimos realizando uma coreografia que beira o ridículo.

Aliás, a despeito de apreciar muito planos longos, marca registrada do diretor, o cineasta os usa de modo exagerado e retira qualquer dinamismo das lutas. Não que eu preferisse praticamente a montagem convulsiva adotada por certos cineastas, mas o tédio instaurado em determinados momentos chega a ser assustador. A trilha sonora de James Newton Howard, colaborador habitual de Shyamalan, não se mistura à fita, em muitos momentos se sobressaindo a esta, em mais um problema grave da produção.

A série animada conquistou o coração do público, mas “O Último Mestre do Ar” irá desagradar a maioria dos fãs da franquia justamente por fazer uma adaptação fria e sem vida de uma obra repleta de alegria e complexidade. Como primeira parte de uma série cinematográfica, o longa também não funciona, contando com uma trama atropelada e personagens rasos, tendo como único atrativo seus efeitos visuais, sem conseguir despertar ansiedade para o próximo capítulo – se é que este vai existir.

NOTA 2 REGULAR

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"MACHETE"


Robert Rodriguez conseguiu o que achava impossível: transformar um daqueles trailers falsos que uniam os dois filmes de Grindhouse, Planet Terror e Death Proof. Sim, Machete era um trailer de zoação, já com Danny Trejo no papel título. Eram uns 3 minutos de sanguinolência total, no melhor estilo trash. Tamanho foi o sucesso do trailer que Rodriguez partiu para desenvolver um filme inteiro com base em uma premissa simplíssima: um mexicano ex-"Federale" é enganado e parte para limpar seu nome da maneira mais mortal que conhece.

Carismático, o personagem ganha a simpatia do espectador e dispara bordões que já nascem candidatos a cult ("Machete don't text", demonstrando sua falta de habilidade em mandar mensagens SMS via celular, é um deles). A interpretação à la ícones do cinema B (sempre reverenciado por Rodriguez em sua filmografia), como Charles Bronson e Chuck Norris, também provoca empatia imediata com o matador.

Acho que o diretor criou o primeiro filme "Mexploitation" misturando muito bem o gênero "Blaxploitation" dos anos 70 e trocando o foco para os mexicanos e hispânicos em geral. Posso dizer que Rodriguez acabou fazendo algo acima da média pois, além de não levar o filme muito a sério, fazendo uma enorme caricatura de mexicanos, americanos radicais, traficantes, policiais caipiras, mulheres policiais e mulheres fatais, ele conseguiu ser econômico e objetivo ao longo de toda a película, sem enrolar demais a estória.

Danny Trejo sempre foi um personagem coadjuvante do coadjuvante mas seu rosto marcante (ou seria "marcado"?) o alçou a uma espécie de status cult. Em Machete, ele é protagonista pela primeira vez e não desaponta. Mas que fique claro: não desapontar significa não atuar. Suas expressões faciais são de "psicopata" e "mais psicopata" somente. Ele é o total estereótipo do mexicano durão, imortal e assassino, que não se importa em estripar para alcançar seus objetivos. E é exatamente isso que se deve esperar desse filme.

Assim como Stallone fez em Os Mercenários, comparação inevitável, Rodriguez conseguiu juntar um impressionante elenco. Mas, diferentemente de Stallone, os grandes nomes de Rodriguez fazem muito mais que meras pontas de segundos. Vamos começar com ninguém menos que Rober De Niro. Ele faz o papel do Senador John McLaughlin, figura central à trama do filme. Ele é um senador de ultra-direita em campanha de re-eleição cuja plataforma é o fechamento total da fronteira dos EUA com o México. No outro lado da fronteira temos Steven Seagal como um barão das drogas chamado Torrez e inimigo mortal de Machete.

E não acaba aí. Temos ainda Don "Miami Vice" Johnson como um xerife caipira, Cheech Marin como um padre amigo de Machete e Jeff Fahey como Michael Booth, que contrata Machete para matar o senador, desencadeando a ação do filme.

Mas deixei o melhor para último: temos a estonteante Michelle Rodriguez no papel da revolucionária Luz, a bela mas nada mais do que isso Jessica Alba como uma policial de imigração de ascendência mexicana chamada Sartana Rivera (nome ótimo) e a completamente alucinada Lindsay Lohan, basicamente no papel dela mesmo, como April, filha de Booth. Posso dizer que Machete "passa o rodo" e das maneiras mais incríveis, sendo o ápice a cena com April (e June) na piscina.

Com frases como "Nós não cruzamos a fronteira. A fronteira é que nos cruzou.", Rodriguez dá o tom de paródia sem perder o ritmo. Determinadas cenas do filme, como a já antológica cena do intestino, faz a experiência de "ir ao cinema" valer a pena. A platéia foi abaixo, urrando e batendo palmas.

Mas é Danny Trejo quem rouba a cena em todas as suas aparições no filme. Bronco e extremamente à vontade no papel, o ator tem tudo para se tornar um hit do gênero. E "Machete" termina deixando clara a intenção de seus idealizadores em levar o Trejo de volta às telas na pele do personagem em mais um par de vezes. Os títulos até já existem: "Machete kills" e "Machete kills again".

O grande defeito do filme é que a segunda metade é bem inferior à primeira. Rodriguez ainda tinha muitas pontas soltas para amarrar e resolver correr com a resolução. Acabou se apressando demais. Mas a primeira parte é tão boa que já coloca o filme em um patamar acima da média de filmes de ação tresloucados.

NOTA 4 ÓTIMO

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

"COMER, REZAR E AMAR"


Há um grande contraste em "Comer, Rezar, Amar": em alguns momentos, a protagonista Liz Gilbert arrisca muito em suas opções pessoais; sua intérprete, Julia Roberts, ao contrário, não arrisca nada neste papel em que ela não tem muito esforço a fazer. Dirigido por Ryan Murphy (das séries "Nip/Tuck" e "Glee"), o filme estreia em circuito nacional.

Inspirado na trama supostamente autobiográfica de Elizabeth Gilbert, o filme trata das aventuras da escritora de sucesso de livros de viagem quando deixa o marido, Stephen (Billy Crudup, de "Watchmen - O Filme").

Depois de oito anos, envolve-se com um ator mais jovem e dado ao misticismo hindu (James Franco, de "Homem-Aranha") e arremata a virada por uma longa viagem de um ano, entre Itália, Índia e Bali.

Na verdade, a viagem representou muito menos uma aventura do que parece, já que, na vida real, a autora financiou-a com um adiantamento pelo futuro livro e que tirou a sorte grande ao se tornar um bestseller lançado em cerca de 30 países, inclusive no Brasil.

Julia pode ter-se identificado com a personagem, enxergando o alto potencial da história para se tornar um veículo para sua volta a um papel feminino de alto impacto.

A falta de elementos realmente novos está em todos os detalhes da história. Embora não seja assim tão comum uma mulher bem-sucedida jogar para o alto um casamento estável, como faz Liz com o apaixonado Stephen, nem por isso sua personagem chega a ser uma heroína feminista.Com roteiro assinado pelo diretor Ryan Murphy e por Jennifer Salt, a ação decola quando Liz desembarca na Itália.

ITÁLIA

Essas viagens da protagonista preenchem a função de encher os olhos do espectador, onde não faltam belas paisagens, com direito a todos os cartões postais que uma Roma ensolarada pode oferecer.

Nem tudo a respeito dos romanos é real, muito menos positivo. Liz aluga um quarto numa velha casa na capital italiana que nem água quente tem: para um banho morno, ela precisa esquentar a água numa chaleira no fogão, em plenos anos 2000.

A imprensa italiana chiou bastante, alegando que isso poderia ter ocorrido, no máximo, durante a Segunda Guerra Mundial, há mais de 60 anos.

Os clichês de praxe sobre a Itália estão todos lá: homens conquistadores e bons vivants, todo mundo envolvido no dolce far niente, ou seja, na boa e velha vagabundagem. E o que mais se faz é comer... Haja espaguete!

ÍNDIA

A passagem pelo país é a parte mais chata. Fica difícil acreditar no engajamento de Liz no misticismo hindu, morando numa espécie de mosteiro.
Lá, Liz limpa o chão, acorda de madrugada para meditar e leva broncas de outro americano amargurado, Richard (Richard Jenkins, de "Queime Depois de Ler") o que parece mais uma temporada no inferno do que uma jornada em busca da paz interior.

BALI

Finalmente, chega o capítulo do amor, na paradisíaca Bali, que Liz já visitou antes, conhecendo o seu velho guru, Ketut (Hadi Subiyanto).
Nesta segunda viagem, a coisa começa mal, com Liz sendo atropelada quando andava de bicicleta, por um distraído brasileiro, Felipe (Javier Bardem, de "Vicky Cristina Barcelona"). Um acidente que se transforma, mais tarde, em namoro firme entre dois divorciados.

Para nós brasileiros, causam estranheza o sotaque sofrível do ótimo ator Bardem quando arranha algum português e a afirmação, feita por Liz a partir de conversas com o namorado, de que por aqui é normal e corriqueiro que os pais beijem os filhos na boca.

Enfim, o forte de "Comer, Rezar, Amar" não é mesmo um retrato fiel dos países que visita.

BRASIL

A melhor coisa sobre o Brasil é incorporar à trilha música e músicos de alta qualidade, fazendo uma ponte com a Bossa Nova.
Estão lá "Samba da Benção", de Vinicius de Moraes e Baden Powell, na voz de Bebel Gilberto, e "Wave", de Tom Jobim, cantada por João Gilberto.

Ao final da projeção, um tanto longa, já que o filme tem 140 minutos, fica a sensação de que faltou muita coisa. A ação fica excessivamente centrada na protagonista e sua interminável crise de identidade, que dura tempo demais.
Os clichês sobre as pessoas e povos que ela encontra terminam por comprometer a credibilidade toda da história, por mais que se permita piadas e licenças poéticas.
No final, Liz parece apenas percorrer as etapas previamente demarcadas de um roteiro de autoajuda, superficial como todos. Sorte da escritora Elizabeth Gilbert, que deve estar rindo à toa com o sucesso mundial do livro e agora do filme.

NOTA 3 BOM

"COMO TREINAR SEU DRAGÃO"


Certamente o mais próximo que podemos chegar da literatura em uma adaptação cinematográfica são as animações. Talvez por isso Robert Zemeckis tenha abandonado seus dias de “Forrest Gump” e “De Volta para o Futuro” e mergulhado de cabeça em “A Lenda de Beowulf” e no mais recente “Os Fantasmas de Scrooge”. Cito Zemeckis por ele ser um exemplo de diretor que percebeu as possibilidades infinitas desta nova e instigante vertente. Ângulos impossíveis, cenas meticulosamente elaboradas, não tendo nem o céu como limite, uma linguagem única que extrapola o cinema tradicional e adentra em um mundo novo. Foi assim com “Avatar”, é assim com a gigante Pixar e suas obras primas. E correndo por fora, quase na mesma velocidade de sua concorrente, está a DreamWorks com seu novo “Como Treinar o seu Dragão”.

Baseado no livro de Cressida Cowell, “Como Treinar o Seu Dragão” traz a história do garoto Soluço. É por ele que somos apresentados ao seu vilarejo de vikings, um bando brucutus mal encarados que “adoram o cheiro de dragões mortos pela manhã”. Seu povo está em guerra há muito, muito tempo contra estas bestas voadoras, e nada para eles é mais importante do que exterminá-los de uma vez por todas. Comandando a todos com mão de ferro está Stoico, o Imenso. Ele é pai de Soluço, apesar da gritante desigualdade genética para com seu filho. Enquanto Stoico é realmente… Imenso, Soluço é um garoto vara-pau que nem ganhando 20 quilos teria o porte físico de um verdadeiro viking.

Mas isso não desanima o garoto, que sonha em se tornar um grande caçador de dragões. Como ele não tem a força necessária para isso, constrói armas mirabolantes para alcançar seu objetivo. O jovem caçador percebe que aquilo não é para ele no momento em que conhece Banguela, um simpático dragão que se afeiçoa a ele, mostrando que tudo que sabem sobre estes seres até então estava errado. É ai que começa sua luta para mostrar a todos que uma convivência pacifica é possível, fazendo uma analogia clara aos estereótipos, preconceito e quebra de paradigmas.

Como disse, a trama pode parecer básica, e realmente é, apesar de muito bem trabalhada em suas camadas. Mas o grande trunfo desta obra é seu carisma com o público, além de, é claro, suas sequências estonteantes. Sendo praticamente um filme de ação com comédia , o filme conquista seus espectadores pela riqueza de detalhes e por suas cenas incríveis, que não perdem quase nunca o ritmo.

Além disso, personagens palpáveis fazem a diferença. Temos o Viking perneta e maneta que é puro coração, temos os amigos (ou seriam inimigos?) de Soluço, cada um representando um tipo diferente de , a garota que pode vir a se tornar o seu interesse amoroso, e o pai querendo se orgulhar do filho.O deslumbre da animação e suas qualidades técnicas completa o pacote.

Os dragões são uma comédia a parte. Cada um com sua personalidade própria. Temos os mais bobões, os desengonçados, os terríveis e o Banguela, protagonista dragão que se destaca dos demais. Sendo claramente uma união de um gato gigante com um lagarto com asas, o novo amigo de Soluço tem um comportamento organicamente perfeito, sua naturalidade até nos faz esquecer que alguém ralou muito para seus movimentos serem tão sutis e perfeitos.

Na direção do filme estão Chris Sanders e Dean Deblois, voando bem alto após seu carismático, mas esquecível “Lilo e Stich”. As dublagens originais ficam a cargo de jovens talentos. Jay Baruchel, que participou do engraçado “Trovão Tropical”, interpreta Soluço. O gordinho engraçado Jonah Hill, de “SuperBad”, entra na pele do valentão Melequento. America Ferrera, a“Ugly Betty” dos states, faz a bela e mal encarada Astrid. Temos ainda Christopher Mintz-Plasse, ator que está no filme “Kick Ass”, como Perna de Peixe, e Gerard Butler como Stoico.

“Como Treinar Seu Dragão” é uma história que aborda temas como relacionamentos entre pais e filhos, mudanças de pensamentos e atitudes, além de mostrar como é sempre bom ter a mente aberta para novas experiências.

NOTA 4 ÓTIMO