terça-feira, 25 de maio de 2010

"O LOBISOMEM"


Filmes com estreia adiada sempre causam desconforto geral na crítica especializada. O que terá acontecido? Quais motivos comerciais teriam dissuadido os produtores a lançá-lo? Em tempos de Avatar e novos rumos para o cinema comercial com aposta forte em 3D, a refilmagem de O Lobisomem poderia ser facilmente engolida nas bilheterias, partindo daí direto para o limbo do esquecimento.

Claro que nenhum de nós nem sonhava em ser um esperma quando a primeira versão de Wolfman veio a vida pela Universal em 1941, popularizando mundialmente a lenda do bicho homem-lobo na cultura pop. É com muita alegria que venho lhes informar que não apenas o clássico reviveu com força total, como o próprio gênero de terror ganhou novo fôlego com esse filme. Detalhe: proibido para menores de 18 anos com bons motivos.

Tudo porque Joe Johnston (diretor, entre outros, de Querida, Encolhi as Crianças, Jurassic Park III e Céu de outubro) manteve a visualidade do filme fiel a aspectos do cinema de terror das décadas de 1930/40, período em que foi produzida a versão de George Waggner para a história do lobisomem na qual ele se baseou. Se a versão de 1941 é vista hoje como datada devido a questões técnicas há muito ultrapassadas, Johnston resgata a essência desse cinema de horror e atualiza o clássico utilizando efeitos digitais com precisão para sustentar a estética retrô de seu filme.

O Lobisomem é a refilmagem do clássico de 1941, onde o ator Lawrence Talbot é chamado pela noiva de seu irmão para ajudar na busca pelo mesmo que está desaparecido a algumas semanas. Ele retorna da América para Blackmoor na Inglaterra apenas para descobrir que seu irmão foi morto por uma fera selvagem sem precedentes. Enquanto jura descobrir o que aconteceu com seu irmão se depara com uma besta incomum e com o peso de uma maldição que pode acabar com sua vida.

Antes de mais nada, Joe Johnston é um ótimo diretor e esse é de longe o melhor filme dele, EVER. Desde o início do filme com excessão dos primeiros 15 minutos que parecem apressados, até os mínimos detalhes de fotografia, passando pela maestral direção de maquiagem de Rick Baker e Roz Avery, ou a trilha de Danny Elfman que foi aparentemente demitido do filme… Apesar de todas as controvérsias, Johnston comandando tudo fez um trabalho muito bom em todos os aspectos técnicos possíveis, nota 1000.

Já as atuações, temos desde gratíssimas surpresas, até qualidade superiora esperada e uma ou outra rala decepção. Anthony Hopkins citando Shakespeare e dando o ar misterioso da budega me deu arrepios que não tinha desde que ele encarnou Hannibal Lecter, sinceramente. Benicio Del Toro é Benicio Del Toro, ótimo ator, apesar de parecer deixar a peteca cair ligeiramente no começo, talvez pelos argumentos serem meio ralos mais do que em sua atuação nesse ponto. A grande decepção foi de Hugo Weaving interpretar oAgente Smith com barba em seu papel de Inspetor Abberline. “Mr. Talbot…”??? A dobradinha Del Toro e Hopkins foi sensacional e deixa nada a desejar. E o toque final do filme? O que dizer de Emily Blunt? Fantástica atriz, uma beleza embasbacante e não é a toa que ela está no poster brazuca, em destaque. Sua atuação rouba a cena junto a Benicio. Supresa do filme foi presença a de Geraldine Chaplin como cigana.

O filme não é proibido para menores a toa. Não que não tenhamos violência e sangue na internet e nos noticiários em galões e galões gratuitos, mas Joe Johnston coloca realismo e beleza nisso de forma que as cabecinhas mais influenciáveis podem realmente deixar a “fera interior” mais atiçada. O lirismo e beleza das cenas… Shakespeare dá o tom e citações macabras preenchem os momentos mais “tranquilos”. A direção é esperta em esconder o bichano em sua totalidade no começo. Na escola de terror, a primeira aula é a de assustar em doses homeopáticas e crescentes, coisa que Johnston recupera nesse filme. Não que seja aquele filme que te deixa tão preso na cadeira que você fique fisicamente cansado ao final (tipo o espanhol REC), mas tem seus sustos, suas doses de montanha russa e seu alto nivel de “gore” e “slasher”. Além disso tem a fantástica sensação de nostalgia com Um Lobisomem Americano em Londres que vocês entenderam durante a transformação e a sequência londrina que vemos no trailer. Não que seja a parte mais original do filme, mas foi divertido assistir.

Com certeza é o filme de terror do ano, até provem o contrário. Se você procura adrenalina, boa fotografia, atuações e bastante sangue real e cru, essa deve ser sua opção.
The Wolfman é no fim um filme sobre o destino, onde a personagem principal sofre por se tornar involuntariamente em monstro (um anti-monstro), mas mais do que isso, tal como A Bela e o Monstro cita também um amor impossível e trágico, e Emily Blunt é aqui crucial como personagem e interpreta muito mais do que aquele simples e habitual interesse amoroso quase sem finalidade.

Pode-se muito bem dizer que esta nova versão de O Lobisomem está para o cinema como o Dracula: de Bram Stocker, de Francis Ford Coppola. E apesar de The Wolfman ter dividido bastaste a crítica, fica aqui a minha aposta e a forte recomendação para este filme, numa ressurreição de um terror mais clássico e que irá certamente crescer ao longo dos anos.


NOTA 4 ÓTIMO