quarta-feira, 12 de maio de 2010

"O Preço da Traição"


O prevísivel se tornou algo comum em filmes de suspense. Mas não tem como reclamar. O gênero aprendeu a fazer sucesso dessa forma, assim como o seu público que passou a não se importar com as reviravoltas impostas pelo drama. Desde o início de O Preço da Traição, dirigido por Atom Egoyan, se poderia imaginar que ele terminaria de uma forma trágica. O comum, neste caso, estava impregnado à história do roteiro escrito por Erin Cressida Wilson. Mas com estas reviravoltas já perceptíveis, onde a verdadeira brincadeira é tentar adivinhar como serão as próximas cenas, O Preço da Traição se torna um filme altamente superficial no tratamento da sua história. E, por mais que a história consiga empolgar em alguns poucos momentos, o que se vê é nada mais que o mesmo no filme.

Catherine Stewart (Moore) é uma médica e dedicada esposa que começa a desconfiar do seu marido, David Stewart (Neeson), quando ele perde o vôo de volta para casa e, consequentemente, a festa de aniversário surpresa que ela havia preparado para ele. Esta crise inicializada por ela dá início a uma megalomania. Achando que estava sendo traída pelo seu marido, ela contrata os serviços de Chloe (Seyfried), uma dessas prostitutas que são pagas para serem acmpanhantes. Neste caso, ela estava recebendo para seduzir o marido de Catherine. A história avança, Chloe e David parecem ter encontros casuais em um café até que a relação começa a ficar mais quente, interferindo diretamente no casamento que eles tinham.

A desconfiança de Catherine se dá em diversos momentos, seja quando David está conversando com alguma aluna pelo computador ou quando ele trata bem uma garçonete. Esta paranoia na qual ela enfiou o seu casamento é uma das provas da crise de meia-idade que ela começa a passar, sendo estes um dos assuntos que são abordados pelo filme. Entretanto, a história vai além do que isso. E o espectador poderá perceber estas mudanças a partir do momento em que Chloe se mostra apaixonada por Catherine. As duas passam, então, a viver uma paixão intensa. A esposa, que não se sentia mais desejada, encontra nos braços de uma jovem mulher o que ela não estava encontrando em seu marido.

Assim, Julianne Moore e Amanda Seyfried proporcionam cenas de prazer e fazem um bom trabalho de atuação. Logo quando Catherine aparece em cena, é possível perceber a sua maneira ciumenta com que trata o seu marido tentando protegê-lo para si. Em outros momentos, ela demonstra desconforto e inveja ao olhar para outros casais se beijando apaixonadamente nos restaurantes que frequentam. Tudo isso serve de mola propulsora para ela se envolver (casualmente?) com a mulher que ela pagava para seduzir o seu marido. Por isso, Amanda Seyfried vem se consolidando como uma excelente atriz (desde o filmeMamma Mia!). Aqui ela tenta desempenhar um bom trabalho, mesmo sendo limitada por um roteiro fraco e superficial.

Esta superficialidade está ligada às narrações de Chloe sobre os possíveis encontros que ela tinha com David. Ainda que seja empolgante notar como tudo isso vira uma “bola-de-neve”, na virada da narrativa em que tudo fica claro (e já estava bem antes para quem assistia), ele se concentra em começar a anúncia a tragédia que aconteceria. A trilha cria um clima maior de suspense mas, obviamente, recai nos clichês dos gêneros em que o espectador já está acostumado com este tipo de filme. Isso, claro, não faz dele uma obra ruim ou boa. Mas talvez perca a sua força por não ter o intuito de ousar (apesar desta também não ser a proposta da história ao apresentar os fatos e os personagens). Ao se concentrar nas duas mulheres, Liam Neeson perde espaço e se torna linear do início ao fim.

O Preço da Traição é um filme sobre confiança e até que ponto cada um decide chegar para conseguir a verdade. Mesmo que exista amor em um relacionamento, é impossível que ele consiga caminhar apenas com este sentimento. Outros, que são também de extrema importância, costumam alinhar para que as coisas dêem certo. Catherine estava passando por uma crise. Chloe é uma jovem mulher “perseguidora”, que se apaixona e não aceita o fato de receber “não” de ninguém. Afinal de contas, para ela não se tratava apenas de dinheiro. E não prefiro acreditar que tudo isso foi planejado, pois seria coincidência demais a forma como elas se conheceram dentro do filme. O Preço da Traição não é um filme ruim (é bom que se diga). Mas se torna cansativo ao se tratar dos mesmos elementos já trabalhados em outras obras do gênero.

NOTA 2: REGULAR