quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"O SOLTEIRÃO"


Logo nos primeiros minutos do filme, somos logo apresentados as primeiras imagens com a canção “Solitary man”, cantada por ninguém menos do que o Grande e lendário Johnny Cash e sua eterna voz de sepulcro, a partir daí já sabemos que não veremos qualquer filme para passar o tempo, e sim um dos grandes filmes de 2009 que chegará aos cinemas aqui no país bem atrasado e que terá sua premiére no “Festival de Cinema do Rio”.

Em “O Solteirão”, somos apresentados a Ben Kalmen, um nova-iorquino, ex-vendedor de sucesso, que após ter engendrado um esquema para forjar resultados no meio de negócios onde trabalhava , se viu obrigado a pagar uma gigantesca multa e a perder qualquer credibilidade no ramo de automóvel.

Mas o filme começa um pouco antes, quando Ben está no médico e este o informa que o coração tem uma irregularidade. Assustado, Ben é um homem que gosta de viver e não aceita a mera sobrevivência. O risco é uma imposição da sua arrogância e para ele nada parece impossível.

Mas só alguns anos depois dessa consulta somos confrontados com os fatos da sua vida. Aí ele já está junto com outra mulher, que engana constantemente, tal como o fez com a primeira esposa. Nos negócios ele parece que está pronto a voltar a atacar, mas é mais conversa que certezas, num mundo onde quem indica e se conhece, junto com o tráfico de influências são fundamentais. Quando Ben se envolve sexualmente com a filha da sua nova parceira, todos os pilares da sua existência ruem, e ele acaba por se ver isolado, sem trabalho e sem a própria companhia da filha e do seu neto, demonstrando estar visivelmente cansada e indignada com o estilo de vida arriscado em que ele sempre viveu.

Todo orientado em torno da interpretação de Michael Douglas, “O Solteirão” é um interessante ensaio anti-cliché, especialmente porque a personagem principal continua sempre a viver como deve, repleto de vícios, e não como a sociedade acha moralmente correto. Douglas tem uma interpretação fulminante, num filme que certamente vai estreiar para aproveitar o regresso do ator em seu personagem mais famoso do cinema ,com ‘Wall Street 2”.

Ao seu redor, encontramos um intenso grupo de atores secundários consagrados,destacando-se Susan Sarandon , interpretando sua ex-mulher, Danny DeVitto como seu parceiro dos tempos de faculdade e Mary-Louise Parker como sua atual namorada, sem esquecer Jesse Eisenberg, como seu “pupilo” (que brevemente veremos em ‘The Social Network) e Imogen Poots que foi uma grata surpresa em uma bela atuação como a filha da sua namorada.

No final, há várias razões para se gostar de “O Solteirão”, o filme é como se fosse aquela obra de arte rara: um drama para adultos, com momentos de comédia de humor negro, uma ternura inesperada e uma dor muito sentida, se de início você começa a odiar o homem que Douglas interpreta, ao longo da projeção você pode despertar outro tipo de sentimento em relação a seu personagem, em determinada cena, quase ao seu final, quando a namorada de Cheston rebate a pergunta de Ben, dizendo que ela gosta dele porque ele é “carinhoso, doce , inteligente e gentil”, a resposta de Ben é quase insuportavelmente triste. “Certa vez eu também já fui assim querida”, diz ele, “isso não dura”.

Realizado por Brian Kopelman, muito conhecido em hollywood como grande roteirista, mas que dessa vez tomou as rédeas do projeto, “O Solteirão” acaba sendo um interessante e complexo estudo de uma personagem, que não conseguimos odiar, muito menos amar, mas que com certeza não passa desapercebido.


NOTA 5 EXCELENTE

terça-feira, 28 de setembro de 2010

"O AMERICANO"


O Americano é um filme que você vai amar ou então vai ficar extremamente frustrado, dependendo da paciência que você tem por ser um filme lento, e também se você gosta ou não de filmes de arte.

Para aqueles que possuem as duas características acima mencionadas, a recompensa é uma abordagem totalmente minimalista para o cinema, e a oportunidade de saborear um desempenho brilhante de George Clooney, que transmite a vulnerabilidade do seu caráter e seus defeitos na medida exata para o personagem.

Baseado no romance "A Very Private Gentleman", de Martin Booth e anunciado como um thriller de suspense, "O Americano" é diferente de qualquer filme convencional do gênero. Não há seqüências de luta de alta tensão, explosões ou perseguições de carro. Em vez disso, é uma versão estilizada, estudo de personagem em profundidade, cuidadosamente construída de acordo com a sensibilidade europeia, mas emprestado um disfarce que pode ser melhor descrito como um western com fortes conotações italiana, muito parecido com o western spaghetti que satiriza em uma cena.

O Diretor de Anton Corbijn foi influenciada pelo faroeste que viu quando criança e foi cativado pelo conceito do solitário que chega sem avisar em uma pacata cidade em busca de solidão.
Corbijn um diretor desconhecido do mainstream do cinema, também começou sua carreira como fotógrafo de sucesso, um fato que não deixa de ser fácil de perceber pelo público. fotos espetaculares de Abruzzo, região montanhosa a leste de Roma são de tirar o fôlego e os cenários, tão vibrante e ricos, que assumem um caráter próprio, um grande contraste com o diálogo escasso e ação que distinguem este filme dos outros do mesmo tema.

Personagem de Clooney é Jack, um assassino treinado, cujo último trabalho na Suécia termina de forma frustrada.Constantemente em movimento, ele volta para o interior da Itália para buscar a solidão e, aparentemente, uma pausa na sua existência como um assassino atormentado sempre olhando por cima do ombro, espreitando sempre o inimigo.

Lá, ele assume uma missão para montar um rifle de especialidade para uma misteriosa mulher, Mathilde (Thekla Reuten). Ao longo da primeira parte do filme, há pouco para dar algum sentido de que Jack está ou de onde ele veio. Monossílabos com uma pitada de eventuais frases curtas permeiam o filme.

Embora em seu ano sabático nas montanhas de Abruzzo, ele faz amizade com um padre local, Padre Benedetto (Paolo Bonacelli), que quer salvar a sua alma dos pecados dos quais ele não tem idéia. Ele também desenvolve um caso com uma prostituta local, Clara (Violante Placido). Aos poucos (e eu quero dizer lentamente) sua ligação se transforma em romance, mas é então que o passado tumultuado Jack volta para assombrá-lo.

O que alguns podem achar difícil de superar, são na verdade, as coisas que fazem o filme se destacar. É uma produção mais longe o possível do cinemão comercial de Hollywood. cenas longas sem muito diálogo, pode ser entediante se você não fizer uma conexão com o personagem desde o início. Durante quase toda a primeira hora, a história gira em torno da criação de personagem de Clooney na Itália e enviá-lo para o trabalho que ele faz meticulosamente na fabricação de uma espingarda que ele acaba desconfiando do real motivo que ela foi programada para ser feita.

Ainda assim, Clooney está no seu papel, transformando em uma performance de primeira linha, como um homem a procura da sua alma criminal, que procura fugir de sua realidade interna. Sem palavras para ecoar as emoções que ele procura expressar, ele conta principalmente com uma sutileza que é pra poucos atores - o olhar em seus olhos, um tremor leve de um sorriso de canto de boca - crescendo para o suspense elevado e emoção que o filme constrói desde o seu início, culminando em uma maneira que pode não ser exclusiva, mas com certeza, é refletido de forma incomparavelmente única.

NOTA 4 ÓTIMO

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"AMOR POR CONTRATO"


The Joneses ou Amor por contrato, em mais uma infeliz tradução tupiniquim, quem pasmem!! Anteriormente iria ser lançado com o título “Que família é essa?”, não sei aonde que esses caras que dão título ao filme estão com a cabeça, mas enfim, é um filme totalmente desconhecido que entrou em cartaz (nos EUA) em abril e que até agora não tem data certa pra chegar aqui, ao que parece, deve chegar por aqui em novembro. Tomara que realmente apareça por aqui também, porque vale a pena, é daquele tipo de filme que te faz refletir após a sua projeção.

O filme é estrelado por Demi Moore, que vive o papel de Kate Jones, uma mulher com um padrão de vida perfeito e invejável para todos (que tem muito dinheiro) e que através de seu estereótipo consegue fazer seu "trabalho" com quem está ao seu redor, aliás, não só ela como sua "família" também faz. O "marido" é Steve Jones (David Duchovny), e seus filhos são Jenn Jones e Mick Jones (Amber Heard e ben Hollingsworth, respectivamente).

O termo "família" para este grupo realmente não se aplica e é totalmente superficial, não vou entrar em "Spoilers" e dizer o porque, que é onde entra a graça do filme e tem um fundamento de verdade em volta do enredo desdobrado pelo seu diretor Derrick Borte (este é seu primeiro filme como diretor). Mas posso dizer que a base da realidade do filme vem do fato dos grandes atores e celebridades que "vendem" o que veste e usa pro mundo inteiro, ou pelo menos pra quem pode comprar, e essa é a grande sacada do filme que é chamado de Marketing Invisível.

Vale ressaltar que o filme foi classificado como drama, mas que de drama não tem nada, se tem é pouca coisa, porque o traçado do filme não deu muitas brechas para se tornar de tal forma. Na verdade o grande barato do filme é o foco principal mesmo, sem muito detalhes e dizeres.

Pode se dizer que The Joneses inovou no tema abortado, pode parecer não tão novo para quem vive no mundo real dos comerciais dos produtos de grife, mas se deparar com um cinema e ver que este filme começou a rodar o mundo agora (o filme foi produzido em setembro de 2009, no Canadá) pode ter certeza que você vai conhecer o trajeto de seus 96 minutos e ainda poderá "adivinhar" o final mais que previsível, que por sinal se torna mais uma vez "brochante" com clichês que nunca vão morrer no cinema popular, que é onde o "bem" vence o "mal", mas mesmo assim o filme consegue se destacar com ótimas atuações de Demi Moore e David Duchovny (a melhor coisa do filme) que realizam muito bem a mensagem que está por trás do filme. Recomendado.

NOTA 4 ÓTIMO

domingo, 26 de setembro de 2010

"COINCIDÊNCIAS DO AMOR"


Quando visualiza-se o título de “Coincidências do Amor” (em mais uma tradução deplorável) juntamente com a foto de Jennifer Aniston no pôster, é praticamente impossível não associar o filme a mais uma comédia romântica protagonizada pela atriz, além de gerar uma certa dúvida acerca da qualidade da obra. Afinal, atualmente Aniston é a rainha do gênero, tendo trabalhado em filmes como “O Amor Acontece”, “Caçador de Recompensas”, “Ele não Está tão a Fim de Você”, “Dizem Por Ai” e tantos outros, sempre como a mocinha pela qual o mocinho se apaixonará ao longo da história.

No entanto, Aniston parece ter lapsos de boas escolhas ou mesmo fugas de sua “zona de conforto”. Foi assim com o agradável “Amigas com Dinheiro” e o mediano “Fora de Rumo”, que lhe proporcionaram interpretar papéis mais dramáticos. Mas agora já se pode acrescentar mais um longa para essa sua curta lista. Desviando-se de buscar na beleza e na simpatia da atriz seu principal objetivo, esta dramédia surpreende com seu inteligente texto, direção competente e boas atuações, principalmente do companheiro de tela de Aniston, o qual eu sempre tive uma certa desconfiança, mas dessa vez ele me surpreendeu,Jason Bateman.

Aniston e Bateman interpretam o casal Kassie e Wally. Não, eles não são namorados ou casados, mas sim amigos de longa data com incrível intimidade e harmonia entre si. Incapazes de acharem o par perfeito para que possam constituir família, eles seguem em suas bem sucedidas carreiras, vivendo e apreciando Nova York. Até que Kassie tem a idéia e a posterior certeza de fazer uma produção independente: quer ter um filho sozinha, através de uma inseminação artificial comum.

Com o doador escolhido, ela chega até a fazer uma festa para celebrar essa nova etapa em sua vida. A comemoração, porém, acaba provocando uma troca de conseqüências drásticas. Wally, um homem brilhante, mas cheio de manias, além de temporariamente embriagado, substitui o sêmen do forte e atlético doador Roland (Patrick Wilson) pelo dele. A imediata mudança de Kassie para outra cidade, então, os afasta. Sete anos mais tarde, no entanto, quando ela e seu filho retornam para a Big Apple, Wally percebe que o menino não se parece apenas fisicamente com ele, mas possui semelhanças em praticamente todos os âmbitos.

De fato, a sinopse de “Coincidências do Amor” contribui para aquela desconfiança desagradável. Mas a cena de abertura do longa já revela que não se está diante de um filme raso, previsível e acima de tudo comum. A descrição de Wally acerca da correria da vida mundana, com planos que exibem a rotina das ruas e dos metrôs de Nova York, deixa claro que esta é uma película diferente. Trata-se de um filme com ritmo e tom próprios, verdadeiro em seus sentimentos e dono de uma leve dramaticidade que conquista.

Boa parte dos méritos aqui estão no roteiro sensível de Allan Loeb, ele sabe como fugir dos clichês e contar uma trama com um desenvolvimento gradual, que principalmente acerta na composição da personalidade de seu protagonista. Wally é um homem sem nenhum atrativo especial, mas nem por isso menos carismático. Seu mau-humor, sua neurose acerca de tudo e até a maneira como geme ao comer são convertidos em características positivas em relação ao público. É difícil não se afeiçoar com ele.

Além disso, o roteiro é sensível ao tratar a relação dele com sua amiga. Absolutamente apaixonado por Kassie, Wally não tem coragem de se declarar. É medroso. Não quer arriscar perdê-la. E talvez por essa hesitação, além da incrível sintonia que possuem, eles pareçam feitos um para o outro. Então, quando ela parte da cidade, mesmo que durante poucos minutos durante a projeção, a saudade não se torna apenas uma sentimento de Wally. E inegavelmente, este é um sinal que conta inúmeros pontos a favor do filme.

A volta de Kassie, entretanto, representa bem mais do que um sinal de que o casal ficará junto. Representa também uma incrível queda de qualidade no longa. Ao inserir Sebastian (Thomas Robinson), filho da personagem de Aniston, na trama, o roteiro se perde em meio a piadas bobas, diálogos forçados e situações que buscam exibir as semelhanças entre pai e filho, indo da maneira como agem até aquele mesmo modo de comer. A antes simples figura do personagem de Patrick Wilson também se converte em uma caricatura desnecessária.

A situação não fica pior porque a direção de Josh Gordon e Will Speck é segura e decide não seguir com a fuga de tom do roteiro. Nesse sentido, uma cena é bastante representativa. Na sequência em que Bateman revela em plena reunião de família o segredo que guarda a tempos, o tapa de Aniston interrompe o que poderia ser um tumulto de conseqüências devastadoras para o sucesso do filme. Em condições normais, o Wally que a trama apresenta na primeira hora de duração jamais teria uma atitude como essa.

Mesmo assim, “Coincidências do Amor” se constitui uma surpresa, trazendo ainda em suas atuações um triunfo. Se os coadjuvantes Jeff Goldblum e Juliette Lewis, como os amigos inseparáveis dos protagonistas, cumprem muito bem uma função cômica, os próprios não deixam a desejar. Jennifer Aniston surge mais comedida e não menos eficiente. Ela deixa para Jason Bateman o papel de estrela, e ele sabe o que fazer, em uma performance que transita sabiamente do drama a comédia. Esta é mais uma bola dentro da atriz, que parece melhor quando permite que os outros brilhem em seu lugar.

NOTA 3 BOM

"GENTE GRANDE"


Repetição. Essa é a palavra que resume o novo filme dos inseparáveis Dennis Dugan e Adam Sandler. Recolhendo o substrato de piadas e situações de seus trabalhos antigos, os dois transformaram “Gente Grande” em mais um produto de humor barato, apelo dramático amador e desfecho previsível. O que resta ao público é se apoiar no carisma de Sandler para ter a chance de esquecer as falhas do que está vendo e se deixar levar por um roteiro que poderia dar certo.

Em “Gente Grande”, acompanhamos a reunião informal de cinco amigos e suas respectivas famílias. Lenny (Adam Sandler), Eric (Kevin James), Kurt (Chris Rock), Marcus (David Spade) e Rob (Rob Schneider) estudaram juntos e entregaram ao seu mitológico treinador o troféu de primeiro lugar do campeonato de basquete da cidade. 30 anos depois, sensibilizados pelo velório do ex-técnico, os amigos decidem alugar uma casa de campo e reviver os anos de glória da equipe.

Se o argumento principal decepciona, as tramas paralelas conseguem elevar a qualidade do roteiro de Sandler e Fred Wolf. As famílias dos protagonistas guardam peculiaridades interessantes e as sequências em que aparecem garantem boas risadas.

No papel da esposa de Lenny, Salma Hayek vive uma empresária do mundo da moda, mais preocupada com o andamento de seu desfile em Milão e com o videogame de seus filhos.
O rol de personagens curiosos avança ainda com um garoto crescido que não abandonou o leite materno, crianças mimadas, filhas que traem o lamentável tipo genético do pai, uma sogra metida e uma esposa centenária. São eles que sustentam a trama cheia de falhas e compensam a falta de humor das situações vividas pelos protagonistas.

Para o público brasileiro e para culturas mais distantes do centro irradiador norte-americano, o excesso de referências e links propostos pelos personagens pode comprometer algumas piadas. Para aqueles que assimilam as alusões, uma constatação: seu humor não funciona.

As demais tiradas cômicas seguem o padrão fílmico de Sandler, com tombos, piadas infantis e alguma escatologia. Não há mais do que isso, e a equipe envolvida na realização do longa não parece muito interessada em ultrapassar a fronteira de qualidade que marca as comédias do gênero. Desde o roteiro, passando pela construção das situações cômicas, pela direção e pela atuação do elenco, nada passa do limiar da falta de originalidade.

Dennis Dugan imita o convencionalismo da direção de seus filmes anteriores, como “O Paizão”, “Eu os Declaro Marido e… Larry” e “Zohan: um Agente Bom de Corte”. Todos os aspectos técnicos abraçam o que já foi testado pela parceria entre o diretor e a produtora Happy Madison, de Sandler.

A trilha sonora é marcada pelos grandes nomes do rock. Se em “Click” Adam Sandler demonstrava seu bom humor ao som de Peter Frampton, The Strokes e The Cranberries, em “Gente Grande” ouvimos boas músicas de Aerosmith, AC/DC e Paul McCartney. Nada mais apropriado para embalar o reencontro de trintões ensandecidos.

Nesse retorno proposital aos fundamentos da comédia pastelão, o humor óbvio e sem graça dos cinco amigos se encaixa bem. Para quem riu dos filmes anteriores de Sandler e para quem gosta de ver as mesmas piadas disfarçadas em situações diferentes, “Gente Grande” é a comédia do ano. Aqueles que estão cansados de tombos e declarações de amor perdidas entre escatologias desnecessárias, devem fugir dos cinemas.

NOTA 2 REGULAR

"O GOLPISTA DO ANO"


Vamos direto ao ponto. “O Golpista do Ano” é um filme mais descartável que o habitual. Baseado no livro “I Love You Phillip Morris”, do jornalista Steve Mcvicker, o longa narra a história real de Steven Russel (Jim Carrey), um picareta que, após um acidente quase fatal, decide vivenciar plenamente sua homossexualidade. Mandando a esposa e filhos às favas, e fazendo uso de um sistema infalível de arrecadação de dinheiro por meio de golpes em seguradoras, o novo gay passeia pela cidade com um chiuaua na mão, Rodrigo Santoro na outra e muitos cartões de crédito no bolso.

Como a polícia americana é eficiente e os criminosos são punidos, a farra de Russel chega ao fim. Até a conclusão do longa somos apresentados aos planos e execuções magistrais do personagem em busca de sua liberdade e da conquista de um lugar definitivo ao lado de seu novo amor, Phillip Morris (Ewan McGregor), um “gay loiro e de olhos azuis” que cumpre pena por não devolver um veículo alugado.

Dirigido pelos desconhecidos Glenn Ficarra e John Requa, “O Golpista do Ano” mais parece um amontoado de características que poderiam dar certo. É quase divertido, quase dramático, os atores quase se encaixam nos papéis, e até a trilha sonora, com acordes de influência claramente espanhola, quase dá certo. Em poucas palavras, estamos diante de um quase filme, que em seu resultado final está mais próximo de um quase nada.

Que Jim Carrey precisa de mãos seguras como as de Michael Gondry, em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, e Peter Weir, em “O Show de Truman”, para conseguir externar expressões que ultrapassem seus habituais exageros cênicos e carreguem algum apelo dramático, é fácil perceber. Sob o comando de dois diretores inexperientes, porém, o ator não percebe limites e acaba realizando mais uma de suas incômodas aparições.

O brasileiro Rodrigo Santoro, dada sua difícil jornada rumo ao reconhecimento internacional, ainda precisa se submeter a projetos duvidosos. Felizmente, sua presença se resume a algumas poucas sequências. Não é o caso de McGregor, que entrou para o rol de personalidades que estão decaindo nas suas escolhas para trabalhos no cinema , ao lado do cineasta M. Night Shyamalan e do esforçado Adrien Brody. É desanimador constatar que o ator de “Trainspotting”, “O sonho de cassandra” e“Star Wars” perdeu seu tempo com produções da qualidade de “O Golpista do Ano”.

Se os traços anteriores ficaram na linha do quase, o trabalho técnico fica no patamar do nulo. Com artifícios exaustivamente utilizados por dez entre dez filmes lançados pelo grande circuito comercial, o longa é o exemplar mais recente da falta de originalidade. Nada aqui parece ser novo e tudo foi preparado de modo a fazer uso do que já foi positivamente (R$) comprovado em termos de audiência.

É uma produção tão insignificante que até a maneira absurda encontrada para retratar a rotina de um casal homossexual não parece digna de assunto para um parágrafo. Mesmo assim, vale a pena destacar que enquanto abraços, beijos e carícias entre pessoas do mesmo sexo forem motivos para risadas e argumentos pra fazer humor, a tão almejada igualdade e o respeito à liberdade sexual não serão alcançados.

Quando o filme não consegue te levar a nenhum extremo, como é o caso desse “O Golpista do Ano”, não vale a pena nem ficar aborrecido com seus defeitos. O que nos resta é lamentar pelo montante de dinheiro usado para sua realização.

NOTA 1 RUIM

"ONDINE"




Ondine é um conto de fadas moderno que narra a história de Syracuse (Colin Farrell), um pescador cuja vida se transforma quando ele encontra uma mulher linda e misteriosa (Alicja Bachleda) em sua rede de pesca. Sua filha Annie (Alison Barry) passa a acreditar que a mulher é uma criatura mágica, leia-se sereia , enquanto Syracuse apaixona-se desesperadamente por ela. No entanto, como todos os contos de fadas, a magia e a escuridão caminham lado a lado.Escrito e dirigido pelo premiado Neil Jordan no qual rodou o filme nas belas costas irlandesas.

Gostei muito mais em ver Colin Farrell fazendo um tipo de filme "diferente" do qual os policiais da S.W.A.T. que ele estava acostumado a fazer do que o filme propriamente dito.
A história é até relevante, tirando o "once upon time..." que envolve todo o enredo infantil do inicio, fora que eu estava adiando para assisti-lo já há algum tempo, aproveitei a oportunidade para assisti-lo devido a escolha do filme para ser um integrante da mostra de cinema “Festival do Rio”.

Ondine conta uma história um tanto quanto diferente, não é um fato determinante para assistir mas não torna o filme arrastado. O que deixa o filme interessante mesmo são as atuações de Farrell [Syracuse - nome Irlandês, onde o filme foi gravado], Alicja Bachleda [Ondine - Linda moça, que procurando mais afundo alguns trabalhos dela descobri que a maior ocupação dela é ser namorada de Colin Farrell]. Tendo nenhuma relevância o fato dos dois ser namorados, a garota [Alicja - mexicana] faz um belo papel, dentro de suas limitações óbvio que as vezes tem que apelar a sua sensualidade em suas curvas, ao invés de ser focada em sua atuação como um todo.

Outra atriz que tem um papel notório é Alison Barry [Anne, filha de Syracuse]. Uma garotinha desconhecida também que até o IMDB não tem muitas informações da mesma, mas acredito que pode-se dizer que a jovenzinha tem um potencial, não após este filme que não terá muita expressão, mas que ainda é jovem e deve acertar uma bela carreira.

Explicado os integrantes mais importantes do filme, partimos para a análise do diretor Neil Jordan, "adivinha?" é o tipo de cara que não dá pra dizer que é popular pelos seus filmes, acho que os filmes de maior visão foi "A Companhia dos Lobos, 1984", junto com Entrevista com vampiro de 1994, mas já dirigiu outros 18 filmes e sabe bem o que é fazer isto, como no excelente Michael Collins com o aclamado Liam Nesson e neste longa consegue trazer um pouco de sentimentalismo para Farrell e sua namorada.

Ondine é simplesmente para análise crítica, não é um grande filme pra ninguém, somente por alguém como eu que goste de Colin Farrell e suas atuações e ficou curioso para ver como ele se sairia em fazer um drama romântico.

NOTA 2 REGULAR

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

"DIÁRIO DE UM BANANA"


Ultrapassar a vendagem de grandes best-sellers, como Harry Potter e A Menina que Roubava Livros, é um resultado para poucas obras literárias. Para os quadrinhos, então, é algo quase inatingível. No entanto, como a lógica nem sempre se consagra como “dona da razão”, o diferente e, de certo modo, inovador Diário de Um Banana (Diary Of A Wimpy Kid), de Jeff Kinney, realizou tal façanha, figurando por um ano na lista dos mais vendidos do New York Times.

Numa mistura entre texto e desenhos, fugindo do padrão convencional da literatura e dos quadrinhos, a obra narra os conflitos, angústias, desejos e atitudes de Greg Heffley, um pré-adolescente de 11 anos, que conta em seu diário os desafios de lidar com sua família desajustada, enfrentar os valentões da escola e sobreviver ao ensino fundamental. As maneiras peculiares que Greg encontra para lidar com seus problemas e conquistar sua popularidade no colégio ajudaram a fazer o sucesso da HQ, indicada ao Harvey Awards 2008 (o Oscar dos Quadrinhos).

A adaptação para o cinema tem seus acertos e seus defeitos, mas com certeza é um filme agradável de se assistir, com um conteúdo leve e com momentos bem engraçados e oportunos.

Um dos maiores defeitos do longa é em relação a escolha do garoto principal, que ao meu ver deixou a desejar, mas em compensação o elenco de suporte , quase todo sem exceção, funciona muito bem, com destaque para o gordinho melhor amigo de Greg e também para o esquisito e altamente nerd fregley que é muito engraçado e possui bons momentos na trama.

Outra falha do filme é não conseguir surpreender o expectador em momento algum. Tudo o que acontece é previsível demais, fácil demais. Exemplos: Quando Greg se tranca no quarto para fugir do seu irmão mais velho, que fica esperando na porta, é óbvia a piadinha infame do sapato vazio, quando Greg vai fazer a audição para o musical da escola, e todos começam a cantar muito mal, é óbvio que ele iria de destacar e cantar bem. E por aí vai…

A tal história do cheese touch rende algumas risadas e também serve para algum tipo de lição de moral ao final da trama.

É um filme feito especialmente paras as crianças , mas pode agradar também aos adultos de forma menos incisiva, mas com certeza comparando com os últimos filmes infantis como o fada do dente, marmaduke dentre outros sofríveis, esse se destaca e muito, então vale a conferida mesmo se você tiver mais de 10 anos. Zoo-wee-mamma!!!

NOTA 3 BOM

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"AMEAÇA TERRORISTA"


Existem filmes que contam bem histórias ruins, existem filmes que contam mal boas histórias, existem filmes que contam bem boas histórias e, ainda, existem aqueles filmes que vão além, em vez de contar meras histórias, passam mensagens e nos fazem pensar. Ameaça terrorista/ Unthinkable é um desses filmes. Em vez de nos prender pela curiosidade ou emoção, o filme nos prende pela consciência.

Não é um filme fácil de assistir, e estou certo de que a grande maioria não vai apreciar, por causa de toda a sua violência. É um filme que incomoda, embora o que incomode não sejam as sessões de tortura e sim o dilema vivido pelos personagens, em especial a Agente do FBI vivida por Carrie-Anne Moss - a eterna Trinity de Matrix - dilema que ultrapassa a tela e vem bater direto na nossa cara.

Ameaça terrorista mostra o estado de alerta que acomete os Estados Unidos desde o incidente de onze de setembro. Mostra toda a fragilidade do país apesar dos inúmeros esforços para se manter livre de novas ameaças estrangeiras. Mas o filme não para por aí, e mostra que depois de tanta guerra, tanta ideologia, não existe mais certo ou errado, mocinhos ou bandidos, aliados ou terroristas. Todos são culpados e todos estão errados. Tudo é justificável mas nada se justifica.

O filme mostra duas das piores manifestações da covardia do ser humano, a tortura e o terrorismo. Atos cruéis praticados contra pessoas indefesas. E ao mesmo tempo, uma questão é levantada: Há justificativa para tais atitudes? Existem situações onde tais atos são a coisa certa a se fazer? Confesso que eu não me apresso em dar uma resposta a essas questões. O ideal seria que essas questões não existissem, mas o homem é capaz de coisas terríveis.

Não deve haver sofrimento maior do que ficar preso, indefeso, nas mãos de um torturador e sofrer as piores aflições físicas que a mente humana consegue imaginar. Definitivamente a tortura não deveria existir. Mas, e se o torturado for um terrorista? Nesse caso pode? Imagine que um maluco escondeu uma bomba em algum lugar e, se explodir, matará milhares de pessoas. Seria válido torturar esse excomungado para forçá-lo a revelar o paradeiro da bomba? E se mesmo sob tortura ele se negasse a falar, qual a solução? Há algo ainda pior e mais efetivo? Deve haver, mas é algo impensável (Unthinkable, captou?).

É um filme ousado, que trata de temas delicados e atuais. A produção é competente, embora não seja nada excepcional. Samuel L. Jackson está muito bem em seu papel. O filme tem a capacidade de prender a nossa atenção e nos deixar angustiados, o que é melhor que permanecer indiferente. Além disso, o final conta com uma pequena surpresa que dá um último gás, um sprint, e encerra a história de forma competente.

Para quem não estiver preparado, o filme pode ser visto como imoral, excessivamente violento e subversivo. Além disso, o filme é excessivamente americanizado e não abrange de forma consistente os dois lados em conflito, o que poderia causar um dilema ainda maior para o público - considerando que a intenção do filme seja nos fazer refletir.

NOTA 4 ÓTIMO

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"DESTINOS LIGADOS"


Três mulheres. Incapazes, incompletas e absolutamente desarmadas. Três vidas ligadas por outra existência que remete aos tempos da concepção. Reflexões sobre a incompetência humana de reverter situações que foram condicionadas em sua base e resolvidas no outro extremo da existência, tardiamente. “Destinos Ligados” direciona o público naquela ferida que, em busca de uma (sobre)vivência mais confortável, é deixada de lado, escondida, propositalmente esquecida pelos anos.

Em tempos de criações mecânicas e elétricas que desafiam as leis naturais e colocam em dúvida as limitações originais e históricas do homem, temos um filme sobre incapacidades. E a principal delas é a humana. Por isso, talvez, seja desconfortável ver projetada, em uma tela gigante de cinema, para ser assistida e comentada, aquela verdade que você carregava meio de lado, meio segredo: aquela solução jamais encontrada. Ou, ainda pior, inexistente.

A personagem de Naomi Watts partiu de uma infância traumática para uma carreira jurídica bem sucedida. Nesse percurso, alheia aos olhares vigilantes das regras de convivência, tornou-se uma mulher solitária e ambiciosa, e decidiu conseguir para si o que lhe foi negado desde o seu nascimento. E é perdida nessa busca sem fim que a personagem desce mais fundo em sua solidão.

Em outro ponto da cidade, Annette Bening vive uma enfermeira de meia idade amargurada por lembranças que não ousa verbalizar, embora seus atos traiam suas ambições e revelem um passado não resolvido. Na tentativa de suportar sua inércia, a personagem cria para si um modelo de conduta que exige certezas antes de demonstrar o que ainda lhe resta de humano.

O elenco de protagonistas ainda abre espaço para Kerry Washington, que enfrenta sérios problemas para dar um filho ao marido. Entre salas de centros de adoção e se sujeitando aos caprichos de uma adolescente grávida, a personagem de Washington condiciona sua felicidade ao alcance de sua meta, cujas ferramentas para atingi-la naturalmente lhe foram injustamente retiradas.

Se essas mulheres são naturalmente complexas, o trabalho do time de protagonistas resgata o que há de mais intrínseco em seus papeis. Confiantes como sempre, Watts e Bening oferecem uma segurança inarrável ao andamento de trama. A primeira delas, habituada aos papéis frágeis que condizem com seu tipo físico, demonstra uma versatilidade impressionante ao assumir um papel que impõe respeito e dominação. Para Bening, não há o que se acrescentar, seu histórico é suficiente. Kerry Washington acompanha os modos pueris de seu papel, mas não deixa a qualidade de seu trabalho cair quando precisa atingir picos dramáticos. Samuel L. Jackson e Cherry Jones completam o rol de atores que merecem destaque.

Se o apuro dramático dos atores e o trabalho impressionante do roteirista podem ser alçados ao título de obra-prima, o conservadorismo técnico de “Destinos Ligados” coloca o filme em um plano mais terreno. As opções de câmera, a linguagem fotográfica e a escolha da música soam de modo arcaico, embora não falhem em momento algum.

Felizmente, este é um filme para ser sentido. Nele, qualquer traço de tradicionalismo técnico parece pouco importante. Caso seja simplesmente assistido, “Destinos Ligados” surpreende pela potência de sua história e segurança de suas atrizes. Para aqueles que decidem assumir sua proposta, tudo o que foi escrito em parágrafos anteriores parece insignificante, incompleto, incapaz. Como eu. Como você.

NOTA 5 EXCELENTE

" O ASSASSINO EM MIM"


O maior medo que a violência pode proporcionar a todos nós nunca será o grau da violência gráfica, mas sim de como essa violência em geral molda o homem e cada ato que fizer seja de uma maneira tão extrema que temos medo não dos seus atos, mas sim os seus significados. É esse o ponto de partida para The Killer Inside Me, novo filme do diretor Micheal Winterbottom.

Anos 50. Em uma cidade pequena do Texas, um assistente de xerife Lou Ford (Casey Affleck) é praticamente um cidadão acima de qualquer suspeita. Pacato, tranqüilo, ajuda a todos os amigos e namora uma moça belíssima e recatada chamada Amy (Kate Hudson). Por trás disso tudo ele demonstra ser uma pessoa diferente do que se imagina e o trabalho de expulsar a prostituta Joyce (Jessica Alba) é o ponto de partida de um desenvolvimento de um instinto que está longe de terminar.

Fiquei interessado em ver o filme quando soube da polêmica gerada sobre ele no Festival de Sundance onde dizem que a atriz Jessica Alba se retirou do festival na hora em que o rosto de seu personagem (a prostituta Joyce) foi mostrado como um tomate estourado depois de levar uma surra do personagem de Affleck, o filme ficou marcado como extremamente violento e perturbador. Claro que isso me chamou atenção. Outro ponto interessante mostrado no filme é a “tara” por bater em bundas que o psicopata Lou tem com as mulheres (Graças a essa mania podemos ver a bela bunda da Jessica Alba e o bundão da Kate Hudson no filme) o que muitos podem até pensar que não tem nada de anormal… Até o filme mostrar como ele (ou de quem) pegou essa mania, putz! Não vou contar pra não perder a graça, mas dai que tive uma idéia de como ele se tornou um psicopata.

Adaptação do livro de Jim Thompson é escrito por John Curran, o livro já teve uma adaptação nos anos 70, mas pouco lembrado. Muitas pessoas saíram com raiva na sessão em Sundance no começo do ano por causa do teor elevado de sua violência e com a ótica sem limites de Winterbottom, culminou uma sessão rica de sentimentos opostos, desde repúdio a admiração.

O roteiro de Curran não poupa em nenhum momento o espectador respirar em paz quando está diante do personagem Lou Ford. Ele o desenvolve de uma maneira tão vil,mas ao mesmo tempo tão sedutor que em cada ato especifico do filme, desde um sorriso maquiado até no olhar após algum ato bárbaro, que facilmente se torna um dos personagens mais cruéis que já tive testemunha na história do cinema. E também, claro, a temática da violência no qual se desenvolve para o personagem em si como um senso comum, como algo rotineiro, e é esse ponto que está a genialidade do seu roteiro, por que transforma a violência psicológica que Lou transmite na tela, em algo mais assustador do que a própria violência gráfica do filme.

Nada seria concreto sem a atuação impecável de Casey Affleck para o personagem Lou. O ator cria um personagem tão assustador que impressiona o espectador em manter por muitas vezes o rosto sereno nos momentos mais tensos. Sem duvida a melhor atuação desse ator, mas não sei se devo manter esperanças de sua indicação a premiações importantes como Globo de Ouro ou o Oscar. Kate Hudson e Jessica Alba representam a sensualidade ao extremo. E também tirar o chapéu para as duas por suportarem dois papeis extremamente difíceis e que conseguem tirar de letra, principalmente Jessica Alba em uma das seqüências mais impactantes e pertubadoras desse ano. Também no elenco tem Simon Baker em uma atuação correta e uma participação interessante, porém fundamental de Bill Pullman.

The Killer Inside Me/ O assassino em mim, sem duvida é um dos melhores filmes do ano em minha opinião, mas dificilmente é aquele tipo de filme que pode recomendar a todos. Mas não por que seja ruim, e sim do seu grau de violencia ser tão alta que consegue chocar até mesmo as pessoas que tem a mente preparadas a ver tudo isso. O que Winterbottom transmite nesse filme, e de uma maneira quase épica, que a pior violência não é aquela que se vê, é aquela que o homem carrega por dentro e o transforma em um estilo de vida.

NOTA 4 ÓTIMO

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"OS COLETORES"


Uma premissa intrigante e original sempre é um bom primeiro passo para o desenvolvimento de uma obra extraordinária. Veja Minority Report, por exemplo, a idéia de prender assassinos antes deles cometerem crimes, baseando-se nas visões de cognitivos. Explorada com maestria por Steven Spielberg, esta é uma ficção científica antológica que expande as barreiras da ciência e cria diversos questionamentos morais. Vingador do Futuro atingiu este mesmo nível de excelência. E isto apenas para citar dois exemplos, em um farto espectro de obras de um gênero rico e limitado apenas pela criatividade e invenção de seus roteiros.

Os Coletores, apesar de tematicamente similar ao pavoroso Repo! The Genetic Opera, conta com uma premissa original - até porque na minha opinião "aquilo" não deveria ter existido. Em um futuro próximo, uma empresa chamada A União financia órgãos artificiais (ou artiforgs), como corações, pulmões, fígados. Aos beneficiários cabem o pagamento das prestações mensalmente, e em caso de atrasos, os coletores do título poderão legalmente extrair o órgão (ou repossuí-lo) do corpo da pessoa inadimplente. Um curioso conceito que o personagem de Jude Law em determinado momento compara com a hipoteca de uma casa por um banco qualquer.

Nas mãos de roteirista e/ou diretor competentes, este conceito não apenas seria expandido satisfatoriamente como facilmente provocaria notórios dilemas. Sem me aprofundar, mas repossuir um coração se resume a um homicídio, ao mesmo tempo em que é perfeitamente justificável pois a propriedade daquele coração é da empresa que se não o houvesse fornecido em primeiro lugar já teria causado a morte do paciente. A própria natureza da descoberta de enxertar órgãos artificiais no corpo humano produziria up grades que antes não seriam possíveis, como uma super audição, ou aperfeiçoamento da visão, dentre outras coisas.

Mas, Os Coletores não está interessado em nada disto. Com sua narrativa extremamente derivativa - similar a Minority Report - Remy (Jude Law), um coletor, ao repossuir um órgão acaba sendo vítima de uma descarga que o torna beneficiário de um coração artificial. Não conseguindo pagar as dívidas e em meio a separação de sua esposa, Remy acaba se voltando contra o próprio sistema que antes defendia, desenvolvendo uma consciência tardiamente. Jake (Forest Whitaker), seu melhor amigo, acaba sendo escalado para repossuir o coração de Remy, que parte em uma cruzada contra A União e todo o sistema.

O diretor Miguel Sapochnik investe em um futuro com trens que andam entre os arranha-céus - alô, alguém viu Batman Begins? -, e apresenta uma técnica de induzir pessoas à beira da morte a um sonho eterno e feliz - igual a Vanilla Sky talvez -, mas tudo que é descrito ou apresentado carece de um ar de novidade, se tornando enfadonho e exaustivo. Até mesmo o interior das casas aparenta-se demais com "o presente" e não um futuro próximo. Se o visual futurísta é ruim, pior o desenvolvimento da narrativa e seu senso de humor desprezível. Por exemplo, testemunhar uma operação cirúrgica realizada por uma criança ou um filho que acerta acidentalmente a mãe com um tranquilizante. No entanto, Sapochnik atinge o fundo do poço em uma cena erótica em que Remy e Beth (Alice Braga), substituem o prazer do orgasmo pela dor de um procedimento cirúrgico manual.

Pobre Jude Law, que no meio da incoerência narrativa acaba não sabendo se está em um filme de humor, um drama, ou uma ficção científica. Atravessando às 2 horas de projeção quase que com um ar de incredulidade, o ator é sabotado sempre quando parecia desenvolver algum arco dramático. Em determinado momento ele praticamente abandona o filho, completamente desviado do caráter do personagem. E se Liev Schreiber parece rir de si mesmo, Forest Whitaker me surpreendeu, negativamente, com as motivações de seu personagem e o porquê dele ter feito o que ele fez me permanece um mistério absurdo (ok, a culpa não é dele, é do roteiro, mas quem mandou assinar?).

Grotesco quando deveria manter-se misterioso e recheado com cenas descartáveis quando deveria ser oportuno e inteligente, o roteiro ainda tenta mandar o espectador para casa com um final surpreendente, que é telegrafado em pelo menos três momentos quando é mencionado ou em um diálogo entre os personagens ou em um anúncio fora de cena. Desta maneira, Os Coletores representa todas as características que uma ficção deve evitar: previsível, derivada, preguiçosa, inepta. Um dos piores filmes do ano, certamente.

NOTA 1 RUIM

" GREENBERG"


As comédias dramáticas são a especialidade cinematográfica de Noah Baumbach, um cineasta que já nos apresentou algumas produções que conseguiram conquistar a crítica especializada, como por exemplo, “Margot at the Wedding” (2007) e “The Squid and the Whale” (2005). “Greenberg” é a sua mais recente incursão neste gênero e tal como aconteceu com os seus últimos trabalhos, Noah Baumbach voltou a convencer a crítica com uma história relativamente interessante que é protagonizada por uma personagem extremamente complexa.

Roger Greenberg (Ben Stiller) é um solteiro de quarenta anos que poderia ser qualificado como um indivíduo deprimido e obstinado. Phillip (Chris Messina) é o seu irmão e é o seu exato oposto porque tem uma atitude positiva, um casamento extremamente feliz e um emprego muito estável e rentável. Phillip decide fazer uma viagem com a sua família ao vietnã e decide deixar a sua mansão entregue ao seu menosprezado irmão que aceita o convite, mas com objetivos perfeitamente claros, ou seja, ele pretende tomar conta da mansão e não fazer rigorosamente mais nada, no entanto, enquanto cumpre os seus propósitos minimalistas, conhece Florence (Greta Gerwig), uma simpática e sempre solitária assistente particular/governanta do seu irmão, que quer se tornar numa famosa cantora. O encontro entre estas duas almas extraviadas acaba por se revelar uma oportunidade única na insípida existência de Roger mas estará ele verdadeiramente preparado para abandonar a sua depressão crônica e começar a viver?

O argumento de “Greenberg” é extremamente competente porque consegue cumprir todos os grandes propósitos que nos são prometidos pela sua premissa, ou seja, consegue oferecer ao espectador uma narrativa muito explícita e muito emocional sobre a fragilidade e a fugacidade da nossa existência e a necessidade que todos nós temos em aproveitar ao máximo a nossa vida. O seu protagonista é uma personagem emocionalmente perturbada que finalmente percebe que os seus últimos anos não correram como o esperado e que a sua existência está submersa num estado emocional verdadeiramente caótico, assim sendo, vamos sendo confrontados com uma verdadeira transformação subjetiva desta personagem que à medida que vai entrando em contato com as suas fragilidades psicológicas vai alterando radicalmente o seu estado de espírito, uma mudança que vai influenciar claramente a forma como enfrenta a sua vida.

“Greenberg” não é um filme muito alegre porque o seu desenvolvimento narrativo não é sustentado por uma construção muito otimista, no entanto, a sua conclusão contraria esta construção porque nos apresenta um final que apela claramente à felicidade e ao otimismo do espectador, ou seja, esta conclusão acaba por retirar algum impacto emocional a esta curiosa produção cinematográfica. As várias personagens que intervêm em “Greenberg” obedecem a uma construção muito completa e a um desenvolvimento muito coerente e interessante, uma característica extremamente positiva que enriquece inegavelmente este filme.

O trabalho técnico de Noah Baumbach em “Greenberg” não é excepcional mas é extremamente satisfatório. O cineasta conseguiu criar um interessante ambiente emocional que acompanha convenientemente os vários momentos importantes do argumento. O elenco de “Greenberg” é liderado por Ben Stiler, um ator que regressou com este projeto aos trabalhos cinematográficos mais sérios e menos superficiais. A sua performance é surpreendentemente competente porque consegue interpretar sem grandes falhas a sua complexa personagem. Greta Gerwig também nos oferece uma excelente e surpreendente performance secundária porque apoia convenientemente o principal desta produção.

A performance comercial de “Greenberg” em território americano não foi muito convincente, uma situação que é facilmente explicada pelo simples fato desta produção não ser emocionalmente atrativa porque aposta num argumento muito negativo que afasta a esmagadora maioria dos espectadores que costumam preferir uma produção cinematográfica que os consiga entreter, no entanto, esta comédia dramática é ideal para todos aqueles que procurem um filme que os obrigue a pensar e refletir sobre nossas vidas e nossas escolhas.

NOTA 4 ÓTIMO

"OS PERDEDORES"


Existe uma grande diferença entre ser um idiota e parecer ser um idiota. Muitos filmes acabam errando na medida e se tornam uma piada ao invés de fazer uma piada. Sátiras geralmente caem nessa armadilha, e se tornam mais ridículas ainda. Há uma linha tênue entre esse dois mundos. E no caso de “Os Perdedores” essa linha jamais é ultrapassada. A proposta é ser um filme divertido, mas não necessariamente ruim; outro erro que muitos cometem. Escuto o tempo todo “Ah, é um filme divertido”. Não. É um filme ruim. E pronto. Pode até ter sido feito com esse objetivo, mas existe filme divertido e bom, vide Homem de Ferro, Piratas do Caribe, e esse sobre o qual vos escrevo.

Os perdedores do título são uma equipe de combatentes vinculados a CIA e envolvidos em operações de alta complexidade e natureza duvidosa e que, por isto mesmo, não podem ser associadas ao Governo Americano. A última delas é marcar um alvo, a mansão de um contrabandista, em plena selva Boliviana para ser destruído em ataque aéreo. Mas, o que eles não sabiam é que seriam traídos e deixados para morrer pela CIA, mais especificamente pela voz no telefone chamado Max (um Charlie, de As Panteras, do mal).

Estabelecendo-se como um exemplar misto de comédia e ação, a cena inicial ilustra claramente as pretensões do diretor Sylvain White. Estabelecendo satisfatoriamente a camaradagem entre os membros da equipe em uma disputa de machões, o diretor em seguida investe na ação, basicamente tiros e explosões, usando bastante o recurso da câmera lenta e do congelamento de quadros (acompanhando a batida da trilha sonora em uma cena específica, o que confesso não tem nenhum valor narrativa, apenas estilístico).

Aliás, em Os Perdedores existe uma predileção pelo estilo em detrimento da substância, mas felizmente com bons resultados. Especialmente, na composição de belos quadros, como a queda do helicóptero, ou no quarto de hotel em chamas até uma inimaginável colisão vista no clímax da narrativa. White também usa os efeitos digitais de forma apropriada, na qual destaco a fuga de Aisha (Zoe Saldana) vista através de um caco de espelho. Finalmente, a narrativa não esquece de algo fundamental: devemos acreditar que aqueles homens realmente são capazes do que fazem e neste sentido, eles se saem ótimos estrategistas como no roubo de um grande furgão.

Embora cada membro da equipe seja estereotipado ou por sua especialidade, a liderança do Coronel Clay (Jeffrey Dean Morgan), ou por um objetivo específico, o reencontro com a esposa de Pooch (Columbus Short), é relevante notar como todos têm bons desempenhos, sem soar como bonecos dos comandos em ação. Se Roque (Idris Elba), revela-se ameaçador, e o franco atirador Cougar (Óscar Jeanada) jamais erra um tiro, o destaque da equipe é o imaturo, e talvez insano, Jensen (Chris Evans). Sempre desfilando uma camiseta colorida, o especialista em informática da equipe protagoniza os melhores momentos de humor do longa, como a invasão da empresa Goliath, pontuada por uma trilha sonora acentuando o aspecto cômico, que revela o podertelecinético” do rapaz.

Além disto, outro destaque do elenco é o vilão Max, interpretado por Jason Patric com irreverência e excentricidade, mas jamais deixando de ser perigoso. Apresentado a partir de seus adereços, o sapato, o relógio, o pin da bandeira norte-americana e a luva na mão esquerda, Max é uma versão light do Coringa, vivendo uma era do "terrorismo verde do século XXI", ele sequer hesita em matar a mulher do guarda-sol porque esta deixou-o brevemente descoberto.

Talvez o elemento realmente perdedor do longa seja o roteiro escrito pelos talentosos Peter Berg e James Vanderbilt. Esquemático e previsível, além disto, as reviravoltas acabam não funcionando quando analisadas em retrospecto. E, a dupla de roteirista comete o erro primário quando em um momento Roque insiste que Pooch não vá para uma missão, quando na cena seguinte ele estimula o companheiro a participar desta.

Desconheço a série de HQ que deu origem ao filme, mas trata-se de uma série criada por Andy Diggle e Jock, que foi publicada pela Vertigo/DC Comics entre 2003 e 2006. O filme é recheado de ação e de uma mistura, na medida certa, de humor entre as cenas e diálogos. “Os Perdedores” cumpre o prometido: não leve nada a sério, e se divirta. Ignore o vilão caricato, as “mentiras”, explosões, pois o filme é honesto. Honesto, essa é a palavra, “Os Perdedores” não é um filme idiota, só quer parecer.

NOTA 3 BOM

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

" PÂNICO NA NEVE"


Joe (Shawn Ashmore), Dan (Kevin Zegers) e Parker (Emma Bell) planejaram um divertido fim de semana para fazerem ski. Tudo estava correndo bem, até que os três amigos resolvem fazer uma última descida quando já ninguém estava na pista, apenas um funcionário que aceitou dinheiro de Parker, e deixou os três amigos desceram mais uma vez a pista, depois de esta, já se encontrar fechada ao público. Mas uma série de mal entendidos acontecem enquanto os jovens sobem a montanha através de um teleférico, e um dos funcionários acaba por desligá-lo, e sem saber, deixar os três jovens presos. Esquecidos na montanha, a mais de 20 metros do chão, sobre um frio congelante, os três amigos terão de arranjar uma solução para escaparem vivos, e não morrerem congelados.

Adam Green ficou conhecido por ter realizado ”Terror no pântano”, um slasher com algum estilo, devo confessar… Mas Green optou por deixar o trash e rumar noutra direção, mais precisamente ao suspense psicológico, que é o caso de “Frozen”, em mais uma péssima tradução tupiniquim “Pânico na neve”. Em ambos os estilos, Green mostrou ser um realizador razoável, que pode evoluir muito ainda.


De inicio pensei que ”Frozen”, era mais um daqueles filmes de terror para adolescentes, que têm saído aos montes nos últimos tempos… mas tenho de admitir que me enganei em relação ao filme. A história acaba por ser criativa, e muito simples ao mesmo tempo… E Adam Green consegue trabalhar bem com isso e fazer um bom filme, pois não pensem que desenvolver uma narrativa, com apenas três pessoas paradas num teleférico no meio do nada, é fácil…


A história é criativa, simples, e consegue cativar a maior parte dos espectadores. No entanto, para um especialista ou uma pessoa que coloque um pouco mais de pensamento no assunto, acaba por perceber que se trata de uma história sem grande credibilidade. Digo isto, porque as pistas de ski fecham muito antes de anoitecer, e são obrigados a fazer as cadeiras desfilarem mais uma vez, para verificarem que não existe ninguém sentado numa delas, e para além disso existe uma patrulha noturna que faz rondas pela pista. Mas tirando estes detalhes, a história consegue ser convincente, levando certas pessoas que não estejam familiarizadas com pistas de ski, a pensarem que algo do gênero poderia mesmo acontecer. De qualquer forma, a história acaba por ser convincente, e é isso que realmente interessa.


Os atores Kevin Zegers, Shawn Ashmore, Emma Bell não são propriamente desconhecidos para quem ande atento, e devo confessar que este trio de atores surpreendeu-me. A química entre os três é ótima, e conseguiram desenvolver personagens minimamente interessantes. Sendo que as personagens neste gênero de filme, e os atores que as interpretam são extremamente importantes, pois são poucos os atores presentes no filme, e a história desenvolve-se praticamente através dos diálogos que têm uns com os outros. Se as interpretações não fossem boas, o filme com uma história tão simples e tão parada se tornaria num verdadeiro fracasso, mas tal não foi o caso, e as interpretações são bastante boas, fornecendo ao espectador verdadeiros momentos de tensão psicológica.

Não é um filme sem falhas, mas é interessante… E é notável que Adam Green tenha conseguido desenvolver uma história tão simples e tão parada de maneira tão eficaz, tornando-a cativante. Pode não ser um dos melhores realizadores da atualidade, mas com certeza não será um dos piores e num futuro próximo é provável que venha a realizar outros filmes com qualidade idêntica ou superior.

NOTA 3 BOM

"MARMADUKE"


Marmaduke é um dog alemão falante, bastante bagunceiro, extrovertido e medroso. Ele muda de cidade com sua família, do Kansas para a Califórnia, já que seu dono quer impressionar o novo chefe e, assim, acaba influenciando dog alemão a deixar as coisas que realmente importam de lado.


Dessa forma, o filme apresenta inúmeras lições de moral, principalmente no que diz respeito à amizade, quando o cãozinho falante pretende conquistar novos amigos e a namorada do cachorro mais valente do parque. Ele acaba fingindo ser um cachorro que não é.


A direção é do fraco Tom Dey (“Armações do Amor”) que não faz a mínima questão de acrescentar nada a humanidade, tão pouco ao seu filme. É um festival de clichê até na própria direção. O que dizer das cenas de confusão causadas pelo incontrolável cão atrapalhado que motiva as pessoas a derrubarem objetos sem que o cachorro ao menos encostasse nelas? Já as cenas com falas entre amigos beiram o ridículo, e não é só pelo recurso das falas, mas principalmente pela péssima forma como foi conduzida.


E os clichês não param. Continuam por todos os lados. E para piorar tudo, vem a utilização do humor forçado para tentar levantar um tom cômico na obra. Isso é feito da maneira mais comum possível e sempre causada pelo cachorro bagunceiro, que, diga-se de passagem, parece que não faz outra coisa da vida. Quando ele está entre amigos, é interessante notar que os planos que enquadram os cachorros procuram mostrar os detalhes como a expressão, o olhar, algo que até soa bem, mas que acaba sendo prejudicado pela péssima execução da obra.

E se tudo caminhava para um desastre, encontramos uma trilha sonora que vai contra a maré. Embora não tenha nada de novo, ela cumpre o seu papel e é responsável pelas cenas mais eficientes. Uma delas ocorre no início do longa, quando ainda estamos conhecendo o protagonista. O clipe musical misturando a amizade entre os cães e as peripécias do dog alemão é interessante e, de certo modo, eficiente, já que seu público alvo, as crianças, adoram cenas desse tipo. Algo também já bastante utilizado nas obras do tipo.

O lado sentimental funciona. Atualmente, é muito mais realista um cachorro fazendo um gesto de amizade a outro de sua espécie ou até para uma diferente, do que um humano fazendo o mesmo. Os animais, principalmente os cães, têm esse vínculo de companheirismo e amizade. A competitividade existe, mas não supera os princípios básicos da vida. O olhar de um cachorro é uma das coisas mais tocantes que podemos ver. Na obra, o olhar de Marmaduke triste é bem realista.

Num elenco bastante fraco, ninguém se destaca. Os donos mais parecem marionetes da história do cãozinho atrapalhado. Lee Pace (“Confidencial”) só não chega a ser uma grande decepção porque ele nem se quer chegou a ser uma promessa. Assim, percebe-se um elenco que serve de escada para exaltar ainda mais as qualidades dos animais no geral, principalmente, dos amigos de Marmaduke, que são os verdadeiros destaques da obra, talvez até mais do que o próprio cão bagunceiro.


Sobre o público alvo da obra é importante ressaltar que as crianças não são mais tão bobas quanto essa história acredita. É importante notar que não adianta mais utilizar recursos que deram certo em longas clássicos do gênero, mas que agora estão naturalmente desgastados. Podem colocar cão falante, podem colocar ele para surfar, podem viajar na imaginação, só não podem tratar o público como algo preso ao passado.

No fim dos 87 minutos temos mais um filminho de verão para as crianças e somente para elas. Na prática, talvez nem para elas. Um filme que não acrescenta nada, provoca algumas sorrisos amarelos e traz em seu repertório uma série de lições de moral, que até são válidas, dependendo da forma colocada. Em outras palavras, o filme deixa um gostinho de Sessão da Tarde dos anos 90.

NOTA 1 RUIM

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

" A EPIDEMIA"

Uma cidade pequena e pacata, um vírus desconhecido, um exército de pessoas contaminadas, estes são os principais ingredientes para o longa de terror “A Epidemia”. E, mais uma vez, não restará outra coisa aos habitantes da cidade a não ser a luta pela sobrevivência aos terríveis ataques dos exterminadores. O xerife da cidade David e sua mulher também são capturados pelas tropas e lutarão não só pela sobrevivência, mas também para continuarem juntos dentro da área separada para eles.

Algo bem relevante a ser dito é que o filme marca a volta dos famosos “mortos-vivos”. As pessoas que contraem o vírus transformam-se nas criaturas que por muito tempo tiraram o sono de uma geração. É interessante perceber o clima nostálgico que o surgimento dessas criaturas proporciona. Em um ambiente marcado pelos efeitos visuais de última geração, elas aparecem com sua simplicidade e objetividade que criam um aspecto mais realista a estes seres e, por isso, tenham causado tanto medo, algo que hoje em dia dificilmente acontece.

Na direção está Breck Eisner, que só havia dirigido filmes e séries para a TV. Ele respeita a versão original e acrescenta o ritmo tão conhecido nas obras atuais. É só observar as cenas de fuga dos personagens em que a câmera acompanha quase colada no elenco. O ângulo de visão também varia e muitas vezes assume o papel do personagem e seu olhar na cena. Recursos que muito agradam e surtem efeito principalmente na “modernização saudável” do filme.

Ainda assim, o roteiro não agrada e repleto de falhas que tiram da credibilidade da obra. As falhas estão por toda a parte, desde as coincidências forçadas a até mesmo a falta de explicação dos fatos, como a cena em que o sangue do xerife entra em contato com o de uma infectada e ele não contrai o vírus. Assim, o roteiro respeita até demais a versão anterior repetindo falhas que naquela época não eram tão interrogadas como hoje.

No elenco estão Timothy Olyphant e Radha Mitchell. O ator que faz o xerife David consegue ter um desempenho bem interessante a obra. Além de ser a principal autoridade da cidade, ele é também o principal nome do filme e consegue fazê-lo de forma modesta e eficiente. Já a atriz que interpreta Judy, esposa do xerife, faz um trabalho até melhor do que o seu companheiro de cena. A cena em que ela observa a crueldade dos infectados é digna de elogios.

Dentre os principais atrativos do longa estão os efeitos visuais e sonoros. Estes últimos os mais requisitados, uma vez que não faltam na obra cenas de ação e suspense em que o som tem total valor de impacto. As cenas de fuga e seus obstáculos só comprovam isso. Já os efeitos visuais, sobretudo no fim da obra, impressionam por tamanha precisão e acabam dando o tão almejado toque moderno. É bom lembrar que o equilíbrio é o mínimo que se espera, já que não se pode descartar nem passado nem presente.

O que faltou a esta obra sobrou em duas obras similares. Em “Extermínio”, e sua continuação,“Extermínio 2”, esbanjaram de um realismo poucas vezes visto em filmes do gênero. Em “A Epidemia” faltou essa realidade próxima. Tudo é muito superficial. E quando tenta fugir disso soa forçado e distante do compreensível. Em determinado momento, a tamanha sorte do xerife que consegue escapar de todos os ataques chega a ser cansativo a tal ponto do público torcer para que ele seja atingido.


“ A Epidemia” não consegue acrescentar muita coisa à obra original. A missão de trazer uma trama do passado deve ser encarada com mais cuidado, sem deixar de lado um componente fundamental e diferencial, a ousadia. Os tempos são outros e o público também.


NOTA 2 REGULAR