sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"OS PERDEDORES"


Existe uma grande diferença entre ser um idiota e parecer ser um idiota. Muitos filmes acabam errando na medida e se tornam uma piada ao invés de fazer uma piada. Sátiras geralmente caem nessa armadilha, e se tornam mais ridículas ainda. Há uma linha tênue entre esse dois mundos. E no caso de “Os Perdedores” essa linha jamais é ultrapassada. A proposta é ser um filme divertido, mas não necessariamente ruim; outro erro que muitos cometem. Escuto o tempo todo “Ah, é um filme divertido”. Não. É um filme ruim. E pronto. Pode até ter sido feito com esse objetivo, mas existe filme divertido e bom, vide Homem de Ferro, Piratas do Caribe, e esse sobre o qual vos escrevo.

Os perdedores do título são uma equipe de combatentes vinculados a CIA e envolvidos em operações de alta complexidade e natureza duvidosa e que, por isto mesmo, não podem ser associadas ao Governo Americano. A última delas é marcar um alvo, a mansão de um contrabandista, em plena selva Boliviana para ser destruído em ataque aéreo. Mas, o que eles não sabiam é que seriam traídos e deixados para morrer pela CIA, mais especificamente pela voz no telefone chamado Max (um Charlie, de As Panteras, do mal).

Estabelecendo-se como um exemplar misto de comédia e ação, a cena inicial ilustra claramente as pretensões do diretor Sylvain White. Estabelecendo satisfatoriamente a camaradagem entre os membros da equipe em uma disputa de machões, o diretor em seguida investe na ação, basicamente tiros e explosões, usando bastante o recurso da câmera lenta e do congelamento de quadros (acompanhando a batida da trilha sonora em uma cena específica, o que confesso não tem nenhum valor narrativa, apenas estilístico).

Aliás, em Os Perdedores existe uma predileção pelo estilo em detrimento da substância, mas felizmente com bons resultados. Especialmente, na composição de belos quadros, como a queda do helicóptero, ou no quarto de hotel em chamas até uma inimaginável colisão vista no clímax da narrativa. White também usa os efeitos digitais de forma apropriada, na qual destaco a fuga de Aisha (Zoe Saldana) vista através de um caco de espelho. Finalmente, a narrativa não esquece de algo fundamental: devemos acreditar que aqueles homens realmente são capazes do que fazem e neste sentido, eles se saem ótimos estrategistas como no roubo de um grande furgão.

Embora cada membro da equipe seja estereotipado ou por sua especialidade, a liderança do Coronel Clay (Jeffrey Dean Morgan), ou por um objetivo específico, o reencontro com a esposa de Pooch (Columbus Short), é relevante notar como todos têm bons desempenhos, sem soar como bonecos dos comandos em ação. Se Roque (Idris Elba), revela-se ameaçador, e o franco atirador Cougar (Óscar Jeanada) jamais erra um tiro, o destaque da equipe é o imaturo, e talvez insano, Jensen (Chris Evans). Sempre desfilando uma camiseta colorida, o especialista em informática da equipe protagoniza os melhores momentos de humor do longa, como a invasão da empresa Goliath, pontuada por uma trilha sonora acentuando o aspecto cômico, que revela o podertelecinético” do rapaz.

Além disto, outro destaque do elenco é o vilão Max, interpretado por Jason Patric com irreverência e excentricidade, mas jamais deixando de ser perigoso. Apresentado a partir de seus adereços, o sapato, o relógio, o pin da bandeira norte-americana e a luva na mão esquerda, Max é uma versão light do Coringa, vivendo uma era do "terrorismo verde do século XXI", ele sequer hesita em matar a mulher do guarda-sol porque esta deixou-o brevemente descoberto.

Talvez o elemento realmente perdedor do longa seja o roteiro escrito pelos talentosos Peter Berg e James Vanderbilt. Esquemático e previsível, além disto, as reviravoltas acabam não funcionando quando analisadas em retrospecto. E, a dupla de roteirista comete o erro primário quando em um momento Roque insiste que Pooch não vá para uma missão, quando na cena seguinte ele estimula o companheiro a participar desta.

Desconheço a série de HQ que deu origem ao filme, mas trata-se de uma série criada por Andy Diggle e Jock, que foi publicada pela Vertigo/DC Comics entre 2003 e 2006. O filme é recheado de ação e de uma mistura, na medida certa, de humor entre as cenas e diálogos. “Os Perdedores” cumpre o prometido: não leve nada a sério, e se divirta. Ignore o vilão caricato, as “mentiras”, explosões, pois o filme é honesto. Honesto, essa é a palavra, “Os Perdedores” não é um filme idiota, só quer parecer.

NOTA 3 BOM