quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"O SOLTEIRÃO"


Logo nos primeiros minutos do filme, somos logo apresentados as primeiras imagens com a canção “Solitary man”, cantada por ninguém menos do que o Grande e lendário Johnny Cash e sua eterna voz de sepulcro, a partir daí já sabemos que não veremos qualquer filme para passar o tempo, e sim um dos grandes filmes de 2009 que chegará aos cinemas aqui no país bem atrasado e que terá sua premiére no “Festival de Cinema do Rio”.

Em “O Solteirão”, somos apresentados a Ben Kalmen, um nova-iorquino, ex-vendedor de sucesso, que após ter engendrado um esquema para forjar resultados no meio de negócios onde trabalhava , se viu obrigado a pagar uma gigantesca multa e a perder qualquer credibilidade no ramo de automóvel.

Mas o filme começa um pouco antes, quando Ben está no médico e este o informa que o coração tem uma irregularidade. Assustado, Ben é um homem que gosta de viver e não aceita a mera sobrevivência. O risco é uma imposição da sua arrogância e para ele nada parece impossível.

Mas só alguns anos depois dessa consulta somos confrontados com os fatos da sua vida. Aí ele já está junto com outra mulher, que engana constantemente, tal como o fez com a primeira esposa. Nos negócios ele parece que está pronto a voltar a atacar, mas é mais conversa que certezas, num mundo onde quem indica e se conhece, junto com o tráfico de influências são fundamentais. Quando Ben se envolve sexualmente com a filha da sua nova parceira, todos os pilares da sua existência ruem, e ele acaba por se ver isolado, sem trabalho e sem a própria companhia da filha e do seu neto, demonstrando estar visivelmente cansada e indignada com o estilo de vida arriscado em que ele sempre viveu.

Todo orientado em torno da interpretação de Michael Douglas, “O Solteirão” é um interessante ensaio anti-cliché, especialmente porque a personagem principal continua sempre a viver como deve, repleto de vícios, e não como a sociedade acha moralmente correto. Douglas tem uma interpretação fulminante, num filme que certamente vai estreiar para aproveitar o regresso do ator em seu personagem mais famoso do cinema ,com ‘Wall Street 2”.

Ao seu redor, encontramos um intenso grupo de atores secundários consagrados,destacando-se Susan Sarandon , interpretando sua ex-mulher, Danny DeVitto como seu parceiro dos tempos de faculdade e Mary-Louise Parker como sua atual namorada, sem esquecer Jesse Eisenberg, como seu “pupilo” (que brevemente veremos em ‘The Social Network) e Imogen Poots que foi uma grata surpresa em uma bela atuação como a filha da sua namorada.

No final, há várias razões para se gostar de “O Solteirão”, o filme é como se fosse aquela obra de arte rara: um drama para adultos, com momentos de comédia de humor negro, uma ternura inesperada e uma dor muito sentida, se de início você começa a odiar o homem que Douglas interpreta, ao longo da projeção você pode despertar outro tipo de sentimento em relação a seu personagem, em determinada cena, quase ao seu final, quando a namorada de Cheston rebate a pergunta de Ben, dizendo que ela gosta dele porque ele é “carinhoso, doce , inteligente e gentil”, a resposta de Ben é quase insuportavelmente triste. “Certa vez eu também já fui assim querida”, diz ele, “isso não dura”.

Realizado por Brian Kopelman, muito conhecido em hollywood como grande roteirista, mas que dessa vez tomou as rédeas do projeto, “O Solteirão” acaba sendo um interessante e complexo estudo de uma personagem, que não conseguimos odiar, muito menos amar, mas que com certeza não passa desapercebido.


NOTA 5 EXCELENTE