sexta-feira, 17 de setembro de 2010

" GREENBERG"


As comédias dramáticas são a especialidade cinematográfica de Noah Baumbach, um cineasta que já nos apresentou algumas produções que conseguiram conquistar a crítica especializada, como por exemplo, “Margot at the Wedding” (2007) e “The Squid and the Whale” (2005). “Greenberg” é a sua mais recente incursão neste gênero e tal como aconteceu com os seus últimos trabalhos, Noah Baumbach voltou a convencer a crítica com uma história relativamente interessante que é protagonizada por uma personagem extremamente complexa.

Roger Greenberg (Ben Stiller) é um solteiro de quarenta anos que poderia ser qualificado como um indivíduo deprimido e obstinado. Phillip (Chris Messina) é o seu irmão e é o seu exato oposto porque tem uma atitude positiva, um casamento extremamente feliz e um emprego muito estável e rentável. Phillip decide fazer uma viagem com a sua família ao vietnã e decide deixar a sua mansão entregue ao seu menosprezado irmão que aceita o convite, mas com objetivos perfeitamente claros, ou seja, ele pretende tomar conta da mansão e não fazer rigorosamente mais nada, no entanto, enquanto cumpre os seus propósitos minimalistas, conhece Florence (Greta Gerwig), uma simpática e sempre solitária assistente particular/governanta do seu irmão, que quer se tornar numa famosa cantora. O encontro entre estas duas almas extraviadas acaba por se revelar uma oportunidade única na insípida existência de Roger mas estará ele verdadeiramente preparado para abandonar a sua depressão crônica e começar a viver?

O argumento de “Greenberg” é extremamente competente porque consegue cumprir todos os grandes propósitos que nos são prometidos pela sua premissa, ou seja, consegue oferecer ao espectador uma narrativa muito explícita e muito emocional sobre a fragilidade e a fugacidade da nossa existência e a necessidade que todos nós temos em aproveitar ao máximo a nossa vida. O seu protagonista é uma personagem emocionalmente perturbada que finalmente percebe que os seus últimos anos não correram como o esperado e que a sua existência está submersa num estado emocional verdadeiramente caótico, assim sendo, vamos sendo confrontados com uma verdadeira transformação subjetiva desta personagem que à medida que vai entrando em contato com as suas fragilidades psicológicas vai alterando radicalmente o seu estado de espírito, uma mudança que vai influenciar claramente a forma como enfrenta a sua vida.

“Greenberg” não é um filme muito alegre porque o seu desenvolvimento narrativo não é sustentado por uma construção muito otimista, no entanto, a sua conclusão contraria esta construção porque nos apresenta um final que apela claramente à felicidade e ao otimismo do espectador, ou seja, esta conclusão acaba por retirar algum impacto emocional a esta curiosa produção cinematográfica. As várias personagens que intervêm em “Greenberg” obedecem a uma construção muito completa e a um desenvolvimento muito coerente e interessante, uma característica extremamente positiva que enriquece inegavelmente este filme.

O trabalho técnico de Noah Baumbach em “Greenberg” não é excepcional mas é extremamente satisfatório. O cineasta conseguiu criar um interessante ambiente emocional que acompanha convenientemente os vários momentos importantes do argumento. O elenco de “Greenberg” é liderado por Ben Stiler, um ator que regressou com este projeto aos trabalhos cinematográficos mais sérios e menos superficiais. A sua performance é surpreendentemente competente porque consegue interpretar sem grandes falhas a sua complexa personagem. Greta Gerwig também nos oferece uma excelente e surpreendente performance secundária porque apoia convenientemente o principal desta produção.

A performance comercial de “Greenberg” em território americano não foi muito convincente, uma situação que é facilmente explicada pelo simples fato desta produção não ser emocionalmente atrativa porque aposta num argumento muito negativo que afasta a esmagadora maioria dos espectadores que costumam preferir uma produção cinematográfica que os consiga entreter, no entanto, esta comédia dramática é ideal para todos aqueles que procurem um filme que os obrigue a pensar e refletir sobre nossas vidas e nossas escolhas.

NOTA 4 ÓTIMO