domingo, 26 de setembro de 2010

"O GOLPISTA DO ANO"


Vamos direto ao ponto. “O Golpista do Ano” é um filme mais descartável que o habitual. Baseado no livro “I Love You Phillip Morris”, do jornalista Steve Mcvicker, o longa narra a história real de Steven Russel (Jim Carrey), um picareta que, após um acidente quase fatal, decide vivenciar plenamente sua homossexualidade. Mandando a esposa e filhos às favas, e fazendo uso de um sistema infalível de arrecadação de dinheiro por meio de golpes em seguradoras, o novo gay passeia pela cidade com um chiuaua na mão, Rodrigo Santoro na outra e muitos cartões de crédito no bolso.

Como a polícia americana é eficiente e os criminosos são punidos, a farra de Russel chega ao fim. Até a conclusão do longa somos apresentados aos planos e execuções magistrais do personagem em busca de sua liberdade e da conquista de um lugar definitivo ao lado de seu novo amor, Phillip Morris (Ewan McGregor), um “gay loiro e de olhos azuis” que cumpre pena por não devolver um veículo alugado.

Dirigido pelos desconhecidos Glenn Ficarra e John Requa, “O Golpista do Ano” mais parece um amontoado de características que poderiam dar certo. É quase divertido, quase dramático, os atores quase se encaixam nos papéis, e até a trilha sonora, com acordes de influência claramente espanhola, quase dá certo. Em poucas palavras, estamos diante de um quase filme, que em seu resultado final está mais próximo de um quase nada.

Que Jim Carrey precisa de mãos seguras como as de Michael Gondry, em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, e Peter Weir, em “O Show de Truman”, para conseguir externar expressões que ultrapassem seus habituais exageros cênicos e carreguem algum apelo dramático, é fácil perceber. Sob o comando de dois diretores inexperientes, porém, o ator não percebe limites e acaba realizando mais uma de suas incômodas aparições.

O brasileiro Rodrigo Santoro, dada sua difícil jornada rumo ao reconhecimento internacional, ainda precisa se submeter a projetos duvidosos. Felizmente, sua presença se resume a algumas poucas sequências. Não é o caso de McGregor, que entrou para o rol de personalidades que estão decaindo nas suas escolhas para trabalhos no cinema , ao lado do cineasta M. Night Shyamalan e do esforçado Adrien Brody. É desanimador constatar que o ator de “Trainspotting”, “O sonho de cassandra” e“Star Wars” perdeu seu tempo com produções da qualidade de “O Golpista do Ano”.

Se os traços anteriores ficaram na linha do quase, o trabalho técnico fica no patamar do nulo. Com artifícios exaustivamente utilizados por dez entre dez filmes lançados pelo grande circuito comercial, o longa é o exemplar mais recente da falta de originalidade. Nada aqui parece ser novo e tudo foi preparado de modo a fazer uso do que já foi positivamente (R$) comprovado em termos de audiência.

É uma produção tão insignificante que até a maneira absurda encontrada para retratar a rotina de um casal homossexual não parece digna de assunto para um parágrafo. Mesmo assim, vale a pena destacar que enquanto abraços, beijos e carícias entre pessoas do mesmo sexo forem motivos para risadas e argumentos pra fazer humor, a tão almejada igualdade e o respeito à liberdade sexual não serão alcançados.

Quando o filme não consegue te levar a nenhum extremo, como é o caso desse “O Golpista do Ano”, não vale a pena nem ficar aborrecido com seus defeitos. O que nos resta é lamentar pelo montante de dinheiro usado para sua realização.

NOTA 1 RUIM