sexta-feira, 25 de junho de 2010

"TERRA FRIA"


Com um começo calmo e sem muitas explicações do que de fato está acontecendo, você acaba nem vendo quando se envolve de vez com o filme. Ele tem uma condução perfeita e envolve quem o assiste do começo ao fim. Terra Fria merece o título de excelente filme.

“Terra Fria” gira em torno do tema preconceito contra as mulheres. No começo, somos apresentados ao filme de forma calma, sem saber que o desenrolar está por vir. Nele, Josie Aimes (Charlize Theron, vencedora do Oscar de Melhor Atriz por "Monster"), tem uma vida a par da que estamos acostumados a ver por aí. Nenhuma santa, isso é verdade, mas que passou por muitas coisas as quais poucas pessoas sabem o quanto deve ser ruim. Só de se imaginar passando pelo que ela passa, já temos um motivo para ficarmos atados a projeção. Josie é uma mulher determinada, que não aceita mais ser sustentada por um marido que a espanca e resolve ir para a casa dos pais. Por uma amiga, fica sabendo que a mina da cidade está contratando mulheres. Como a procura é pouca, pois é um dito trabalhão masculino, a aceitação no emprego se torna fácil. Além do mais, o salário é o suficiente para sustentar seus dois filhos e ainda ter uma diversão. Porém, para chegar ao fim do mês e receber o que tem direito, a protagonista tem que passar por muito mais do que horas de trabalho, afinal, Josie por não aceitar o errado, acaba sendo veementemente caçada pelos companheiros de trabalho, os quais de forma alguma aceitam uma mulher fazendo o mesmo que eles e ganhando tão quanto. Inclusive seu pai, Hank (Richard Jenkins).

A condução do filme é uma coisa maravilhosa. A trilha sonora, as atuações e o cenário, tudo ajuda na criação de um clima que envolve o espectador quando ele menos espera. Você começa a assistir e, quando percebe, já se passaram 123 minutos de projeção. A mão perfeita da direção de Niki Caro é latente. O filme demonstra uma linearidade que leva para o público um sentimento de estar dentro do que acontece e facilmente cria nele a expectativa de querer saber o que estar por vir sem querer ficar adivinhando, mas aceitando o que o filme vai mostrando aos poucos e sempre na hora certa.

A temporalidade da trama também é perfeita. Inicialmente, a história é um flashback e sabemos disso pelas poucas vezes que a narradora é mostrada – no caso, Josie que está em um julgamento por ter processado a empresa na qual trabalhou -, contudo, repentinamente o flashback se mistura com o atual e o filme toma o rumo final da forma mais envolvente possível. O atual é mostrado e, como todos nós já vimos a história de vida da protagonista, nos tornamos aliados em seu caso que está sendo julgado. É uma sensação maravilhosa, que poucos filmes fazem e, quando tentam, erram feio, deixando o final totalmente premeditado.

Com uma atuação primando a perfeição, Charlize Theron, encanta os olhos mais ávidos. Lógico, nem tudo é maravilha, mas o olhar, a forma de falar de se apresentar, cativam por demais. Tudo bem que, a condução do filme ajuda a gostarmos da personagem, entretanto não é nada fácil fazer o que a grande atriz fez. De fato, o elenco é um primor a parte. Nele desfilam ótimas interpretações de Sean Bean, que gradativamente nos faz esquecer que foi o Boromir de “O Senhor dos Anéis” por conta das simples, mas eficientes interpretações; Frances McDormand, de “Quase Famosos”, que com a personagem Glory é explorada da forma certa e atinge a meta quando é necessitada uma ótima presença de cena; Richard Jenkins , quando requisitado para coisas mais difíceis, faz bonito; e, dentre os mais analisáveis, os dois garotos que fazem os filhos da protagonista, além das ótimas atuações de Jeremy Renner e Woody Harrelson.

Como todo bom filme, a trilha sonora não pode passar em branco. À medida que o filme vai se desenrolando ela vai ficando mais tensa ou melosa e reflete o que a cena está nos passando. Sem falar que tudo isso é feito com músicas muito boas recheada de canções de Bob Dylan.

Dentre tantas coisas que o filme aborda, como a luta de classes, o fato de querer fazer o que aparentemente não parece estar ao alcance, o principal é o preconceito contra as mulheres e ele é demonstrado de várias formas. Eu fiquei com raiva diante de certas coisas a que fui submetido a ver, pois nenhum ser humano merece ser julgado pelo sexo, cor, conta bancária e etc. De certo, nós somos todos iguais, até mesmo os crápulas machistas que perdem tempo infernizando a vida das mulheres, vai que um dia eles se tocam e começam a agir de uma maneira mais correta.

Finalmente, todos sabemos bem, até o mais alienado, o quanto ser diferente causa preconceito, mas convenhamos que ser mulher, não é ser diferente. Quem disse que o homem é melhor? Quem disse que o homem tem sempre que ser o melhor? O filme deixa bem claro que o machismo é podre e somos inervados pelas atrocidades as quais passa a protagonista. Quem for machista, por favor, repense seus princípios de vida, pois de animais inescrupulosos o mundo já está transbordando e, sinceramente, nem o mundo nem ninguém precisam desse tipinho.

NOTA 5 EXCELENTE