segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"SPLICE"


Sabe quando algo te causa tanta repugnância que você não consegue parar de ver? É justamente o caso de Splice. Normalmente não sou grande fã de ficção científica, porque geralmente são meras desculpas para mostrar o que há de mais moderno em efeitos especiais (assim como quase todos os blockbusters de ação e odisséias épicas), fogem demais da realidade, ou são meio infantis. Por infantis eu digo no sentido dos temas abordados serem bobos ou não trazerem discussões interessantes. Mas evidente que há sempre Gattaca, Matrix (só o primeiro), Intelgência Artificial, Eu, Robô, Minority Report, entre outros exemplos de ficções interessantes.

Enfim... Splice é o novo filme do Vincenzo Natali, que escreveu e dirigiu O Cubo, aquele “clássico” pré-Jogos Mortais que todo adolescente e jovem adulto deve conhecer, e tem no elenco o Adrien Brody, aquele que ganhou o Oscar por O Pianista (o mais jovem a ganhar na categoria principal até hoje), fez aquele super discurso, mas meio que sumiu do mapa depois. Lembro que ele fez King Kong e A Vila depois. E também da Sarah Polley, que nunca foi muito famosa do grande público, mas fez uma comédia que eu adoro chamada Vamos Nessa, e recusou o papel de Penny Lane em Quase Famosos, que deu um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar a Kate Hudson.

Bom, a história é sobre uma empresa farmacêutica que financia uma equipe de cientistas, liderados pela Sarah e pelo Adrien, que são um casal. Eles criam criaturas que são mutações feitas a partir das genéticas de diversos animais. São asquerosos. Parecem chiclete mascado. E aparentemente a partir desses seres podem-se estudar curas para diversas doenças.

O próximo passo deles é incluir genes humanos nas criaturas. Aí é que entram as questões éticas e morais da ciência e tal, e a empresa patrocinadora breca o casal 20. Mas, sorrateiramente, eles decidem levar o plano à diante, e fazer a tal experiência por debaixo dos panos. Aí nasce a tal criatura hedionda.

Eles fazem um rápido estudo e percebem que esse bicho envelhece mais rapidamente que o normal (incrível como tudo que envolve clonagem ou experiências genéticas coloca essa desculpa no meio), e provavelmente viverá pouquíssimo. E como tem doido pra tudo nessa vida, eles decidem criar essa coisa, que ninguém sabe no que vai dar. É aí que todo mundo já sabe que nada de bom pode vir por aí. A gente só não sabe como exatamente. E isso é o que nos prende.

O roteiro, apesar de ter sua cota extrapolada de bizarrices, é instigante e mantém a platéia fisgada do começo ao fim. Tem um bom ritmo, flui rapidamente, e mal percebemos o tempo passar. Assim como O Cubo. Mostra que provavelmente poderemos esperar coisas melhores vindas de Natali num futuro próximo. O elenco é afiado, em especial a atriz que faz a fase adulta do ser de espécie inominada, a francesa Delphine Chanéac, que é aparentemente muito boa (não vi outros trabalhos para dar um veredito mais preciso) e me lembrou muito a Samantha Morton em Minority Report.

E claro, como todo filme que aborda esse tema, as discussões sobre as conseqüências de clonagens e práticas afins são levantadas. O famoso “brincar de Deus”, que as religiões, em quase suas totalidades, gostam de recriminar e censurar. Eu interpretei que o filme é abertamente contra a esse tipo de experimento, o próprio enredo em si já mostra isso, mas eu não sou totalmente contra ou a favor, porque pode haver benefícios, mas também há outros seres vivos envolvidos. Mas como quase tudo que é ou foi tabu na sociedade, como bebê de proveta, por exemplo, acredito que um dia vai passar a ser banal.

NOTA 4 ÓTIMO