terça-feira, 19 de outubro de 2010

"PREDADORES"


Nascida no final da década de 80, Predador se tornou uma das franquias mais icônicas do período, em especial por reunir fãs de ficção cientifica, terror e suspense sob uma premissa criativa e, até então, não muito utilizada nos cinemas. Estrelada por nomes como Arnold Schwarzenegger e Danny Glover, mesmo longe das telas o alienígena manteve um grupo fiel de fãs, ampliados por games, quadrinhos e outros produtos.

Trazer o Predador de volta às telas em 2010, portanto, não deixava de ser uma aposta temerosa. Coube a Robert Rodriguez planejar e produzir o retorno dos predadores ao cinema e, felizmente, é possível afirmar ao assistir a produção que, se está longe da qualidade dos seus antecessores, ao menos devolve a dignidade à franquia, resgatando alguns valores que haviam se perdido por completo e abrindo possibilidades para novos projetos.

Dirigido por Ninród Antal - dos poucos significativos Temos Vagas e Assalto ao Carro Blindado – o filme aposta em duas vertentes distintas ao longo da projeção e, em ambas, se comporta de maneira satisfatória. Na primeira metade o foco reside no suspense. Sem muita explicação Royce (Adrien Brody) surge em queda livre no céu. Logo, outros aparecem na mesma situação e, reunidos em uma selva, buscam entender o motivo de terem sido levados para aquele lugar bem como uma maneira de voltar para onde vieram.

Com sequências de caminhadas em meio à mata, discussões e pequenos mistérios, os trinta minutos iniciais de filme chegam a lembrar alguns episódios da primeira temporada de Lost, em que o foco era apresentar mistérios em meio à ilha muito mais do que resolvê-los. Nesse momento o roteiro aproveita não só para despertar a atenção por meio do mistério como também para aos poucos revelar características dos caçados e dos caçadores, inclusive remetendo a fatos do primeiro filme - como na sequência em que Isabelle (Alice Braga) cita os acontecimentos de 1987.

Já a segunda parte abandona o mistério e parte para o embate mais brutal, servindo-se de cenas de luta, tiroteios e violência emblemática para justificar a caçada organizada pelos predadores. Nesse ponto o filme, de certa forma, destoa por soar menos sério - ou por não se levar tão a sério - do que na primeira parte. A linha que o separa do trash, em certos pontos, é tênue demais, mas de forma alguma isso compromete o desenrolar da história.

Se há muito mais pontos positivos do que negativos na estruturação da narrativa, infelizmente é impossível deixar de notar alguns clichês e falhas de edição que prejudicam sensivelmente o filme em alguns momentos. A ideia de se ter em cena um “representante” de cada raça ou gênero - temos um negro, um latino, um russo, uma mulher, um americano, um oriental, entre outros - recai no velho clichê politicamente correto, de agradar a todos os tipos de espectadores.

No caso específico de Predadores a justificativa é válida - reunir os combatentes mais fortes do mundo, dentro de suas características -, porém não deixa de ser repetitiva e pouco criativa.

Já em relação à edição o problema é incômodo e prejudica o desempenho da história. Alguns cortes são abruptos demais, dando a sensação de uma montagem pouco cuidadosa e fluída. Em alguns pontos a trama passa de uma sequência para outra aos solavancos, tirando o espectador do filme em determinados momentos para que ele possa tornar inteligível a estrutura de ideias que acabou de ver. Um exemplo claro disso é uma sequência de fuga do grupo, já na metade do filme, em que Edwin (Topher Grace) se perde do grupo. De uma hora para outra ele some do grupo e surge dentro de uma outra sala pedindo ajuda. Não há fluidez alguma na transição e a sensação que fica é que um pedaço do filme foi suprimido, um erro simples demais para uma produção de grande porte.

Adrien Brody no papel do líder do grupo se sai muito bem. Contido em muitos momentos, o ator consegue impor uma espécie de liderança e estabelecer uma empatia (ou antipatia) com o espectador muito mais por meio da ação do que pela força física, algo que não é comum em filmes do gênero. A brasileira Alice Braga também se mostra eficiente, servindo como um contraponto ao perfil de Brody sem precisar para isso ser submissa ao personagem principal. Um dos pontos altos fica por conta da participação de Nolan (Laurence Fishburne). São pouco mais de dez minutos em cena, mas suficientes para mostrar um personagem tão perturbado quanto aterrorizador, capaz de ir de um extremo a outro em questão de segundos. É pena que sua saída de cena seja tão simplória e mal elaborada, não condizendo com o perfil construído pelo ator.

Longe de se tornar uma unanimidade ou ser capaz de reascender a franquia aos níveis em que já esteve, Predadores em resumo se apresenta como um filme eficiente dentro do que se propõe, se afastando um pouco mais da ficção científica para apostar no suspense e no terror. Se por um lado a produção tem seus méritos por retirar da UTI o personagem, por outro deixa no ar a sensação de que os predadores, ao menos no cinema, se encaminham para um outro patamar, longe dos blockbusters de alto orçamento e muito mais perto das produções alternativas para públicos cativos como Sexta-Feira 13, Halloween ou A Hora do Pesadelo.

NOTA 3 BOM