terça-feira, 5 de outubro de 2010

"MACHETE"


Robert Rodriguez conseguiu o que achava impossível: transformar um daqueles trailers falsos que uniam os dois filmes de Grindhouse, Planet Terror e Death Proof. Sim, Machete era um trailer de zoação, já com Danny Trejo no papel título. Eram uns 3 minutos de sanguinolência total, no melhor estilo trash. Tamanho foi o sucesso do trailer que Rodriguez partiu para desenvolver um filme inteiro com base em uma premissa simplíssima: um mexicano ex-"Federale" é enganado e parte para limpar seu nome da maneira mais mortal que conhece.

Carismático, o personagem ganha a simpatia do espectador e dispara bordões que já nascem candidatos a cult ("Machete don't text", demonstrando sua falta de habilidade em mandar mensagens SMS via celular, é um deles). A interpretação à la ícones do cinema B (sempre reverenciado por Rodriguez em sua filmografia), como Charles Bronson e Chuck Norris, também provoca empatia imediata com o matador.

Acho que o diretor criou o primeiro filme "Mexploitation" misturando muito bem o gênero "Blaxploitation" dos anos 70 e trocando o foco para os mexicanos e hispânicos em geral. Posso dizer que Rodriguez acabou fazendo algo acima da média pois, além de não levar o filme muito a sério, fazendo uma enorme caricatura de mexicanos, americanos radicais, traficantes, policiais caipiras, mulheres policiais e mulheres fatais, ele conseguiu ser econômico e objetivo ao longo de toda a película, sem enrolar demais a estória.

Danny Trejo sempre foi um personagem coadjuvante do coadjuvante mas seu rosto marcante (ou seria "marcado"?) o alçou a uma espécie de status cult. Em Machete, ele é protagonista pela primeira vez e não desaponta. Mas que fique claro: não desapontar significa não atuar. Suas expressões faciais são de "psicopata" e "mais psicopata" somente. Ele é o total estereótipo do mexicano durão, imortal e assassino, que não se importa em estripar para alcançar seus objetivos. E é exatamente isso que se deve esperar desse filme.

Assim como Stallone fez em Os Mercenários, comparação inevitável, Rodriguez conseguiu juntar um impressionante elenco. Mas, diferentemente de Stallone, os grandes nomes de Rodriguez fazem muito mais que meras pontas de segundos. Vamos começar com ninguém menos que Rober De Niro. Ele faz o papel do Senador John McLaughlin, figura central à trama do filme. Ele é um senador de ultra-direita em campanha de re-eleição cuja plataforma é o fechamento total da fronteira dos EUA com o México. No outro lado da fronteira temos Steven Seagal como um barão das drogas chamado Torrez e inimigo mortal de Machete.

E não acaba aí. Temos ainda Don "Miami Vice" Johnson como um xerife caipira, Cheech Marin como um padre amigo de Machete e Jeff Fahey como Michael Booth, que contrata Machete para matar o senador, desencadeando a ação do filme.

Mas deixei o melhor para último: temos a estonteante Michelle Rodriguez no papel da revolucionária Luz, a bela mas nada mais do que isso Jessica Alba como uma policial de imigração de ascendência mexicana chamada Sartana Rivera (nome ótimo) e a completamente alucinada Lindsay Lohan, basicamente no papel dela mesmo, como April, filha de Booth. Posso dizer que Machete "passa o rodo" e das maneiras mais incríveis, sendo o ápice a cena com April (e June) na piscina.

Com frases como "Nós não cruzamos a fronteira. A fronteira é que nos cruzou.", Rodriguez dá o tom de paródia sem perder o ritmo. Determinadas cenas do filme, como a já antológica cena do intestino, faz a experiência de "ir ao cinema" valer a pena. A platéia foi abaixo, urrando e batendo palmas.

Mas é Danny Trejo quem rouba a cena em todas as suas aparições no filme. Bronco e extremamente à vontade no papel, o ator tem tudo para se tornar um hit do gênero. E "Machete" termina deixando clara a intenção de seus idealizadores em levar o Trejo de volta às telas na pele do personagem em mais um par de vezes. Os títulos até já existem: "Machete kills" e "Machete kills again".

O grande defeito do filme é que a segunda metade é bem inferior à primeira. Rodriguez ainda tinha muitas pontas soltas para amarrar e resolver correr com a resolução. Acabou se apressando demais. Mas a primeira parte é tão boa que já coloca o filme em um patamar acima da média de filmes de ação tresloucados.

NOTA 4 ÓTIMO