terça-feira, 17 de agosto de 2010

" A ÚLTIMA MÚSICA"


Nicholas Sparks está ficando acostumado com as adaptações de seus romances para as telonas do cinema. Depois dos sucessos de Um Amor para Recordar (2002), Diário de uma Paixão (2004) e Querido John (2010), agora é a vez deste A Última Música, filme estilo sessão da tarde com aquelas batidas doses de lição de moral (prepare seu lenço, pois algumas lágrimas furtivas poderão vir a rolar) e com uma personagem principal chata como sua intérprete (a musa teen Miley Hannah Montana Cyrus), mas que é salvo pelas brilhantes atuações do pequeno Bobby Coleman e do sempre competente e eterno coadjuvante Greg Kinnear, de Melhor é Impossível (1997) e Pequena Miss Sunshine (2006).

Alguns atores, quando em início de carreira, tomam decisões artisticamente erradas. Uma atitude comum, já que no princípio o essencial é ganhar alguma visibilidade para, assim, ter o direito de optar por bons papéis. Miley Cyrus não está em início de carreira. Seu rosto e sua voz já estão mundialmente conhecidos entre o público teen e a indústria do entretenimento por conta do seriado Hannah Montana. Se formos considerar A Última Música sua primeira passagem real pelo cinema (este “se” é para lembrarmos que um dia houve o filme da telessérie que a tornou famosa), de mau gosto por personagens a atriz também não pode ser acusada. O que não significa, no entanto, que Cyrus esteja pronta; algo que, por sua vez, não queira dizer que o filme seja uma má ideia.


Na história, Miley Cyrus é Ronnie, uma adolescente com alguns problemas que, junto de seu irmão, vai passar o verão com o pai (Greg Kinnear – confortável em cena); este, divorciado da mãe dos garotos. Lá, ela precisa redescobrir os seus valores e “aturar” o amor de um pai que se arrepende amargamente de tê-los deixado. Uma narrativa cuja sinopse não poderia sugerir um sabor diferente do popular água-com-açúcar.


Escrito sob a fórmula básica de um drama fresco e leve (do tipo que até pode ser exibido naSessão da Tarde), A Última Música mescla acontecimentos típicos de roteiros pensados para gerar na tela um conflito familiar entre pais e filhos com as idas e vindas de um romance adolescente com final premeditado. Um ato considerável falho no trabalho com o roteiro, uma vez que compromete parte do desenvolvimento da história por toda a primeira metade do filme. Por vezes, um ou outro acontecimento se insere abruptamente para dar mais energia à trama, mas as conclusões rápidas destes percalços lhes dão ar de minoridades, se elegendo como subtramas que não tiveram fôlego nem para passar do primeiro estágio. Ao menos, poderiam servir como bons nós para fortalecer as ligações entre os personagens envolvidos, caso não fossem sempre direcionados para o casal formado por Miley e Liam Hemsworth que, à certa altura do campeonato, já estavam mais do que solidificados para a plateia.


Com toda uma proposta que indica total indisposição para mudar no futuro, A Última Música evolui e, se atentarmos para os seus motivos, até consegue um álibi para justificar o fraco – ou inexistente – desenvolvimento da primeira metade de projeção (ainda que não seja arrastada ou cansativa). Oras, Miley Cyrus não teria qualquer motivo para protagonizar um drama que não fosse chamar para os cinemas suas fãs adolescentes, cuja faixa etária geralmente não decola dos 13 anos. E, sendo fato consumado que este não é o gênero preferido por esta parcela do público, o mais adequado seria ganhá-lo, fazendo o possível para ele se sentir familiarizado nos primeiros passos da história. O que é devidamente posto em prática. Entram as birras com o pai, o galã descamisado pronto para se apaixonar pela garota novata e esquisita e um andar sempre cabisbaixo e autoprotetor. Conseguiu fazer a relação? As jovens sentadas diante da tela também. Nisto, estão prontas para absorver o que vem em seguida.


Mesmo com as escolhas da direção de Julie Anne Robinson para aliviar a carga emocional em momentos mais duros – para preservar o público a que se destina o filme –, que para os olhares mais exigentes podem significar verdadeiros escorregões, a trama ganha certa densidade. Pequena, mas ainda assim presente. Uma tropeçada apenas para Miley, que se destaca do restante do elenco por sua atuação oscilante. Firme em cenas leves ou em que precisa transmitir a frieza da personagem, a jovem não consegue atingir o grau de emoção necessário para fazer de suas lágrimas menos artificiais, demonstrando uma insegurança que não deve existir (a atriz já declarou estar ciente disto, o que é um ótimo começo). Aliás, a veia mais pulsante neste quesito é bombada pelo pequeno Bobby Coleman, o irmão caçula de Ronnie, muito mais desenvolto e preciso do que o casal principal, se somadas as suas capacidades.


Se A Última Música tem algum grande mérito – e realmente tem – ele não se ilustra em seu roteiro ou na maneira como ele é guiado e interpretado, mas sim no tema sugerido e nos valores plantados ao longo da história, que espelham aquilo que está presente (ou ao menos deveria) fora das telas. É insosso? É. Carente de apuro artístico? A julgar pelos atrativos comerciais em destaque, sem dúvida. Mas é um excelente exemplo de amor saudável, do tipo que não exige provações esdrúxulas e tampouco sustenta sacrifícios de estima e personalidade para concretizar uma relação. O filme consegue equilibrar bem momentos cômicos, românticos e dramáticos. Uma gama variada de emoções passará pelos corações da plateia, mas é bom ter em mente que A Última Música é mais uma adaptação da obra do escritor Nicholas Sparks (Querido John). Essa é a primeira vez que o Manuel Carlos dos best-sellers estadunidenses se envolve ativamente na adapatação de um de seus livros para o cinema. Como é de se esperar, o final dramático e lacrimoso está lá para que seus fãs apreciarem.

NOTA 3 BOM