sexta-feira, 13 de agosto de 2010

" O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA"



Eu gostaria de ter participado dos testes para a escolha do elenco desta refilmagem de O Massacre da Serra Elétrica. Não como candidato, claro, mas como observador. Explico: considerando-se as “habilidades” exibidas pela protagonista, o processo de seleção deve ter avaliado apenas três características: o fôlego da atriz (já que esta passa a maior parte da projeção correndo); seu alcance vocal (os gritos são ainda mais freqüentes que as corridas); e o mais importante – seu corpo. Afinal, a partir de certo momento, o filme parece se converter em uma espécie de concurso “Garota Molhada”, já que Jessica Biel, com uma blusinha branca e justa, é submetida a “banhos” constantes, em determinada cena, o vilão chega a ativar vários extintores de incêndio sem qualquer motivo aparente, a não ser, é claro, o de encharcar a moça, cuja roupa já estava quase seca.

Neste aspecto, O Massacre da Serra Elétrica é um filme brilhante: o corpo de Biel é realmente arrebatador. Pena que, do ponto de vista narrativo, esta refilmagem seja um fracasso retumbante, já que, além não gerar tensão alguma no espectador, ainda torna-se enfadonha a partir de sua metade, limitando-se a acompanhar a perseguição chatíssima protagonizada pelo sádico Leatherface e sua atraente vítima. Contribuindo para a monotonia do longa vem o fato de que seus personagens se resumem aos tipos habituais do gênero: a mocinha ajuizada que não curte drogas e bebidas (ao menos, não tanto quanto os companheiros); o sujeito que não abre mão do baseado; o engraçadinho que insiste em fazer piadinhas sem a menor graça; a garota que só pensa em sexo; e assim por diante. Durante uma viagem, o grupo quase atropela uma jovem que, abalada por algum motivo, entra no veículo apenas para se matar minutos depois. Enquanto tentam relatar o episódio às autoridades locais, os heróis vão parar num casarão assustador e passam a ser perseguidos por uma figura deformada que usa, como arma, uma ameaçadora... (um doce para quem adivinhar).

Assim como ocorria no original, dirigido por Tobe Hooper em 1974, esta nova versão conta com uma narração inicial, que explica tratar-se de uma história “baseada em fatos reais” (o ideal seria levemente – muito levemente – inspirada). Porém, enquanto o filme de Hooper investia numa exposição gradual da situação assustadora vivida pelos protagonistas (e a relação entre estes), aqui o estreante Marcus Nispel parte direto para a ação, investindo pouquíssimo no desenvolvimento dos personagens (a não ser que você considere um anel de casamento como sendo um elemento dramático, e não um clichê preguiçoso). Concentrando-se na mocinha cuja blusa permanece sempre amarrada na altura do umbigo (que nó resistente, aquele!), Nispel não tem a menor paciência para executar uma tarefa fundamental: apresentar a doentia família Hewitt (Sawyer, na primeira versão) ao público.

Encarando Leatherface e seus parentes como uma mera desculpa para dirigir cenas violentas, o diretor parece ignorar que um dos pontos fortes do original residia justamente na revelação assustadora do grau de insanidade dos Hewitt. Até mesmo a direção de arte desta refilmagem abandona a inventividade e, assim, no lugar dos móveis feitos de ossos humanos temos apenas uma casa invadida por porcos e pela sujeira. Já a inesquecível (e incômoda) cena do jantar cede espaço a uma explicação rasa sobre o passado de Leatherface feita por duas mulheres que residem em um trailer.

O resultado é óbvio: quando vemos Leatherface correndo atrás da mocinha com sua barulhenta serra elétrica, não sabemos o bastante sobre o vilão para realmente temê-lo; percebemos apenas que se trata de um sujeito grandalhão e desajeitado cuja família é claramente problemática. Assim, é quase impossível, para o público, deixar de rir com a longa perseguição, que soa excessivamente absurda. Da mesma forma, por mais bela que seja, Jessica Biel jamais consegue transmitir o pânico exibido pela ótima Marilyn Burns no longa de 74.

Marcus Nispel, por sua vez, comete o erro básico de todo diretor estreante e procura exibir sua invencionice por trás das câmeras, chegando a incluir um plano no qual a câmera passa por um buraco de bala na cabeça de um personagem – um movimento que, além de não apresentar justificativa narrativa, ainda diminui o impacto da cena ao escancarar a artificialidade do boneco utilizado para substituir a vítima em questão. E, afinal de contas, por que o diretor utiliza uma iconografia obviamente religiosa ao compor o quadro em que um rapaz aparece pendurado de braços abertos, como num crucifixo, enquanto uma garota ajoelha-se aos seus pés molhados de sangue? Sem possuir significado espiritual algum, este plano soa como uma tentativa barata (e mal-sucedida) de conferir profundidade a um filme raso como um pires.

Empregando uma montagem que se torna frenética e confusa sempre que o vilão se aproxima de suas vítimas, este novo O Massacre da Serra Elétrica é uma triste sombra da versão original.

NOTA 2 REGULAR